Líder de quadrilha era escrivão e prejudicou investigação
O grileiro Antônio Paulo de Oliveira, mais conhecido como Pachola, era um dos líderes do esquema de grilagem e comercialização ilegal de créditos de madeira na região Norte de Mato Grosso, era servidor da Prefeitura de União do Sul (719 km de Cuiabá) e foi nomeado como escrivão “ad hoc” temporariamente da Delegacia da cidade, em 2007, justamente no período em que ocorreram as invasões na fazenda Moreira e as investigações foram prejudicadas devido sua influência no inquérito.
“O delegado que ficava em outro município confiou no trabalho da polícia de União do Sul, mas o Pachola era o escrivão na época das invasões e apesar das investigações que ocorreram eram feitas pelo próprio Pachola”, declarou o delegado Carlos Fernando Cunha, da Delegacia de Meio Ambiente (Dema).
Pachola é apontado como articulador do esquema e autor da grilagem de terras. A fazenda Moreira, de propriedade de Henrique Beneck, foi invadida a mando de Antônio Paulo e em meio ao processo de grilagem o dono da estância veio a falecer, facilitando o esquema da quadrilha.
Sendo assim, vários documentos foram falsificados com a ajuda do tabelião de Peixoto de Azevedo, Antônio Guedes Ferreira, e as terras foram regularizadas pelo Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat) em nome de Rodrigo Lara Moreira, enteado de Pachola e testa de ferro da quadrilha.
Depois de conseguir a posse da fazenda, Pachola com ajuda de Jackson Monteiro de Medeiros, fiscal da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), obteve o Projeto de Exploração Florestal. No entanto, apesar de constar no laudo do fiscal cerca de 20 mil m³ de madeira a serem exploradas, mas a terra já havia sido desmatada pelo proprietário anterior e sequer possuía madeira de valor.
Depois de aprovado o plano de exploração, a quadrilha conseguiu a inserção virtual de 20 mil metros cúbicos de toras no CCSema - Cadastro de Consumidores de Recursos Florestais. Com os créditos virtuais, eles vendiam notas que “esquentavam” madeiras retiradas de forma irregular de outras áreas.
De acordo com o delegado Carlos Henrique, outro líder do esquema seria Gilmar Aliberte, proprietário de uma madeireira em Sinop, e responsável por comercializar de créditos florestais da Fazenda Moreira e ainda pode ter ajudado na falsificação de documentos.
Aliberte já responde a outros processos na região e também foi beneficiado com os créditos, utilizados pela sua empresa.
As investigações iniciaram há nove meses quando a Polícia Federal encaminhou uma denúncia à delegacia de Sinop. O delegado Luiz Henrique começou as diligências e constatou os crimes, diante do envolvimento de servidores, a Delegacia de Meio Ambiente atuou em parceria, que resultou na deflagração da Operação São Tomé, na manhã desta quinta-feira (10).
Foram expedidos 18 mandados de prisão temporária e 20 mandados de busca e apreensão realizados em órgãos públicos e nas residências de alguns envolvidos. Ao todos, até o momento, foram presos 15 envolvidos e três estão foragidos, dentre eles, o enteado de Pachola, Rodrigo Lara Moreira. Além de Rodrigo, João Batista da Silva e Idevan Fernandes também são procurados da polícia. Ambos ajudaram na invasão da fazenda Moreira e na grilagem das terras.
Pachola e Gilmar estão presos, além do tabelião Antônio Guedes e o fiscal da Sema, Jackson Monteiro, que também foi preso na Operação Guilhotina, em 2007, mas ainda pertence ao quadro de funcionários da pasta.
Roselayne Laura da Silva Oliveira, ex-servidora da Sema, foi presa em Cuiabá e é acusada de ter aprovado o Plano de Exploração Florestal, mesmo com forte indícios de irregularidades no processo administrativa e deverá responder pelo crime corrupção passiva.
Na capital, também foram presos João Variano da Silva e Clayton Aguiar de Figueiredo. Ambos são agrimensores e teriam falsificado o mapeamento das áreas visando à grilagem de terras.
Em Várzea Grande, foi preso o engenheiro florestal Péricles Pereira Sena, acusado de fraudar o Plano de Exploração Florestal.
Comentários