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Opinião
Sexta - 10 de Maio de 2024 às 00:16
Por: Renato de Paiva Pereira

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O Homo sapiens é muito ranzinza. Vive implicando com o vizinho ou parente, sempre achando que está sendo engambelado pelo outro. Embora tenha abandonado as recorrentes batalhas tribais, ainda preserva ranhetices e rivalidades comuns dos primatas, família a que pertencemos, embora muitos neguem esse parentesco.

Os comportamentos típicos dos bandos que viviam em constantes contendas, podem ser vistos, ainda que disfarçados com algum verniz civilizatório, no dia-a-dia das pessoas. O espírito de tribo agora se manifesta em ajuntamentos por classes sociais, categorias profissionais, comunidades religiosas, torcidas esportivas e outras tantas formas de se unirem por algum traço comum.

Dentro de cada grupo, os sapiens disputam entre si, mas se unem em bandos para atacarem outro ou defenderem-se deles, quando se sentem ameaçados.

O comportamento de uma torcida de futebol, por exemplo, quando atacando a rival, parece muito com o nosso parente próximo, o Chimpanzé, quando defende o território que habita ou tenta conquistar o reduto do bando adversário.


Também a atuação de grevistas atacando policiais e rebatidos por estes, lembra macacos confrontando-se em bandos, atirando objetos mutuamente com alarido, xingamentos e caretas.

A diferença é que os nossos primos primatas parecem mais práticos, pois brigam por sobrevivência, enquanto os humanos se estapeiam para provar que o Corinthians é melhor que o Palmeiras ou usam a força bruta onde o diálogo seria melhor.

Depois de tantos anos de civilização, não aprendemos ainda as vantagens da cooperação que beneficia a todos.

Cultivamos a preferência atávica pelo confronto e hostilização, embora tenhamos deixado de atirar paus e pedras uns nos outros, exceto nos protesto e nos jogos de futebol.

Disfarçadamente preservamos os antagonismos tribais. Os flamenguistas olham de esguelha os vascaínos; evangélicos não admiram os católicos; empresários dizem que os empregados são preguiçosos; estes garantem que os patrões são gananciosos e opressores.

Ainda: Os que trabalham na iniciativa privada afirmam que os funcionários públicos são desleixados e malandros; civis acusam os militares de violência e todos nós, quando perdemos uma causa na justiça, acusamos o juiz de corrupção ou incompetência.

Mas é possível melhorar. Se lembrarmos de que há pouco mais de cem anos incivilizadas tribos africanas capturavam e vendiam homens, mulheres e crianças como escravos dá pra ver que progredimos bastante.

Entretanto, não convém esquecer que as incivis tribos africanas vendiam os escravos aprisionados para os civilizadíssimos avós do teu avô e do meu também.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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