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Opinião
Sexta - 26 de Julho de 2024 às 00:04
Por: Renato de Paiva Pereira

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Às vezes queremos fazer o universo caber dentro do nosso pensamento. Esse processo reduz o mundo à nossa moral particular.

Pode acontecer por insuficiência de conhecimento: como não entendemos as coisas que nos rodeiam, tendemos a explicá-las com o pouco que sabemos.

Fenômenos complexos exigem esforço de reflexão, que, por sua vez, requer bagagem intelectual. Mas a bagagem, infelizmente, não está disponível a todos. O acúmulo de conhecimento necessita de tempo, esforço, vontade e de recursos financeiros, bens sabidamente escassos.


Outras formas de tentar moldar o mundo a nós, são a arrogância, pretensão e as cegantes ideologias. Fanáticos de todos os estratos (políticos, religiosos, ideólogos, etc.) quase todos reducionistas, criam uma visão de mundo própria e tentam a todo custo impingi-la aos outros.

As ideologias, com toda a concepção idealista que carregam, foram as principais causadoras de mortes e sofrimentos no mundo. As cruzadas e guerras religiosas, o holocausto e tragédia que Mao Tse Tung impôs à China são bons exemplos. As crenças ideológicas, que tanto mal já fizeram ao mundo, quando parecem arrefecer, recrudescem com novo vigor a cada tempo. Grupos islâmicos radicais, que apavoram o mundo moderno, são exemplos atuais.

Por moralizar, no sentido que o texto explora, entenda-se transformar os diferentes até que pensem exatamente como nós

Por moralizar, no sentido que o texto explora, entenda-se transformar os diferentes até que pensem exatamente como nós. Em política, direita e esquerda disputam a posse da verdade. A religião é um caso crônico. Os cristãos que vão morar no paraíso celestial depois da vida terrena, querem convencer todos a irem também pra lá. Os muçulmanos, agraciados com 70 virgens cada um quando chegarem ao céu, já aqui na terra desprezam e desdenham os que não acreditam nisso.

Uma boa metáfora para a moralização é a Cama de Procusto. Na mitologia grega o bandido Procusto tinha uma cama de ferro do seu exato tamanho. Recebia os viajantes que passavam por sua casa e lhes dava hospedagem. Quando se deitavam, os dominava e moldava ao tamanho da cama. Se eram menores esticava-os até o tamanho dela, se maiores cortava partes do corpo da vítima até a adaptação completa.

Moralizar é impor o nosso “tamanho”: tentar mudar os gays, ridicularizar os que ouvem funk ou moda sertaneja, desprezar o Candomblé, debochar da cultura ou endeusá-la, olhar enviesado para os fumantes, convencer-se de que comer somente vegetais é a salvação do mundo ou rir dos que pensam assim.

O que pode nos afetar se duas pessoas do mesmo sexo se unem? Se cultuam um Deus diferente do nosso ou nenhum? Se são incultos ou sofisticados demais? Se gostam de funk, torcem para o Corinthians...

Observando bem nossos atos, talvez cheguemos à conclusão de que somos muito parecidos com o Procusto Grego: queremos adaptar todos à nossa baliza.

Este texto, de repente, pode estar tentando impor uma ideia moralizante, baseada no meu conceito de moral. Olha o Procusto aí de novo.

Renato de Paiva Pereira é escritor e empresário



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