Começa nesta terça oficina “...Como Cosme e Damião”
Hoje (27) é dia de Cosme e Damião, protetores das crianças, segundo a Igreja Católica. Sempre juntos, assim como esses irmãos, eram também os poetas Benedito Sant’Anna da Silva Freire e Wlademir Dias Pino. Em homenagem a esta amizade é que começa nesta terça (28) a primeira oficina pedagógica do Circuito Cultural Setembro Freire. Conforme a ministrante, Daniela Freire, também filha do poeta homenageado, a oficina chamada “...Como Cosme e Damião” pretende ser um estímulo ao olhar de crianças e adolescentes através da elaboração de jornal experimental para que esses visitantes tenham a oportunidade de expressar sua percepção da arte apresentada no Pavilhão das Artes, com base nos poemas de Freire. O Pavilhão fica no segundo andar do Palácio da Instrução e todas as atividades são gratuitas.
Daniela explica que Bugrinho, como chama Freire, tinha amigos e eram muitos e diferentes. Uns gostavam de escutá-lo, outros liam seus escritos para depois opinar sobre eles. Havia os que analisavam sua forma de construir textos. E Wlademir, um grande poeta também conhecido como Dias Pino, era seu parceiro de trabalho. “Eles se amavam como irmãos de alma, daqueles que não é de sangue e a gente escolhe como irmão mesmo assim”, disse. Wlademir chegou a Cuiabá quando ainda era adolescente. Veio do Rio de Janeiro, acompanhando sua família. Parceiros de trabalho desde seus 20 anos criaram o Jornal Arauto da Juvenília e, na época da UNE, no Rio de Janeiro, dirigiram a revista Movimento e o jornal Japa, publicação que anunciou a explosão do concretismo e do poema processo. Andavam mesmo inseparáveis, assim como Cosme e Damião.
Em Cuiabá, passavam horas trabalhando no escritório da Rua João Bento em um mundo que era próprio dos dois. Bugrinho falando alto e entusiasmado e Wlademir, observando e falando baixinho, ia capturando as emoções do momento e transformando-as em imagens, sustentando-se a goles de leite gelado por ordem de seu estômago. Ela conta que, às vezes, Wlademir chegava à casa de Bugrinho com muitos papéis coloridos, cortados cuidadosamente em diferentes formas. Chamava a criançada e propunha uma brincadeira de colagem levando em consideração a sobreposição das formas e a comunicação das cores. Era o poeta mostrando caminhos para os filhos de Bugrinho, possibilidades infinitas de expressão.
Ela frisa que tamanha cumplicidade só foi possível porque os dois aprenderam e viveram o sentido da palavra complementar. Por isso queriam sempre mais e juntos podiam mais. Foi assim que receberam o apelido de Cosme e Damião. Com a união, os dois poetas e muitos outros parceiros não se furtaram de registrar suas ideias fazendos-as circular por toda a Cuiabá.
“Certa vez, na época em que Rodrigues Palma era prefeito, lá pelos anos 70, foram convidados a organizar o carnaval da Capital. Em seus registros fizeram questão de declarar que nenhum vínculo político-partidário os ligavam ao prefeito e que também não foram remunerados para tal empreitada”, disse a ministrante.
Juntamente com o educador Célio da Cunha partiram de uma preocupação central: regionalizar o carnaval. Essa tarefa foi tomada como ar de muita audácia e coragem. Queriam escrever um livro em plena avenida Getúlio Vargas ou nas palavras deles o projeto envolvia quatro aulas de comunicação visual na avenida que, aos poucos foram virando notícia na mídia nacional.
Para que isso fosse possível escolheram temas que falavam sobre o povo cuiabano e as coisas desta terra através de uma decoração arrojada, verdadeira arte visual ao ar livre. Pretendiam falar da vocação agrícola do Mato Grosso, da intimidade fraterna dos lares cuiabanos que tinham na cozinha da casa o ponto de encontro de parentes e amigos, daquilo que eles chamavam de Raízes da Raça, uma cultura popular que envolvia a tecelagem das redeiras, a relação do homem com a natureza extraindo dela o seu sustento como os oleiros, os garimpeiros...
Essa ideia fez com que as pessoas se reconhecessem em um espaço público e, de forma coletiva, vivessem o orgulho de ser o que se é, a esse sentimento batizaram de cuiabania. Mas os dois não se contentaram em escrever livros à céu aberto. Wlademir escreveu livros sobre artes visuais e diagramou os livros de Bugrinho se responsabilizando pelas imagens sensíveis e com uma pitadinha de bom humor discreto que só ele entendia e ria que ria bem baixinho para depois explicar em que parte do livro encontrava uma piada escondida nas imagens. Foi assim até que Bugrinho e Wlademir não puderam mais seguir juntos pela morte do primeiro. Mas seu olhar segue junto nesse evento que tem como proposta ser uma mola propulsora de um novo olhar sob a construção das palavras tanto para alunos quanto para professores.
Toda a programação é gratuita. Isso porque foi possível graças ao patrocínio do Fundo Estadual de Cultura e do Tribunal de Contas do Estado (TCE). O apoio cultural vem da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Secretaria Municipal de Educação (SME), Dunorte, Maxvinil, UFMT, Entrelinhas, Gráfica Atalaia, Dom Negócios Culturais, World Indústria de Embalagens, Casa das Molduras, Urbana Imóveis, Supermercado Modelo, Hotel Mato Grosso Palace, Colégio Master, OAB/MT, Livraria Janina, Água Puríssima e Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
Serviço
O que: Oficina “...Como Cosme e Damião”
Quando: 28/09/10, das 9 às 11h e das 15 às 17h
Onde: Pavilhão das Artes – 2º andar do Palácio da Instrução
Quanto: gratuito
Ministrada pelo Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância (GPPI/UFMT) sob a coordenação da Professora Daniela B. S. Freire Andrade - Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT
Público: professores e alunos do ensino fundamental e médio
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