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Opinião
Domingo - 23 de Junho de 2024 às 00:07
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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O desejo é um elemento central na experiência humana, permeando as ações, pensamentos e emoções. Desde tempos imemoriais, filósofos e escritoretêm explorado as profundezas do desejo, buscando entender suas origens, suas manifestações e suas implicações.

Platão foi um dos primeiros filósofos a abordar o desejo de maneira sistemática. Em seu diálogo "O Banquete", apresenta o conceito de Eros, o desejo de alcançar a beleza e a verdade. Para ele, Eros não se limita ao desejo físico, mas se estende ao anseio pela sabedoria e pelo bem. O desejo platônico é uma força ascendente, que leva a alma a se elevar do mundano ao sublime, do corpóreo ao espiritual. Esse movimento ascendente do desejo reflete a busca humana pela completude e pela realização plena.

Freud, o pai da psicanálise, trouxe uma perspectiva diferente ao desejo. Ele o viu como uma força primordial, profundamente enraizada no inconsciente, moldando as ações e pensamentos de maneiras muitas vezes além da compreensão consciente. Em "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", Freud argumenta que o desejo sexual é uma das principais motivações do comportamento humano. Para ele, o desejo é tanto uma fonte de prazer quanto de conflito, pois os impulsos do id frequentemente entram em choque com as restrições do superego e da realidade externa.

Um dos principais representantes do existencialismo, Sartre oferece uma visão mais sombria do desejo. Em "O Ser e o Nada", descreve o desejo como uma manifestação da falta fundamental que caracteriza a existência humana. Para ele, o desejo surge da condição de seres incompletos, que buscam, incessantemente, por preenchimento. No entanto, Sartre vê o desejo como condenado ao fracasso, pois a sua realização inevitavelmente gera novos desejos, perpetuando um ciclo interminável de insatisfação. "O desejo é falta tornada consciência de si", afirma, sublinhando a intrínseca insaciabilidade do desejo humano.


No campo da literatura, Proust explora o desejo em sua obra monumental "Em Busca do Tempo Perdido". Ele retrata o desejo como uma força que tanto inspira quanto atormenta. Seus personagens são movidos por desejos profundos que, ao serem realizados, muitas vezes revelam a futilidade e a transitoriedade do que antes parecia essencial. Proust mostra que o desejo é uma força que pode levar a momentos de intensa beleza e percepção, mas também a abismos de decepção e melancolia.

Em "O Segundo Sexo", Simone de Beauvoir analisa o desejo sob a perspectiva de gênero, destacando como as estruturas patriarcais moldam e limitam os desejos das mulheres. Argumenta que o desejo feminino foi historicamente reprimido e distorcido, subjugado aos interesses e expectativas masculinas, e defende a necessidade de uma reavaliação e libertação, promovendo a igualdade genuína entre os gêneros.

Por outro lado, o poeta e ensaísta Charles Baudelaire oferece uma visão estética do desejo. Em "As Flores do Mal", Baudelaire explora o desejo em sua forma mais hedonista e decadente, celebrando o prazer sensorial enquanto reconhece sua natureza efêmera e ilusória. Para ele, o desejo é uma chama que ilumina a escuridão da existência, ainda que por um momento, antes de se extinguir na inevitável realidade do tempo.

Em seu primeiro livro, "Mentira Romântica e Verdade Romanesca", o filósofo contemporâneo René Girard argumenta que o desejo é essencialmente social e nasce da observação e imitação dos desejos dos outros. Essa visão desafia a ideia de desejos autênticos e individuais, apresentando-os como construções sociais e culturais.

Juntas, essas perspectivas revelam a profundidade e a universalidade do desejo, refletindo sua presença incessante e seu papel central na vida de todos: desejar o que não se tem e, tendo, novos desejos para desejar.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito



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