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Saúde
Domingo - 13 de Março de 2011 às 10:39
Por: Caroline Rodrigues

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Secretário reafirma projeto de contratar Organizações Sociais e diz que briga dos profissionais é apenas por salário
Secretário reafirma projeto de contratar Organizações Sociais e diz que briga dos profissionais é apenas por salário

Nove mil, oitocentos e seis pacientes esperam por uma cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) em Mato Grosso. Nos últimos meses, os procedimentos foram reduzidos devido à falta de leitos na rede conveniada, principalmente em Cuiabá. Com a greve dos médicos e servidores da Saúde estadual, a lentidão da fila será ampliada. Enquanto não há solução, as pessoas passam pelo agravamento da doença e acabam voltando para os hospitais, mas em condição de emergência. Em alguns casos, morrem antes de conseguir a assistência.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Arlan de Azevedo, afirma que mais de mil pessoas esperam por um exame de biopsia no Estado. Há casos de solicitação de 2008. Sem diagnóstico, um câncer que podia ser curado, acaba expandindo e gerando a morte ou mutilação do doente.

Conforme Azevedo, o exame é feito na rede conveniada, mas é "conveniente para o sistema" pagar o dobro com quimioterapia e radioterapia, que são disponíveis, ao invés de curar com procedimento cirúrgico e poucas sessões.

Para ele, todas as "mazelas" do sistema de saúde apareceram após o fechamento do Pronto-Socorro de Várzea Grande. Todos atendimentos de urgência e emergência foram transferidos para Cuiabá, que não tem condições de assumir. O resultado, conforme Azevedo, é pessoas nos corredores e "mendigando" assistência no PS de Cuiabá.

Ele analisa que a situação da unidade ficou em evidência devido à quantidade de denúncia de mortes pela falta de atendimento. Mas, o que não tem como mensurar é a quantia de pessoas que acaba morrendo por falta de cirurgia.

As equipes de urgência e emergência do PS passaram a operar mais e não havia lugar para receber os pacientes durante o período de observação nas enfermarias. Então, eles foram transferidos para rede conveniadas, que atenderam a demanda de leitos de retaguarda.

A consequência da ação foi a redução das cirurgias eletivas e o aumento do risco de infecção, explica Azevedo. Com a capacidade de lotação máxima, a lavanderia e a cozinha têm dificuldade em atender a demanda e fazer todas a desinfecção necessária. Outro ponto é a limpeza das enfermeiras, que fica comprometida com a circulação de um grande número de pessoas.

O presidente do CRM acredita que o "caos" foi gerado pela carência de investimentos em Saúde, que não acompanhou o aumento da população. Ele argumenta que a falta de leitos de retaguarda foi diagnosticada há 5 anos e nenhuma providência foi tomada pelo Estado.

Projetos como a construção do Hospital da Mulher e da Criança, do Hospital Regional e da reativação dos antigos hospitais particulares São Thomé e Modelo ficaram apenas no anúncio, lembra Azevedo.

Interior - Em Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá), por exemplo, existem pessoas aguardando cirurgia ortopédica desde 2006. Na cidade, dados da Secretaria Municipal de Saúde, revelam que mais de 500 pessoas aguardam ser reguladas para algum tipo de procedimento pelo SUS.

Para o secretário de Saúde de Sorriso, Edmilson Oliveira, o atraso traz prejuízos para o paciente, que tem a condição agravada. Outro problema é o custo, já que a espera é mais cara do que a cirurgia. Ele relata que o paciente continua recebendo o atendimento da rede básica, que é responsabilidade do município, e consumindo medicamentos. A pessoa também acaba afastada do trabalho e recebendo benefício do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Em Cáceres (225 km a oeste de Cuiabá), muitos pacientes continuam dentro do Hospital Regional, aguardando pela cirurgia. O vaqueiro Mateus Assunção da Silva, 32, está há 1 mês no local. Ele precisa de uma cirurgia no joelho e no braço esquerdo, que foram fraturados em um atropelamento.

O paciente tem grande dificuldade de locomoção e não sabe o que fazer. Os médicos, segundo ele, nem sequer aparecem para dar informações. Enquanto isto, fica sem saber como agir e preocupado com a situação da família, que conta com o salário dele para sobreviver.

Mateus disse que os parentes foram informados que a solução seria resolvida apenas com a intervenção do Ministério Público. Eles procuraram a instituição e esperam que o procedimento seja marcado.

O técnico de informática, Cliverlan da Silva Souza, 28, está na mesma enfermaria e também espera por cirurgia. Ele teve a perna fraturada em 2 pontos depois de cair de moto. O acidente aconteceu no começo do mês e não há previsão de agendamento do procedimento.

Capital - Um dos obstáculos para realização dos procedimentos é a falta de leitos. Em Cuiabá, os estabelecimentos conveniados estão lotados. No Hospital Santa Helena, por exemplo, 95% das vagas estão ocupadas. As 5% restantes são reservadas para casos de emergência.

O médico Marcelo Sandrin, diretor do hospital, assegura que a estrutura física, bem como as equipes, trabalham no limite. Caso precise fazer um reparo de emergência em uma das enfermarias, não tem local para transferir pacientes.

Sandrin relata que já teve casos de pacientes ficarem até 48 horas dentro do centro cirúrgico porque não há leitos disponíveis. Na semana passada, 5 mulheres tiveram filhos e precisaram ficar sentadas em uma cadeira após o parto por várias horas.

Greve - Os médicos e servidores estaduais da Saúde estão em greve. Eles pedem a implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a não transferência da administração dos Hospitais para Organizações Sociais (OS).

Outro lado - O secretário de Estado de Saúde (SES), Pedro Henry, contesta os dados de pacientes que esperam cirurgia. Diz que, devido a demora, cerca de 30% não precisam mais do procedimento porque já procuraram "outros meios", como a assistência privada. O secretário diz que foram assinados convênios este ano para construção de mais 200 leitos só na Capital e relata que está há 3 meses na gestão e já deu encaminhamento para várias ações, que resultarão na solução do problema na saúde.

Henry defende as OS na administração porque elas vão reduzir os custos do Estado com procedimentos médicos. Assegura que a greve dos servidores é por salário e não tem nada haver com as OS. "Eles aceitam a implantação, mas tem que ter a implantação do PCCV".

O plano proposto, conforme o secretário, faz com que o médico receba salário de 40h, trabalhando 20h. Caso os valores sejam pagos, Henry alega que não há condições financeiras de contratar pessoas para ativar o Hospital Metropolitano, em Várzea Grande.

Quanto as cirurgias eletivas, ele diz que a categoria vai continuar fazendo os 30%, mas que não haverá nenhuma alteração para o paciente, já que a produtividade das equipes era mínima.

Capital - O secretário de Saúde de Cuiabá, Maurélio Ribeiro, disse que o sistema de saúde está um verdadeiro colapso. Os leitos existentes são suficientes para atender a demanda de Cuiabá. O problema é que com a falta de atendimento no interior e, principalmente, no PS de Várzea Grande, todos os leitos ficaram superlotados.

Ele argumenta que não há condições financeiras e nem físicas do município assumir todos os casos e que a SMS vai fazer um apelo ao Estado e também às entidades para suspender a greve.





Fonte: A Gazeta

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