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Meio Ambiente
Domingo - 25 de Agosto de 2013 às 22:24

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"Era um lindo povoado. Quinze dos meus dezesseis filhos foram criados nesta região", conta Ameth Diagne, pescador de 52 anos ao lembrar de sua cidadezinha, Doun Baba Dieye, no Norte do Senegal, hoje arrasado pelas águas do oceano Atlântico.


 
Como Doun Baba Dieye, a cidade histórica de Saint-Louis, primeiro enclave fundado em 1659 pelos europeus na África Ocidental e até 1902 capital da federação AOF, que reunia oito territórios franceses na África, pode ter o mesmo destino.


 
"Estima-se que ao longo da nossa costa, o oceano avança um metro por ano. Em 100 anos, se nada for feito, o Atlântico terá erodido [corroído] 100 metros da cidade", destaca o professor Boubou Aldiouma Sy, um pesquisador em Geografia na Universidade de Saint-Louis.


 
Em um relatório publicado em 2008, Alioune Badiane, diretor da ONU-Hábitat para a África, nomeou a cidade como a mais ameaçada da África pela elevação do nível das águas. A causa, segundo ele, não é apenas a mudança climática, mas também a abertura do canal artificial.
 
 
Em 2003, a Ilha Saint-Louis, parte histórica da cidade situada sobre o rio Senegal, a 500 metros da parte continental e chamada de "Veneza da África", se viu ameaçada pela cheia do rio.


 
As autoridades decidiram então cavar um poço em Langue de Barbarie, uma faixa de areia de 40 quilômetros de comprimento e 300 quilômetros de largura, paralela à costa, que protege o litoral de Saint-Louis e Doun Baba Dieye do oceano. Esta península separa o Atlântico da última parte do rio Senegal.


 
O objetivo era baixar o nível do rio, que não para de aumentar devido às inundações cada vez mais numerosas, para permitir-lhe fluir para o Atlântico pelo canal de quatro metros de largura.


 
Mas à importante vazão do rio se soma, do outro lado da península, a investida do mar. Dois fenômenos que afetam Langue de Barbarie, e ampliam o canal, o qual desde 2003 aumenta um pouco e hoje é uma embocadura de 2,3 quilômetros.


 
Ecossistemas transformados


 
Situado a dois quilômetros da praia há dez anos, Doun Baba Dieye, abandonada por seus 800 habitantes, foi tomado de assalto pelas ondas.


 
Ameth Diagne, chefe da aldeia, foi o último a partir. "Na noite de 17 de novembro de 2012, quando as ondas chegaram ao nosso quarto, tive que deixar minha casa", lembra. "O que mais me entristece é que não posso transmitir aos meus filhos mais jovens o que os meus pais ensinaram sobre uma flora e uma fauna que não existem mais".


 
A descida do rio para o oceano fez desaparecer os peixes de água doce. A transformação brutal dos ecossistemas provocou grandes perdas para os pescadores.


 
Também foram afetados os camponeses, pois a salinização das terras acabou com qualquer atividade agrícola. "Aqui é onde deixávamos os bois", diz Diagne, sinalizando a areia que agora substitui a região antes reservada ao pastoreio.


 
Apesar do dano causado pelo canal, nenhum destes refugiados climáticos recebeu ajuda financeira do governo, que tinha prometido aos moradores uma nova casa.


 
Embora o canal tenha impedido que Saint-Louis inundasse em 2003, a solução é apenas temporária. E a "Veneza da África" ainda enfrenta perigos maiores.


 
"A parte oriental da cidade foi construída sobre antigos alagados, onde a água se acumula e onde proliferam os mosquitos. Por causa disso, estamos vendo um ressurgimento da malária em Saint-Louis. Este é um grande problema que a cidade não foi capaz de controlar", disse o professor Sy.


 
Às inundações e aos danos causados pelo canal se soma um terceiro fenômeno natural: a erosão costeira, agravada pelas mudanças climáticas. O professor Sy emite o alerta e defende a construção de obras de proteção para evitar que a cidade seja engolida pelo oceano.


 
"A cada ano, muitas casas desabam. Alguns povoados estão ameaçados. Saint-Louis tem que reagir com rapidez, antes que os moradores fiquem com os pés na água".




Fonte: AFP

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