Perguntar não ofende Aprendemos, a duras e demoradas penas, que não adianta aumentar o tom do discurso
Estamos passando novamente por um daqueles momentos estranhamente conturbados de nossa comunicação. Aquele ciclo vicioso, que não fica difícil de perceber nos meios chamados tradicionais de informação, as inconfundíveis empresas ou conglomerados de comunicação.
Trata-se da típica situação em que aqueles meios não conseguem largar o jargão profissional nem a metodologia ortodoxa embutida através das faculdades e nas redações das instituições, quando tuteladas.
Não percebem ou não querem entender que, ao continuarem assim, estão direcionando seus comentários e análises, em boa parte contaminados por questões ideológicas, para o próprio meio acadêmico especializado de onde se originam, agindo como se em um troca-troca de informações, ignorando que o material de onde tiram o que depois geram também está disponível para outras mídias, as não tradicionais, graças aos avanços tecnológicos.
Elas mesmas, as seletivamente entendidas como inimigas, a ponto de o lado obscuro da geração de notícias apoiar a censura de outras formas de informar, seja para o bem ou para o mal, a título de controlar a disseminação de “notícias falsas” para proteger a democracia.
A palavra “democracia” é originária do grego – demokratia – em latim: democratia, seguindo a etimologia de sua origem. Ela é formada pelas palavras: demos, “POVO”, e kratos, “PODER”, em português: “poder do povo” ou “governo do povo”. De outra forma, sob o controle da informação, ela não existe. É da opinião divergente que se desenvolve o bom debate e o conhecimento. É no bom debate que se toma posição, que se defende conceito e se encontra solução de interesse comum.
Aprendemos, a duras e demoradas penas, que não adianta aumentar o tom do discurso; que o verdadeiro líder não é aquele que grita e vocifera sobre o que fez, faz ou pretende fazer; que saber negociar e fechar acordos é fundamental em uma democracia saudável; que é através da gestão correta, com informações verdadeiras sobre o que acontece nos bastidores da política, seja ela econômica, educacional, de saúde, segurança ou qualquer outra área de atuação pública, sem desvio de qualquer natureza, sem acordo obscuro e, principalmente, sem ideologia, que se governa um país.
Hoje em dia, vários âncoras, analistas e especialistas de redação não buscam confirmar com a necessária persistência os dados que recebem dos ditos bastidores do poder, das empresas e de supremos informantes incógnitos. Ao que parece, baseiam-se suficientemente em imagens e pessoas, geralmente interessadas no rumo que a notícia vai dar aos fatos, por isso buscam exercer influência sobre o que apresentam. Estão ancorando um navio parado em águas profundas, portanto, perigosas, e distantes do porto seguro chamado realidade.
Esqueceram de que, se aproveitadas corretamente (talvez honestamente seja a palavra certa a ser utilizada aqui), toda forma de noticiar é meio de confirmação da veracidade sobre o que é apresentado a ouvintes, leitores e telespectadores. Em análise mais abrangente, as pessoas comuns, essas que a cada dia têm mais e mais formas de checar o que lhes é jogado para dentro de casa, já não são facilmente conduzidas, e censura não é mais cabresto há quarenta anos. Então, por que tentar colocá-lo de novo?
Ao invés de obter na academia o estudo, o preparo e a disposição necessários para trabalhar com informação comprometida com a realidade, parece haver pressa somente em aprender a ser o primeiro a dar a NOTÍCIA URGENTE ou o responsável pelo FURO DE REPORTAGEM que, em última análise, poderá beneficiar quem está no poder e prejudicar quem lhe faz oposição.
Não há como encontrar aquilo que não se procura se, a priori, já há decisão sobre desconsiderar aspectos que não interessam ao que se pretende informar. Assim, se o âncora, o analista e o especialista consultado rejeitam o outro lado do acontecido, como poderão noticiar de forma isenta? Fica a pergunta!
Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.
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