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Opinião
Quinta - 27 de Junho de 2024 às 00:32
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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A sopa paraguaia é uma iguaria muito conhecida no Estado de Mato Grosso do Sul. Em minha família materna sempre foi tradição, tendo sido apresentada pela amada Vó Modesta.

A cada comemoração, para a sopa era reservada à mesa lugar de destaque. Impossível pensar nas comemorações de Natal, Ano Novo e aniversários, sem que ela estivesse por lá. Ao adentrar na casa da Vó Modesta, aproximadamente às 15 horas, em datas especiais, era possível sentir o aroma da “sopa”, como uma simbiose do milho com a manteiga derretida.

Cresci comendo sopa paraguaia, e em nada me assustava encontrar um bolo salgado de milho verde, com pedaços de queijo derretidos ao meio. O sabor? Quase uma pamonha salgada, que agrega a farinha de milho, cortada como se qualquer bolo ou torta fosse.

Para uma neta bastante apegada à doce avó, por óbvio, deixávamos de lado datas especiais, para que fosse feita a pedido e gosto do agrado avoenga. As carnes nunca foram protagonistas em minha alimentação. Assim, a Vó Modesta em muito conseguiu afagar-me com aquele lindo e dourado bolo salgado.


Algumas vezes presenciei a vovó no preparo da delícia. Todavia, confesso que ao ouvi-la sempre afirmar que jamais iria para outro plano, pois se tornaria “purpurina” em minha vida, a enxergava imortal. Infelizmente, em janeiro de 2002, ela se foi. Deixou saudades de quem sentava no chão para brincar com a neta, e comemorava aniversários das bonecas com muita seriedade e doçura.

Passado o luto com a dor que lhe é inerente, surgiu a saudade que dói, machucando a alma. E a sopa paraguaia, Vó Modesta, nunca mais a comerei? Que tristeza, pois em abjeta ignorância, mesmo com a passagem dela já na minha fase adulta, não a perguntei sobre como fazer a sopa.

Passados aproximadamente dez anos da sua morte, durante a oração noturna, mais uma vez, remoí a falta da minha saudosa avó materna, e a consternação de não ter com ela aprendido aquela comida tão familiar. Para a minha surpresa, durante o sono a vi sorridente, sem dizer nenhuma palavra. Estava em uma cozinha e me apontava os ingredientes da sopa paraguaia: milho, manteiga, cebola, leite, ovos, queijo, farinha de milho e uma pitada de sal. Sim, durante um dia de sono, em sonho, ensinou-me o preparo da sopa paraguaia.

O sonho foi muito claro, a ponto de trazer o aprendizado para todo o sempre. Mostrou-me que primordialmente colocou as cebolas cortadas em rodelas na frigideira, as fritando com um pouco de manteiga, até que ficassem transparentes. Com a ajuda de uma faca de serra tirou o milho das espigas os colocando dentro do liquidificador e batendo juntamente com o leite e um ovo. Após, adicionou a mistura do liquidificador em um refratário, juntando as cebolas quase transparentes. Posteriormente, com o queijo meia cura já ralado foi o acrescentando. Seguidamente, a farinha de milho e uma pitadinha de sal.

Untou uma forma com óleo despejando a massa. Jogou mais um pouco de queijo ralado por cima, e, com uma colher de sopa foi colocando um pouquinho de leite por cima. Assou, e a entregou em minhas mãos, com o conhecido sorriso de sempre.

No dia seguinte acordei lembrando-me perfeitamente da deliciosa receita. Desde então, apenas “de olho”, sem dúvidas, com a adorável lembrança daquele lindo sonho, a receita se tornou presença marcante em minha casa. Pessoas amigas e familiares provam da sopa paraguaia, uma receita de família, da vovó.

Mais do que uma mera receita e o prazer de saborear a sopa paraguaia, a lembrança da minha ancestralidade rememora a cada dia quem sou e de onde venho.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



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