Governo vai realizar mutirão para ampliar índice de vacinação contra a aftosa

O Governo do Estado, por meio do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso (Seder) irá desencadear um verdadeiro mutirão de conscientização dos pecuaristas mato-grossenses para elevar o índice de imunização do rebanho de 24.740.204 cabeças de gado, a partir de novembro. O índice da etapa de maio da Campanha de Vacinação contra a Febre Aftosa (a segunda do ano), divulgado pelo Indea, na manhã desta segunda-feira (05.07), é 1% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado. Foram vacinadas em maio deste ano, 10.111.744 cabeças de gado, na faixa-etária de 0 a 24 meses, que representa 97,30 do total de 10.391.977.

Paralelo ao processo de conscientização, ações simultâneas já estão em andamento para garantir o mercado internacional conquistado pelo Estado: a articulação para obter recursos do Governo Federal para a defesa sanitária animal, em caráter emergencial, e a elaboração do documento técnico com informações que embasam a sanidade animal do rebanho e a eficiência do trabalho de defesa realizado pelo Indea, em parceria com os produtores e frigoríficos de Mato Grosso.

“Estamos montando a estratégia para realizar o processo de conscientização em todo o Estado nos próximos 90 dias. Vamos visitar os municípios da Baixada Cuiabana e todo o Estado para estimular os Comitês Municipais de Erradicação da Febre Aftosa, os produtores nos assentamentos e elevar o índice de vacinação”, assegurou o secretário de Desenvolvimento Rural, Homero Pereira. Por outro lado, segundo Pereira, Mato Grosso vai encaminhar o documento técnico ao Governo da Rússia para provocar a visita de uma missão técnica daquele país, que irá constatar o trabalho de defesa sanitária animal em território mato-grossense.

“Queremos mostrar aos russos como funciona a nossa inspeção animal, a vigilância e fiscalização nas barreiras sanitárias. O Estado é reconhecido como área livre de febre aftosa com vacinação pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), nossa ajuda à Bolívia e aos Estados vizinhos no combate. Temos que agir rápido para não sermos prejudicados ainda mais prejudicados”, alertou o secretário de Desenvolvimento Rural.

Nesta segunda-feira o Governo da Argentina suspendeu o embargo à carne brasileira, inclusive a de Mato Grosso.

LIBERAÇÃO DE RECURSOS - Para o delegado federal de Agricultura em Mato Grosso (DFA/MT), Paulo Bilégo, o Governo Federal tem que reconhecer a situação emergencial do Estado para que a liberação de recursos possa acontecer neste período eleitoral. O repasse de recursos públicos está proibido desde o dia 3 de junho. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou que, a partir desta segunda-feira (05.07), estarão à disposição recursos para reforçar o controle e o combate às principais pragas e doenças que ameaçam a agropecuário brasileira, como febre aftosa, ferrugem da soja, sigatoka negra, mosca da carambola, newcastle, influenza aviária, mal da “vaca louca”, entre outras. Além disso, os recursos serão usados para aumentar a inocuidade dos alimentos e para ampliar a vigilância agropecuária em portos, aeroportos e postos de fronteira em todo o país. Ao todo serão liberados R$ 44 milhões.

Falta dinheiro para o setor em todo o país, mas se Mato Grosso conseguir driblar os entraves burocráticos, o Governo Maggi pode assegurar a liberação imediata de R$ 1,4 milhão já reivindicado pelo Indea ao Mapa, e outros R$ 10 milhões até o final do ano. A redução de investimentos do Governo Federal na área de defesa sanitária tem sido bastante criticada pelo secretário de Desenvolvimento Rural, que reconhece o empenho do ministro da pasta, Roberto Rodrigues, sem sucesso, diante da insensibilidade da equipe econômica do Governo Lula. “Se houver algum incidente, o Governo Federal terá sua parcela de culpa, apesar de todo o esforço em viabilizar recursos que o ministro tem feito”, reforçou Pereira.

INVESTIMENTOS - De acordo com o presidente do Indea, Décio Coutinho, a demanda da defesa sanitária, somando o investimento do Estado e da União, é de R$ 40 milhões por ano. O Governo do Estado em 2004, irá disponibilizar R$ 28 milhões para o combate a febre aftosa, mas ainda falta a contrapartida do Governo Federal que este ano não repassou nada para Mato Grosso. “Estamos correndo atrás dos recursos. O governo do Estados e os produtores estão fazendo à sua parte, falta o Governo Federal”, constatou o presidente do Indea. Segundo Coutinho, historicamente, o Estado recebia de repasses da União em torno de R$ 3 milhões. Em 2002, não foi feito nenhum repasse no ano passado, o Mapa liberou menos da metade da média histórica, foram apenas R$ 1,373 milhão. “Todo mundo vai ter que investir”, reconhecem os parceiros no combate à febre aftosa. O Governo Maggi irá disponibilizar mais 22 novos veículos para a fiscalização nos postos do Indea na fronteira de Mato Grosso.

A preocupação é grande considerando, não só a situação no Pará, que causou o embargo da Rússia à carne produzida em Mato Grosso. O aumento do rebanho bovino no Estado em regiões de difícil acesso com a Ilha do Bananal reforça o alerta das instituições públicas e privadas envolvidas no combate à doença. Na Ilha do Bananal o Indea já computou a entrada de mais 44 mil animais este ano. “Diante de situações como esta estamos implementando o posto de Fiscalização em Colniza (1044 km de Cuiabá) para atuar no monitoramento do fluxo de animais. Nossa ação está acontecendo em regiões onde antes não havia trânsito de animais”, apontou Décio Coutinho.

O presidente do Fundo para a Erradicação da Febre Aftosa em Mato Grosso (Fefa), deputado Zeca de Ávila, disse estar muito preocupado com o volume de investimento no setor e revelou a redução do preço do boi por parte dos frigoríficos diante do caso de aftosa registrado no município de Monte Alegre, no Pará. “Estamos sofrendo os reflexos de uma situação que está a 700 km de distância da fronteira de Mato Grosso. Estou preocupado porque se a gente não se mexer o foco da doença não vai ficar lá em Monte Alegre. O problema lá fora (do Estado) é grande e se o nosso índice não subir, a situação será pior. Não dá para perder tempo”, reconheceu o presidente do Fefa.

ETAPA DE MAIO - O Indea divulgou que na etapa de maio da Campanha de Vacinação contra a Febre Aftosa foram vacinadas 10.111.744 cabeças de gado, na faixa-etária de 0 a 24 meses, que representa 97,30 do total de 10.391.977. Em nove das 10 regionais do Estado o índice de imunização foi menor do que no mesmo período em 2003. A região da Baixada Cuiabana é uma das que apresentam a maior queda, passou de 95,3% no ano passado para 89,94 em 2004. Na região de São Félix do Araguaia, o índice registrado deste ano também é motivo de alerta. Em 203, a região com mais de 870 mil cabeças de gado, deixou de imunizar mais de 30,5 mil animais, atingindo um índice de cobertura vacinal de 96,49%. Na região, o rebanho bovino teve um acréscimo, na faixa-etária de 0 a 24 meses de quase, 100 mil animais.

Para o presidente do Indea, o que resume a redução nos índices de vacinação em Mato Grosso é a “acomodação”. O mercado estabilizado, o Brasil como maior exportador de carne do mundo e os melhores índices de vacinação da história de Mato Grosso registrados em 2003, contribuíram para esta “falsa” tranqüilidade de que o pior já passou. O Indea, agora, trabalha para atingir os 100% de vacinação do rebanho que deveria ter sido vacinado, em maio, voluntariamente pelos produtores, de forma assistida, ou seja, os técnicos irão visitar todas as propriedades que ainda não comunicaram o procedimento e acompanhar a vacinação do rebanho, se for o caso.

A Seder, O Indea e a DFA, juntamente com o Sindicato dos Frigoríficos de Mato Grosso e os produtores de gado e suínos, estão discutindo os detalhes do documento técnico que será levado à Rússia pelo Governo Federal. A Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e a Associação de Criadores de Suínos do Estado também participaram da coletiva na Seder.