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Politica Brasil
Quarta - 02 de Fevereiro de 2011 às 08:29
Por: Caroline Lanhi

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Delegada contou que jovem chorou muito no momento do flagrante e na oitiva e se mostra apaixonada pelo acusado
Delegada contou que jovem chorou muito no momento do flagrante e na oitiva e se mostra apaixonada pelo acusado

 Um frei de 43 anos foi preso em flagrante pela Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, da Criança e do Idoso, de Várzea Grande, saindo de um motel com uma adolescente de 16. Erivan Messias da Silva faz parte da Paróquia Nossa Senhora da Guadalupe e também celebrava missas na Igreja Mãe dos Homens. O relacionamento entre eles foi denunciado no início de novembro e desde então a Polícia investigava a informação anônima. O religioso foi preso e acusado de estupro de vulnerável.
Segundo a delegada Juliana Chiquito Palhares, a denúncia que chegou à Polícia era consistente. A princípio percebeu-se que os 2 mantinham um envolvimento normal entre religioso e participante da igreja, mas com o decorrer das investigações o carro da Paróquia foi visto algumas vezes em um motel e constatou-se que o envolvimento ultrapassava a barreira da amizade.

Em janeiro, a Polícia intensificou a vigilância e ontem (01) o frei foi preso em flagrante saindo de um motel no bairro Ponte Nova, com a adolescente, às 17h30. Erivan Messias da Silva preferiu se reservar ao direito de ficar calado e foi encaminhado ao Anexo 1 da Penitenciária Central do Estado, onde está à disposição da Justiça.

Assim como a menina, a família frequentava a Paróquia e mantinha uma relação estreita com o sacerdote. Tanto que, segundo informações, em em dezembro viajaram com o Frei e outros membros da Igreja para Fortaleza (CE). Entretanto, a mãe da garota declarou à Polícia que desconhecia o relacionamento amoroso e ficou abalada com a notícia.

Conforme conta a delegada, a jovem chorou muito, tanto no momento do flagrante quanto na oitiva. O relacionamento afetivo e sexual da menina com o frei começou aproximadamente na metade de 2010 e a jovem se mostra apaixonada por Erivan. Ela foi encaminhada para os exames que devem comprovar a relação sexual entre eles e também terá apoio psicológico.

Também há informações de que Silva dava presentes à adolescente, principalmente livros, pois ela era uma boa aluna.

Acusação - Erivan Messias vai responder por estupro de vulnerável pois, segundo a delegada, a dignidade sexual da jovem foi abalada. Independente do acusado ser um sacerdote, Juliana lembra que ele é um homem envolto pela figura de uma pessoa protetora, assim como os casos de estupro de vulnerável que envolvem padrastos, os quais são vistos com confiança. "A adolescente não tinha condições de oferecer resistência ao ato".

Para completar, a delegada explica que, ainda que a adolescente não se veja como vítima, pois está efetivamente envolvida, trata-se de um dano grave à menina.

Vera Lúcia Bertoline, professora membro do Núcleo de Estudos da Violência e da Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (NIEVCi/UFMT), destaca que o período da adolescência representa uma fase de descoberta da sexualidade e das emoções, além da construção da subjetividade. Frente a isso, o acusado deveria ter se utilizado de mecanismos que impedissem uma aproximação amorosa dos 2, pois trata-se de um adulto informado e conhecedor das leis, além de religioso e educador que não tem como alegar desconhecimento. "Agora será submetido à lei".

Danos - Os danos psicológicos e o histórico de vida da adolescente é a maior preocupação dos especialistas. Segundo Vera Bertoline, estudos apontam que grande parte de adolescentes que se envolve em casos como este tem carência de afetividade dentro da família. Assim, essas jovens se tornam vulneráveis e buscam esse carinho em outras pessoas. O problema é quando o adulto abusa dessa fraqueza de afeto e vai além da amizade. "Nesse momento o Estado precisa cobrar e punir a quebra de confiança nessa relação".

E como fica a cabeça dessa adolescente? A professora afirma que o estrago na vida de uma menina que passa por situações semelhantes é grave e deixa marcas eternas, não só no emocional como na vida sexual. Para piorar, historicamente a mulher é vista como a culpada, aquela responsável pela sedução e, em muitos casos, a vítima acaba tomando para si essa culpa. No caso específico de envolvimento com um frei ou padre, o agravante é a cobrança moral e religiosa da própria vítima.

"A menina fica marcada para o resto da vida e precisará de apoio psicológico regular para que aprenda a administrar seus sentimentos. Por isso é importante que o Estado se comprometa em ajudá-la, nó só enquanto o fato estiver em efervescência. Esse apoio é para sempre".

Família - Para a presidente da Comissão da Infância e Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil no Estado, Rosarinha Bastos, a família não pode ser omitida da responsabilidade, pois se mostrou negligente já que não tinha conhecimento do que estava acontecendo. Por isso deve ser "chamada" pelo Estado.

Rosarinha esclarece que chamar os pais não significa culpá-los pelo fato, mas orientá-los. "É fácil falar que não sabia do que estava acontecendo. Consta na constituição que a família está em primeiro lugar na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, seguido da sociedade e do Estado".

Além de auxiliar a vítima, Rosarinha defende que as equipes multidisciplinares devem trabalhar junto com a família, pois se o fato aconteceu é sinal que havia algo de errado na relação da adolescente com seus familiares. "Os pais devem acompanhar os filhos, procurar saber que locais frequentam, com quem andam, por mais que os jovens se sintam vigiados e se revoltem".

Outros casos - Em 2009, o pastor evangélico Antônio Hilário Filho foi condenado a 79 anos e 6 meses de prisão, em regime fechado, por pedofilia praticada contra 6 crianças. Ele fundou no município de Marcelândia (710 km ao norte de Cuiabá) a Igreja Evangélica Nova Jerusalém, onde mantinha uma banda de música e um time de futebol para chamar a atenção das vítimas. Os crimes ocorreram entre os anos de 1995 e 2009.

Em maio de 2009, um suposto pastor evangélico foi indiciado por estupro de uma adolescentes de 16 anos em Cuiabá.

Em dezembro de 2009, um pastor foi preso em Juara (709 km ao médio-norte de Cuiabá) acusado de participação numa rede nacional de pedofilia. Conforme as investigações, os acusados produziam, armazenavam e distribuíam vídeos e fotos de crianças entre 5 e 7 anos. Em janeiro do ano passado, um caso de abuso sexual praticado contra a menina de 2 anos, em Rondonópolis (121 km ao sul de Cuiabá), revoltou a comunidade. O acusado se apresentava como pastor.

Outro lado - A igreja Católica ficou de se pronunciar até o final da tarde de ontem, o que não aconteceu. O advogado do frei, Anderson Figueiredo, disse que entrará hoje com um pedido de liberdade provisória. Ele questiona a acusação de estupro de vulnerável, afirmando que a vítima é maior de 14 anos e que não há informações de violência ou ameaça.

 

Para o advogado, se há algum crime, só seria enquadrado no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), que seria corrupção de menores. Figueiredo ainda afirma que a vítima estava ciente das ações e nega ter conversado ontem com o frei. Ele disse que conhece Erivan há bastante tempo e que nunca o defendeu, desconhecendo qualquer outro tipo de acusação contra o frei.
 





Fonte: A Gazeta

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