WikiLeaks: filho de Kadafi recebia participação de jazida
Seif Al Islam, um dos filhos do dirigente líbio Muamar Kadafi, tem interesses em uma jazida petrolífera explorada pelo grupo francês Total, segundo nota diplomática americana obtida pelo site WikiLeaks e publicado nesta quinta-feira pelo jornal norueguês Aftenposten.
Em telegrama de 4 de junho de 2009, a embaixada dos Estados Unidos em Trípoli falou de um acordo entre o consórcio formado pela Total e o alemão Wintershall de um lado, e o grupo petroleiro estatal líbio NOC de outro, com vistas a dar a ele uma participação crescente em duas jazidas, uma em Mabruk e outra em Al Jurf.
"Um corolário potencialmente interessante é que Al Jurf é, aparentemente, um campo no qual Seif Al-Islam (...) obtém regularmente direitos de bombeamento, que vende para financiar diferentes atividades", pode-se ler em um telegrama divulgado pelo Wikileaks, publicado pelo jornal Aftenposten em sua página na internet. Embora desconheça se este direito procedia da quota do NOC ou dos sócios estrangeiros, a embaixada acrescentou que a redistribuição poderia socavar os meios financeiros a disposição de Seif Al Islam, então considerado um reformista na Líbia.
"Seif tem relações estreitas com as personalidades francesas importantes do mundo político e de negócios", indicou o telegrama. "Se sua parte procede da Total (que acabava de ser reduzida, ndr), poderia ver seus direitos de bombeamento reduzidos e registrar uma baixa equivalente em sua conta no banco", acrescentou a nota.
Segundo o site na internet da Total, a produção de petróleo no acampamento de Al Jurf era de 31 mil barris equivalentes de petróleo diários em 2009. Aftenposten, jornal de referência na Noruega, diz ter obtido no ano passado de forma confidencial a totalidade dos 250 mil documentos diplomáticos em posse do WikiLeaks.
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.
Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.
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