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Pesquisa avaliou cognição de pessoas em diferentes situações financeiras. Preocupação com pobreza é capaz de "drenar" capacidade de raciocínio.
Pobreza prejudica desempenho mental, indica estudo
Um estudo publicado pela revista "Science" nesta quinta-feira (29) indica que a pobreza pode ser um fator que prejudica o desempenho mental. Segundo a análise dos autores, liderados por Ananda Mani, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, a falta de recursos "drena" as reservas mentais.
Pesquisas anteriores já haviam identificado relações entre a pobreza e prejuízo à cognição, mas o novo artigo – que teve colaboração das universidades Harvard e Princeton, nos EUA, e de British Columbia, no Canadá – sugere uma relação causal entre a falta de dinheiro e uma diminuição das faculdades cognitivas, que envolvem funções como atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, pensamento e linguagem.
Em uma parte do estudo, os cientistas avaliaram o desempenho de 101 pessoas em atividades simples em um computador, enquanto elas precisavam pensar sobre quatro cenários de problemas financeiros hipotéticos, como o conserto de um carro, após terem ido a um shopping center de Nova Jersey, entre 2010 e 2011.
Quando o preço do conserto era menor (R$ 356), os voluntários de renda mais baixa (R$ 47.500 anuais, ou quase R$ 4 mil mensais) tiveram um desempenho melhor do que quando o suposto reparo era mais caro (R$ 3.562). Ao mesmo tempo, os participantes com renda alta (R$ 165.250 anuais, ou R$ 13.770 mensais) tiveram um bom desempenho nas duas situações.
Além disso, quando os cenários fictícios eram fáceis, ou seja, os problemas financeiros não pareciam tão graves, tanto os pobres quanto os ricos se saíram bem nos testes.
Em média, uma pessoa preocupada com problemas financeiros teve uma queda na função cognitiva semelhante à perda de até 13 pontos no QI (quoeficiente de inteligência), o equivalente à perda de uma noite inteira de sono, destaca o estudo.
"Estamos argumentando que a falta de recursos financeiros em si pode levar a um prejuízo da função cognitiva. A própria condição de não ter o suficiente pode realmente ser uma causa de pobreza", diz o professor assistente de psicologia Jiaying Zhao, da Universidade de British Columbia.
Pesquisa com cortadores de cana
Em outra parte do levantamento, feita na Índia com 464 produtores de cana-de-açúcar, os pesquisadores perceberam que essas pessoas tinham uma capacidade mental pior antes da colheita, quando estavam sem dinheiro e em uma tensão financeira, em comparação ao período após receberem o pagamento. Pelo menos 60% da renda anual desses produtores dependia da cana, que só é colhida uma vez por ano.
Segundo os autores, os resultados ajudam a explicar por que os mais pobres são muitas vezes vistos como menos capazes de realizar determinadas tarefas. Esses indícios, porém, não poderiam ser explicados por fatores como estresse, má nutrição, excesso de esforço no trabalho ou falta de tempo, de acordo com os cientistas.
Ainda na opinião dos pesquisadores, esses achados têm implicações políticas importantes, e sugerem intervenções simples, como ajudar as pessoas pobres a preencher formulários, fazer planejamentos e usar lembretes. Isso porque um artigo anterior, publicado na "Science" em 2012, revelou que indivíduos de baixa renda têm uma probabilidade maior de se envolver em comportamentos que reforçam essa condição, com o endividamento excessivo.
Estimativas recentes mostram que cerca de 20% da população mundial esteja em situação de pobreza, aponta o artigo. Apesar de esse número ser metade do que era há 20 anos, não deixa de ser considerável.
Muitos economistas acreditam que, quanto mais pessoas na Terra, mais ideias poderiam ser criadas, a cura do câncer seria descoberta e a paz mundial seria alcançada, diz o texto. Mas os autores contestam essa noção de que todas as pessoas teriam uma capacidade mental adequada.
Fonte:
Do G1, em São Paulo
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