O fio invisível da fé Vivemos mundo onde a modernidade nos atravessa de maneira avassaladora
Vivemos em um mundo onde a modernidade nos atravessa de maneira avassaladora. O avanço tecnológico, o universo digital e a inteligência artificial nos convidam, a cada instante, a refletir sobre quem somos e o que desejamos ser. Tudo se acelera: as informações, os julgamentos, as relações. O virtual, muitas vezes, esvazia o real. O digital, ao mesmo tempo em que aproxima, muitas vezes nos lança em uma solidão silenciosa. E é neste cenário inquieto que o Natal chega como um convite para pausar, refletir e renascer.
A fé, tema central de tantas discussões ao longo da história da humanidade, permanece sendo o que verdadeiramente sustenta o espírito humano. Enquanto o mundo ao nosso redor se move na velocidade de dados e algoritmos, a fé nos pede algo mais profundo: um encontro com aquilo que não se mede, não se vê e não se codifica. Ela não compete com a lógica, ela se entrelaça com a razão. Assim como o universo digital se organiza por sistemas, fios e ondas invisíveis, a fé é também um fio condutor, que une o ser humano ao que há de mais sublime: a esperança, o sentido, e a conexão com algo superior.
No Natal, celebramos o nascimento de Jesus, símbolo da fé que resiste ao tempo e que, há mais de dois mil anos, ressoa como um chamado para a transformação. Seu nascimento foi marcado pela simplicidade: não havia palácios, nem ouro, nem aparatos grandiosos. A grandeza daquele momento se deu na luz de uma estrela, no calor de um estábulo, no encontro humilde entre os que vieram para vê-Lo. Essa cena ecoa até hoje porque nos lembra que a verdadeira força não está nas construções materiais, mas no que transcende.
A fé é uma força que está impressa em nossa alma. Não me refiro à fé cega imposta sob terríveis castrações morais e emocionais, mas sim a raciocinada, que requer reflexões constantes e atualizada com as experiências que nos apresentam sempre várias interpretações. E este é um dilema profundo para a modernidade. Vivemos em um tempo em que se valoriza a análise, a crítica e a dúvida, como é natural e necessário para o avanço humano. No entanto, a fé raciocinada, é aquela que encara a razão "frente a frente", que sustenta o ser humano quando todas as certezas se desmoronam.
E quantas vezes, em meio ao turbilhão do mundo, sentimos o chão desaparecer? Quantas vezes a vida nos desafia com um pedido negado, uma palavra dura, uma perda inesperada? A fé é o que nos faz prosseguir. Ela não elimina as dificuldades, mas dá força para atravessá-las. Não é um milagre que afasta a dor, mas é o bálsamo que nos permite compreendê-la e ressignificá-la.
A fé, em um mundo tão moderno, é uma resposta antiga, mas não ultrapassada. Age como uma força silenciosa que nos conecta com o que importa. Não pode ser capturada por máquinas ou descrita por números. É o elemento invisível, como uma onda de rádio, que existe mesmo quando não a percebemos.
Neste Natal, o chamado não é apenas para celebrar, mas para renascer. A mensagem do Cristo, em meio à modernidade, ressoa ainda mais urgente: simplifique, silencie, reconecte-se com a essência. Cultivar a fé no mundo atual é, por si só, um ato de coragem. Não se trata de crer sem pensar, mas de raciocinar sem perder a capacidade de crer.
Se Jesus nasceu para trazer luz a um mundo marcado pela escuridão, que o Seu nascimento nos inspire a reacender a nossa fé interior. Que possamos equilibrar o avanço tecnológico com a sabedoria interior, entendendo que, no silêncio do coração, ainda encontramos as respostas que nenhuma máquina poderá nos dar.
Vivemos cercados de certezas, mas é na dúvida que a fé se fortalece. Neste mundo onde tudo parece correr depressa demais, onde o digital nos oferece respostas prontas e a tecnologia nos encanta com seu poder, é fácil esquecer que a maior jornada ainda é para dentro. Porque, no fim, talvez a vida não precise ser tão decifrada, mas sim sentida, vivida e acreditada.
Que o Natal seja o nosso ponto de reinício, um instante para reencontrar essa fé, que, mesmo silenciosa, nos transforma. Porque, ainda que o mundo mude e se revolucione, a fé é a única força que atravessa eras, vence medos e nos convida a sermos eternamente humanos. Que possamos renascer em fé, todos os dias. E que, ao invés de esperar um milagre, possamos ser a parte visível dele.
Sandro Brandão é mestre em propriedade intelectual e inovação.
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