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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quinta - 10 de Março de 2011 às 22:00

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O jornalista Andrei Netto, um dos enviados do jornal "O Estado de S. Paulo" à Líbia, foi solto hoje após oito dias sem fazer contato. A mulher dele, a repórter Lúcia Müzell Jardim, contou à Folha que o marido sofreu atos de violência ao ser preso pelo regime do ditador Muammar Gaddafi. Segundo ela, quando deixar o país, o jornalista voltará à França, onde é correspondente do jornal brasileiro.

Lúcia Jardim relatou que Netto foi encapuzado e levou ao menos uma coronhada na prisão líbia.

De acordo com informações repassadas ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pelo embaixador da Líbia no Brasil, Salem Omar Abdullah Al Zubaidi, o jornalista, já se encontra em liberdade. Netto está na casa do embaixador brasileiro George Ney Fernandes, de onde deve sair diretamente para o aeroporto da capital líbia num voo para Paris amanhã de manhã.

Quanto à saída de Netto daquele país, a brasileira disse que o marido contou ter recebido um "convite oficial para retirar-se da Líbia". "A expectativa é de que ele consiga embarcar no voo para Paris que sai na sexta de manhã, se não é possível que chegue somente no sábado", disse.

Em entrevista à jornalista da rede Eldorado Camila Tuchlinski e ao editor de Internacional do jornal, Roberto Lameirinhas, Netto se disse aliviado por "sentir o vento soprando no rosto pela primeira vez em oito dias".

"DIAS TERRÍVEIS"

Lúcia contou ter vivido "os dias mais terríveis" de sua vida, sem saber se Netto estava vivo ou morto.

"A última vez que ele tinha me ligado foi na quarta-feira (2) à noite. Depois disso, não soube mais nada dele. Li o relato do Marcelo Ninio [enviado da Folha à Trípoli], sobre a queda de uma bomba a pouco mais de 100 metros dele, e aquilo me deixou apavorada", disse.

Desde então ela tentava contato, sem sucesso, com a Embaixada do Brasil em Trípoli. "Eles estão bloqueando as ligações da França para lá, não conseguia completar a chamada, estava muito difícil", conta.

Até que, horas atrás, ouviu do embaixador brasileiro na Líbia, George Ney Fernandes, o que esperou durante oito dias de agonia: "Lúcia, estou trazendo teu marido".

A jornalista gaúcha vive com o marido em Paris, onde trabalha como freelancer para organizações de mídia como a estatal Radio France International.

DESAPARECIDO

O jornal "O Estado de S. Paulo" havia perdido contato há uma semana com o jornalista, que estava no oeste do país cobrindo os conflitos. O jornal informou que, até domingo, recebia informações indiretas de que o repórter estava bem, escondido na região de Zawiya, sem poder se comunicar com o jornal por razões de segurança.

Nesta quarta-feira, o "Estado" recebeu indicações de que Netto tinha sido preso por tropas do governo perto de Zawiya.

"O que o embaixador me disse é que ele [Netto] e o jornalista do "The Guardian", Ghaith Abdul, foram presos porque entraram na Líbia sem o devido visto para trabalharem como jornalistas. Ele [Netto] prefere não ficar na Líbia e sairá do país amanhã", disse o senador.

Suplicy afirmou que o embaixador não forneceu detalhes sobre o estado de saúde de Netto, mas disse acreditar que o brasileiro esteja bem. "Acho que ele está bem, já está livre e resolveu sair da Líbia."

O senador havia falado mais cedo com o embaixador, que havia anunciado que a libertação do jornalista brasileiro ocorreria ainda hoje. A Comissão de Direitos Humanos do Senado enviou ofício à Embaixada da Líbia no Brasil em protesto contra a prisão do jornalista.

Os senadores também encaminharam moção de apoio ao governo de São Paulo com manifestações de indignação pelo ocorrido.

OUTROS JORNALISTAS

Netto viajava com Abdul-Ahad, repórter de cidadania iraquiana do "Guardian", que nesta quinta-feira confirmou que está tentado localizar o correspondente.

A publicação disse, em sua página na internet, que o repórter --que trabalha no jornal britânico desde 2004 e já foi enviado ao Iraque e ao Afeganistão-- não entra em contato com o jornal desde domingo.

Os dois jornalistas estavam nos arredores de Zawiyah, uma cidade controlada por rebeldes a aproximadamente 50 quilômetros a oeste da capital Trípoli e local de violentos confrontos nos últimos dias entre insurgentes e forças leais a Muammar Gaddafi.

"O Guardian está em contato com autoridades do governo líbio em Trípoli e em Londres e pediu a eles que preste urgentemente toda a assistência na busca de Abdul-Ahad e determine se ele está detido pelas autoridades", disse o jornal.

Na quarta-feira, a BBC disse que uma de suas equipes foi detida pelas forças de segurança da Líbia, agredida e sujeita a uma falsa execução depois que seus membros foram detidos em um posto de controle no caminho à Zawiya.

Os três integrantes da equipe foram acusados de espionagem e suas vidas foram ameaçadas durante 21 horas enquanto eram mantidos por soldados e a polícia secreta leais ao líder líbio, segundo o jornal.

O governo líbio tem restringido o deslocamento de jornalistas estrangeiros em Trípoli e determinou que devem viajar acompanhados por autoridades.






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