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Brasil Eleições 2012
Sábado - 25 de Setembro de 2010 às 15:08

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Aloysio Nunes (PSDB) não quer saber nem de Romeu Tuma (PTB) nem de Netinho de Paula (PC do B). Candidato ao Senado agora em terceiro lugar segundo do instituto Datafolha, e crescendo, Aloysio faz campanha sozinho.

"Eu fazia campanha pra mim e para o meu companheiro de chapa, que era o [Orestes] Quércia [do PMDB, que renunciou à candidatura]. Agora, eu faço campanha pra mim", diz sobre Tuma, que deve aparecer em materiais de campanha de seu partido.

Silvia Zamboni/Folhapress
Em terceiro lugar segundo Datafolha, e crescendo, tucano Aloysio Nunes diz que faz campanha sozinho
Em terceiro lugar segundo Datafolha, e crescendo, tucano Aloysio Nunes diz que faz campanha sozinho



Na propaganda de TV, Aloysio diz que "quem bate em mulher é covarde", mas não cita Netinho. "Eu não me interesso pela vida do Netinho, nunca me interessei nem vou me interessar."

Lembrando de seu passado de luta armada, quando chegou a participar de assaltos, Aloysio diz que foi um erro. Mas não se arrepende. "Aquele caminho que eu adotei eu considero que foi um equívoco político muito sério, mas eu adotei por um impulso ético."

Aloysio recebeu a Folha em seu escritório de campanha no 22º andar do antigo edifício Joelma (hoje chamado edifício Praça da Bandeira) no fim da tarde de quinta-feira para uma entrevista de 40 minutos. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - O sr. já esteve em Brasília, conhece a política de Brasília. Como vai ser voltar e reencontrar José Sarney e Renan Calheiros, por exemplo, caso o sr. seja eleito senador?
Aloysio Nunes - Eu tenho uma longa vivência no Congresso Nacional. Eu estive lá durante 12 anos e ocupei cargos importantes na vida parlamentar, como a presidência da Comissão de Justiça da Câmara. Isso me deu um traquejo político muito grande e vai facilitar o exercício do meu mandato de senador porque as coisas de São Paulo são sempre vistas com um pé atrás. Se você não fizer boas alianças, boas articulações, você tem menos condições de defender os interesses do Estado. Eu tenho uma bagagem parlamentar grande, conheço o Congresso, e sempre tive fama de bom articulador. E vou continuar sendo, se for senador.

Era só fama?
É verdade, era mesmo. Eu sempre entendi bem a natureza do Congresso, de que é preciso construir consensos, encontrar soluções que contemplem diferentes setores do Congresso para poder avançar, compreender o Congresso como um lugar onde é preciso conviver, compreender as razões dos outros.

Como o sr. tem visto essa sequência de crises do Congresso, especialmente do Senado, onde se concentrou a maior parte das crises recentes, como os escândalos envolvendo a família Sarney?
Eu acho que o Congresso, quem dá o tom da vida do Congresso, é a Presidência da República. A pauta do Congresso quem faz é o presidente. Não apenas a pauta legislativa, pelo poder avassalador que o presidente tem, de emitir medidas provisórias, de formar maioria, mas o presidente tem também a pauta da mídia. Ele é o grande gerador de fatos políticos. Então, quando o presidente tem uma proposta legislativa clara, uma agenda legislativa clara, o Congresso entra no passo. Foi o que aconteceu, aliás, em uma boa parte do governo Fernando Henrique, quando nós tínhamos uma agenda legislativa de reformas que foi cumprida. Eu penso que em boa parte esses descaminhos do Congresso se deve ao fato de o presidente da República não ter uma pauta legislativa clara, ter optado por acordos no varejo, que deu imensa força ao chamado baixo clero, que passou a dominar comissões importantes da Câmara, e é preciso reagir. Uma forma de reação que diz respeito à Câmara é a reforma política, que hoje eu resumiria em uma proposta única, que é o voto distrital, começando pelo voto distrital na eleição dos vereadores nas cidades com mais de 200 mil eleitores.

Já para 2012?
Exatamente. Isso inocularia o vírus saudável do voto distrital no sistema representativo nosso.

O sr. acha que isso pode começar a ser discutido no Senado já em 2011?
Eu acho que sim. O Senado tem mais isenção em relação às pressões imediatas da vida política municipal e poderia começar já. E eu acho, além de tudo, que a cultura política da vida brasileira está madura para isso. O eleitor procura votar em candidatos a deputado e a vereador que tenham mais vinculação com a sua vida cotidiana. O distritalismo marcha antes dos costumes, antes de se consagrar na lei. De modo que o caminho está preparado para isso.

Os opositores do voto distrital defendem que ele torna toda eleição parlamentar uma eleição majoritária, o que aumenta muito os custos.
Não creio que aumente o custo, não. Hoje, uma campanha de deputado num colégio eleitoral de 30 milhões de eleitores, como é o caso de São Paulo, é infinitamente mais cara do que fazer num lugar onde a pessoa, em tese, é mais conhecida. E eu acho que a introdução de um elemento majoritário na representação do Congresso contribui para uma legitimidade maior, pela proximidade do eleitor com o eleito, e é um elemento que contribui para assegurar a governabilidade.

O sr. defende também o financiamento público de campanhas?
Já defendi, hoje não defendo não. Eu acho que temos de continuar como é, com a possibilidade de as pessoas poderem fazer financiamento privado com empresas e pessoas físicas. Acho que, no tempo que se tem para fazer campanha eleitoral no Brasil, é difícil arregimentar recursos para fazer a campanha, para enfrentar os gastos eleitorais. Mas eu hoje não defendo mais o financiamento público. Já há uma participação pública importante no financiamento da vida política: fundo partidário, que garante a manutenção dos partidos, é uma forma de financiamento público, e o próprio horário de rádio e televisão é uma forma de financiamento público. Eu não iria além disso.

O sr. acha que esse é o limite?
Eu acho que participar da campanha do seu candidato doando recursos é uma forma de exprimir o apoio ao candidato. Eu sou do tempo em que fazer finanças para o partido era uma atividade nobre. Eu participei de organização política clandestina, o PCB, em que a atividade de fazer finanças para o partido era uma atividade nobre, uma forma de vincular o simpatizante ao partido.

Sua trajetória política na militância de esquerda é muito parecida com a da Dilma: organizações de extrema que praticavam a luta armada.
Muitos jovens da minha geração, num determinado momento optaram por um caminho de extrema esquerda. Muito mais por indignação do que como consequência de uma elaboração política cuidadosa. Isso é comum a muita gente. Eu não gosto de falar do meu passado como se fosse... Não gosto de bancar o herói da resistência. Muitas pessoas foram mais a fundo do que eu e pagaram até um preço mais caro que o meu. Eu tive uma condenação com base na Lei de Segurança Nacional e vivi 11 anos no exílio. Outros pagaram com a própria vida.

Muitas vezes a oposição ao governo Lula, e o próprio PSDB, acusam a Dilma de ter sido terrorista, de esconder o passado.
O PSDB não. O PSDB jamais. Faz parte da história do Brasil. Assim como o avô do presidente Fernando Henrique participou de uma conspiração para matar D. Pedro 2º. Isso não tem cabimento. O PSDB jamais fez isso. Entende o momento da história. Eu hoje acho que foi um equívoco profundo esse caminho. Acho que o caminho correto foi o caminho que logo em seguida eu adotei, que foi o caminho da luta de massas, da luta legal, da formação de uma frente democrática. Mas houve um momento da minha vida, quando eu tinha lá meus 21 anos, em que eu acreditava no caminho da luta armada.

E isso não lhe desabona, nem à Dilma?
Não. Eu não tenho nada para esconder na minha vida. Isso é público, notório. Não tem nenhuma página da minha vida que não seja absolutamente escancarada.

Por que o sr. acha que isso incomoda tanto outras pessoas, como a Dilma, que não permite acesso aos arquivos sobre ela?
Não sei, não tenho condição de interpretar a alma das pessoas.

O sr. não voltaria a defender a luta armada?
Foi um erro naquele momento, evidentemente. A atitude correta foi a atitude do MDB, de outras organizações de esquerda como o PCB, de partir para a luta de massas, aproveitar todos os espaços de luta legal que existiam, participar das eleições, luta nos sindicatos. Esse foi o caminho correto. Aquele caminho que eu adotei eu considero que foi um equívoco político muito sério, mas eu adotei por um impulso ético. Eu achava que eu tinha que me opor com todas as minhas forças a uma situação de um despotismo absolutamente intolerável para mim. Agora, eu sou um homem que costuma levar às consequências as coisas nas quais eu acredito. Isso desde a minha mocidade.

E pode mudar de opinião?
Posso mudar de opinião. Mas não há muita distância entre a intenção e o gesto.

Caso o sr. seja senador, pode ser um senador de oposição com a Dilma presidente da República. O sr. acha que há um peso simbólico importante ser o senador de oposição de São Paulo?
Independentemente de quem for o presidente da República, e eu acho que será o Serra, o Senado, se nós analisarmos bem as suas competências no artigo 52 da Constituição, ele não é apenas a casa representativa da federação e nem apenas um órgão legislativo pura e simplesmente. Ele é também o órgão do nosso sistema político que detém importantes contrapesos ao poder presidencial. Em vários aspectos. Ele pode julgar o presidente da República em caso de crime de responsabilidade. É ele quem dá a última palavra em assuntos relevantíssimos da política externa. A nomeação dos embaixadores passa pelo Senado. Ele tem de referendar a escolha do presidente da República dos membros dos tribunais superiores, inclusive do Supremo Tribunal Federal. É ele quem fixa os limites da dívida pública, é ele quem determina quais são as condições para que a União avalize o endividamento dos Estado, municípios e das empresas. Ele é um contrapeso importante ao poder presidencial. O Senado brasileiro foi concebido dessa forma. Qualquer que seja o presidente, a função do Senado compreende a função de contrabalançar o poder presidencial. Porque são questões de Estado. Outra questão importante: nomeação de membros das agências reguladoras. Se o Senado exercesse bem suas funções, jamais uma pessoa que foi demitida da Infraero por incompetência durante a crise do apagão aéreo, esse Ricardo Bezerra, poderia ser nomeado diretor da Anac. O que eu digo é que essas competências precisam ser bem exercidas, qualquer que seja o presidente da República.

O que as pesquisas mostram é que a oposição vai estar muito enfraquecida no próximo mandato no Congresso, caso Dilma seja mesmo eleita presidente.
O presidente está se empenhando por isso, disse até que pretende aniquilar um partido político do mapa do Brasil, o que eu acho uma enormidade. Mas eu não acredito, não. Os partidos brasileiros exprimem a nossa pluralidade. Isso não vai acontecer. Ele não tem o poder de fazer terra arrasada no Congresso.

O senador de São Paulo, de oposição, não teria um peso ainda maior sob esse aspecto?
O peso de ser o senador de São Paulo muda muito, é importante ser o senador de São Paulo. Precisa ser uma pessoa qualificada para ser o senador de São Paulo, a responsabilidade política é enorme de representar esse Estado, de representar bem, cumprir o seu papel constitucional. O senador de São Paulo tem em si mesmo, pela sua representatividade, um peso político muito grande no Congresso.

Como o sr. avalia a representação atual, dos últimos oito anos, da representação de São Paulo no Senado?
Veja a situação das estradas federais de São Paulo. Três estradas federais que atravessam São Paulo, a Regis Bittencourt, a Fernão Dias e a 153, foram concedidas no atual governo. Os investimentos mal começaram, estão atrasados, e as estradas estão em petição de miséria. O que fazem os senadores de São Paulo? Veja a situação das nossas ferrovias, que são federais. Tivemos na semana passada três acidentes com morte em São Paulo: Americana, Ibaté e Fernandópolis. O que fazem os senadores de São Paulo? A participação de São Paulo no Fundo de Participação dos Estados, regida por uma lei de 1989, é de 1%. O fundo formado por recursos do Imposto de Renda e do IPI. Eu nunca vi um senador de São Paulo protestar contra isso. Muito menos protestar e tomar medidas efetivas, que podem ser tomadas por resolução, contra a guerra fiscal de que nosso Estado é vítima. A participação do governo federal no financiamento da saúde de São Paulo é percentualmente menor do que essa participação no financiamento da saúde de outros Estados. Nenhum dos três abriu a boca até agora.

O sr. pretende trabalhar nessa linha?
Claro, é um dever do senador, estar presente, atuando. Esse Resende foi aprovado agora, nessa legislatura, para a Anac. Como votaram os senadores de São Paulo? Então, eu acho que estamos mal.

Entre os senadores paulistas há um aliado do sr., alguém para quem o Alckmin pede votos, que é o Romeu Tuma.
Olha, eu acho que dos três senadores o senador Tuma foi atencioso, se colocou à disposição, procurou o governador Serra logo que o Serra assumiu. Eu tenho respeito por ele e faço votos que ele se restabeleça logo dos seus problemas de saúde.

E faz votos que ele se eleja ao lado do sr.?
Eu quero me eleger a mim neste momento. Eu fazia campanha pra mim e para o meu companheiro de chapa, que era o Quércia. Agora, eu faço campanha pra mim.

O sr. não vai escolher um segundo senador?
Eu deixaria os eleitores tomarem essa decisão, como aliás vão tomar. Ninguém manda no voto de ninguém.

No seu programa eleitoral o sr. tem dito que quem bate em mulher é covarde sem citar a pessoa a quem o sr. se refere, que é o seu adversário Netinho de Paula. Por quê?
Porque quem bate em mulher é covarde. Estou me referindo a todos aqueles que batem em mulher. E mais ainda, eu tô me referindo a um drama humano. Tem milhões de mulheres neste país que sofrem violência doméstica. Milhões de mulheres, entendeu? Agora, se alguém se sentir incomodado que se declare. Eu acho realmente uma coisa absurda as mulheres terem medo de denunciar, terem medo de poder sustentar suas famílias se abandonarem o lar. Acho que falta assistência jurídica, acho que falta orientação profissional para elas. É um problema que exige política pública, exige legislação e consciência da sociedade.

O sr. pretende propor alguma legislação específica nessa área?
Eu acho que a Lei Maria da Penha é uma lei suficientemente forte, adequada. Existe no movimento de mulheres uma preocupação de que uma nova proposta, que está tramitando no Congresso, de mudança no Código de Processo Civil, possa levar a um enfraquecimento da eficácia dessa lei ao atingir a competência dos tribunais dos juizados especiais. É algo a ser vigiado. Existem várias emendas no Senado, inclusive uma da senadora Ideli Salvatti [PT-SC], para preservar a eficácia da lei contra eventual interpretação nesse sentido. Agora, eu me referi a isso como um problema humano, um problema social, e um problema que merece atenção da sociedade e dos governos.

Há uma vinculação imediata de quem vê porque o Netinho é acusado de agressão à ex-mulher.
Eu não me interesso pela vida do Netinho, nunca me interessei e nem vou me interessar.

Ele pode ser seu companheiro de bancada paulista no Senado.
Pode ser, mas eu não me interesso pela vida particular dele. Eu não tô nem aí pra ele, se você quer saber.

O sr. chegou a conviver com o Netinho na vida pública?
Não, não tive. Eu sei que ele é vereador. Não conheço nem a atividade legislativa dele, parece que não é muito abundante. E só. A única experiência que eu tenho com o Netinho é uma vez que eu estava andando na rua dos Ingleses e tinha um trio elétrico fazendo um barulho enorme, atrapalhando o trânsito. A minha mulher, que estava comigo, falou: esse é o Netinho que você está apoiando? Eu fiquei com medo e liguei para o Netinho do PSDB [José Police Neto, vereador e líder do governo Kassab na Câmara Municipal]. Ele disse, não, esse aí é o Netinho de Paula. Essa é a única referência que eu tenho dele.

Com a Marta o sr. teve mais convivência.
A Marta foi minha colega na Câmara, convivi com ela em várias circunstância.

O sr. como ministro, ela como prefeita. Ela como ministra, o sr. como secretário.
Exatamente. Ela eu conheço, tem uma história política já, foi julgada pela opinião pública de São Paulo, os mandatos que pleiteou, alguns com sucesso, outros não. Então, conheço. Agora o Netinho eu não conheço. Nem sua vida pública, nem, muito menos, tenho interesse pela sua vida particular. Como, aliás, não tenho interesse pela vida privada de ninguém. Acho que a vida privada das pessoas é privada.

Na Casa Civil do Estado o sr. trabalhou muito com convênios com municípios. É isso que o sr. tem usado para obter apoios de prefeitos.
No tempo em que eu estava na Casa Civil o governador Serra deu uma orientação estrita de atendermos a todos, tanto na Casa Civil como em todos os outros órgãos do governo, sem nenhum tipo de discriminação partidária, distinção partidária, nem entre prefeitos ou entre deputados. Jamais, na liberação de emendas ou no atendimento de pleitos municipais, nós jamais tivemos qualquer tipo de distinção. Eu nunca pedi nada. Agora eu peço, para todos, apoio político. Porque o senador é eleito pelo voto majoritário. O senador indicado por um partido, ele tem que representar o conjunto do Estado. O senador não pode ter uma atividade no Senado estritamente partidário. Então, me sinto autorizado a falar com todos os prefeitos, de todos os partidos, pra pedir o apoio. Muitos estão me apoiando efetivamente, me conhecem, sabem que eu os conheço e sabem também que eu conheço a realidade do Estado de São Paulo. Eu sei onde fica Guapiaçu, eu sei onde fica Narandiba, eu sei onde fica Presidente Prudente, eu sei onde fica Óleo, eu sei onde fica Registro, eu conheço o Estado de São Paulo.

O sr. conhece a situação financeira desses municípios também?
Conheço também e sei que eles passam muito apertado atualmente porque a participação deles no Fundo de Participação dos Municípios só faz diminuir, porque a carga tributária tem aumentado com base em contribuições que não são compartilhadas com os municípios.

Houve uma grita dos municípios no ano passado pela queda no FPM. Neste ano, o presidente Lula mandou ao Congresso um projeto de lei que garante que o FPM não cairá mais. O sr. acha que ele tenta conquistar os prefeitos?
Não sei.

O sr. conhece o projeto?
Conheço. Houve uma devolução, mas uma devolução parcial das perdas ocasionadas por favores fiscais concedidos pelo presidente com chapéu alheio, ou seja, com a parte do osso que deveria ser compartilhada com os municípios. Mas essa compensação ficou R$ 1 bilhão aquém da perda efetiva sofrida pelos municípios.

É possível garantir que isso não volte a acontecer no futuro? Ou isso depende apenas de uma política do governo?
Eu acho que tem de ter vigilância. Essas coisas são decididas pelo Congresso. O Congresso que tem de ter compromisso efetivo com o equilíbrio da federação, e compromisso em preservar a autonomia financeira, que é base da autonomia política dos municípios.

No período pré-eleitoral havia uma disputa interna no PSDB sobre quem seria o candidato do partido ao governo, o sr. ou Geraldo Alckmin. Alckmin acabou escolhido e o sr. concorre ao Senado. O sr. trabalhou efetivamente para ser o candidato do PSDB ao governo do Estado?
Eu gostaria, eu tinha vontade, claro, eu me sentia preparado para isso. Muitas pessoas achavam que eu devia ser candidato. Mas eu cheguei à conclusão de que o melhor candidato era o Geraldo Alckmin. Por quê? Porque aquela intenção de voto que as pesquisas da época registravam não eram um mero recall, era o resultado de uma excelente avaliação retrospectiva do governo que ele havia feito. Então, me pareceu que não seria correto eu enfrentá-lo na convenção e, se eventualmente eu ganhasse, derrotar um candidato do meu partido que era popularíssimo, muito querido no Estado e que tinha mais de 50% de intenção de voto. Seria uma coisa absolutamente irracional.

O sr. se sentiu preterido?
Não, de jeito nenhum.

O sr. tem intenção de disputar o governo no futuro?
Não sei, eu nunca planejo a longo prazo minha vida política. Sinceramente.

O sr. sendo senador, passa a ser um nome natural a outros cargos, como prefeito de São Paulo e governador do Estado.
Não tem nome natural. Não existe essa coisa de nome natural. Eu tenho a intenção de ser senador, efetivamente. Tô com muita vontade de ser senador. Acho que posso ser um bom senador. Pela minha experiência legislativa, meu conhecimento da máquina do governo do Estado, do governo federal, minha vivência dos municípios de São Paulo, das regiões de São Paulo. Me sinto muito habilitado para ser senador e com muita vontade de ser senador.

O sr. foi candidato a prefeito e perdeu.
Eu fui vice-governador do Estado e perdi uma eleição para prefeito da capital. Em 1992. Antes de Cristo [risos].

O sr. tem crescido nas pesquisas, mas ainda não emplacou. O sr. acredita que vai disparar na última semana?
Eu tenho esperança que sim, estou fazendo tudo para isso.

Algum dado demonstra isso?
É trabalho e também algumas avaliações que nós temos na nossa campanha que mostram que a minha intenção de voto tem crescido constantemente.

Devagar e sempre?
Às vezes mais depressa um pouquinho. Mas tem crescido. Agora, se vai dar pra chegar eu não sei. Eu acho que vai, acho que dá.

Do outro lado, Marta e Netinho estão fazendo campanha colados para tentar evitar o seu crescimento.
Que sejam felizes.

A saída do Quércia ajudou como sua campanha?
Eu lamento muito a saída do Quércia. O Quércia estava sendo um excelente companheiro de campanha. Leal, firme, dedicado, e teve um gesto de muita grandeza ao sair e me apontar como o candidato do seu grupo, de seu partido. Acho que o apoio do PMDB é muito importante, e esse apoio é efetivo. As pessoas estão trabalhando, estão engajadas. O Quércia tem uma liderança forte, pessoal, que evidentemente sendo pessoal não é toda ela transferível, mas a transferência de votos virá majoritariamente para minha candidatura que para a dos outros.

O sr. acredita mesmo nessa transferência de votos?
Exatamente.

Mais que no tempo de televisão, o sr. acredita na transferência de votos?
No apoio político.

Já havia uma dobradinha. Muitos eleitores que votavam no sr. votavam também no Quércia e vice-versa.
O Ulisses, para falar da sensibilidade do Quércia, dizia: o Quércia sente o cheiro do vento. E o Quércia achava que nós íamos ser eleitos os dois, por causa da unidade que nós construímos em torno da candidatura do Serra e do Geraldo. Na ausência do Quércia eu acho que vou ser eleito pelos dois.

O sr. foi vice-governador com Fleury. Foi o momento em que este grupo tucano ganha a eleição, com Covas, criticando muito a gestão anterior, da qual o sr. participava como vice-governador e secretário. O candidato a governador daquele grupo era o Barros Munhoz, que hoje é deputado estadual do PSDB, foi líder do governo Serra na Assembleia Legislativa e hoje é o presidente da Assembleia. E o Quércia, que era o principal líder daquele PMDB, hoje está no grupo de vocês. Não é muita incoerência?
Eu vou lembrar a você outros fatos que mostram que são dois movimentos surgidos da luta pela redemocratização que em determinado momento se separaram, mas que conservam a afinidade, o PSDB e o PMDB. O PMDB participou do governo Covas, tinha um secretário de Estado, o secretário da Habitação, o atual deputado Dimas Ramalho, hoje do PPS, mas na época era do PMDB. O PMDB participou da base de sustentação do governo Alckmin. O PMDB participou da base de sustentação do governo Serra, um deputado do PMDB foi inclusive vice-líder do governo na Assembleia, o deputado Baleia Rossi, e o PMDB participa do governo, no controle da Secretaria de Desenvolvimento Social e também da Codasp. Então, nosso parentesco é forte. Não há incoerência desse ponto de vista. E nós estamos unidos em torno de uma série de ideias que nos são comuns e também unidos contra a situação do Brasil.

As críticas que o PSDB fazia naquela época à gestão da qual o sr. era vice-governador não eram corretas?
Eu acho que para julgar os governos do PMDB é preciso que a gente se coloque na perspectiva do tempo. Foram governos muito difíceis por conta das condições objetivas do país. No governo Fleury, ele teve que conviver com cinco presidentes do Banco Central, três ministros da Fazenda, dois presidentes da República. Nós não tínhamos moeda. No governo do Quércia não havia moeda, não havia Orçamento. Era impossível planejar o governo. Nós vivíamos um momento em que todos os Estados, dada a crise fiscal gravíssima de todos os Estados, acabavam por criar moeda através dos seus bancos estaduais. Isso não foi só em São Paulo, foi em todo o Brasil, em função da profunda crise fiscal em que nós vivíamos. Nós vivíamos uma crise de hegemonia política que levou à eleição do Collor. Então, para julgar esses governos é preciso se colocar na perspectiva do tempo, e assim mesmo muita coisa foi feita. Na minha gestão na Secretaria de Transportes Metropolitanos eu criei a CPTM, um marco histórico na gestão dos transportes metropolitanos na capital. Eu implantei a Secretaria de Transportes Metropolitanos. Eu consegui os primeiros financiamentos internacionais para o metrô e a CPTM, do Banco Mundial e do BID. Iniciamos o projeto de despoluição do rio Tietê, duplicação de rodovias, políticas sociais importantes inclusive nessa área da defesa da mulher, com a multiplicação das delegacias de defesa da mulher. Então, é preciso colocar isso na perspectiva do tempo. Houve avanços sim, tanto é que todos os governos que se sucederam da eleição do Montoro para cá, foram governos surgidos deste movimento, do Movimento Democrático Brasileiro, seja na sua versão peemedebista, seja na sua versão tucana.

Caso eleito senador, o sr. vai ter de discutir a questão levantada pelo prefeito Kassab da renegociação do contrato de refinanciamento da dívida da prefeitura com a União. O sr. concorda?
Hoje, a dívida da prefeitura é absolutamente impagável. Não dá para pagar, ela só faz crescer. Como aqueles antigos financiamentos de crédito hipotecário, que quanto mais você paga o seu apartamento, eu já fui vítima disso, já entrei numa arapuca dessa, quanto mais você paga mais você deve. Então, é preciso num determinado momento dar um paradeiro nisso e equacionar essa situação.

O sr. acha que é o caso de mudar a lei? Isso vai beneficiar as prefeituras de São Paulo e do Rio principalmente.
Não sei quem, mas o fato é que são as principais cidades do país e hoje é um fator de instabilidade e de frustração na capacidade de investimento dessas prefeituras.

Outro assunto que vai entrar em pauta é a MP do presidente Lula que flexibiliza os critérios de fiscalização pelo TCU para as obras da Copa do Mundo de 2014.
Absurdo, absurdo. Isso é um absurdo. O Pan-americano já foi uma farra, imagine a Copa agora, se nós reduzirmos. Já foi uma farra com os poderes atuais do tribunal de contas. Você imagine a Copa do Mundo, com toda parolagem patrioteira que ela envolve, sem a fiscalização do TCU, a farra que vão fazer.

Eles argumentam que é preciso ser mais ágil.
Eu tenho muito receio desse tipo de agilidade. Muito receio. Às vezes é agilidade nos dedos. Tenho muito receio disso. Eu acho que você pode fazer perfeitamente as coisas direito, com regras claras de concorrência, com fiscalização do Ministério Público, da imprensa, do tribunal de contas, porque nós provavelmente já teremos como herança dessa Copa do Mundo mundo estádios que serão elefantes brancos, como aconteceu na África do Sul. Se além disso nós tivermos problemas como aconteceram nos Jogos Pan-americanos, a Copa do Mundo poderá ser a Copa da Vergonha.

O sr. é a favor da liberação da maconha?
Não. A maconha agrava determinados transtornos psicológicos, ou psicossomáticos, como a depressão, por exemplo. Acho que não deve ser legalizado.

E o aborto?
O aborto, eu sou contra o encarceramento das mulheres. Eu vivi uma situação como essa. Eu defendi uma mulher uma vez, eu era defensor público, que tinha feito um aborto. Era empregada doméstica, disfarçou a gravidez com medo de perder o emprego, e fez um aborto. As provas era irrefutáveis. O juiz da 28ª Vara Criminal era muito conservador. O promotor público também. Chegamos à conclusão que, do ponto de vista das provas, não havia como absolver a mulher. No entanto ela foi absolvida. Por quê? Porque ninguém tinha coragem de mandar uma pobre mulher daquela para cadeia. Eu acho que o aborto não deve ter o tratamento de ato ilícito. Acho que se deve dar o tratamento semelhante ao que têm os dependentes de droga.

O sr. acha que é preciso mudar a legislação para isso?
Eventualmente. Hoje, a pena de prisão de três anos corre o risco de mandar para a cadeia mulheres que podiam passar por outro tipo de atenção que não a cadeia, a prisão. Acho a prisão um tratamento cruel para mulheres que foram muitas vezes vítimas de determinadas situações. [Posteriormente, Aloysio telefonou para esclarecer que não defende a legalização do aborto. Disse apenas que não acha que a prisão é o tratamento correto]

O sr. vive do que quando está fora de algum cargo público?
Eu sou procurador do Estado. Estou gozando de licença prêmio. Tenho também fazenda, propriedades agrícolas que vieram de herança do meu pai.

O sr. tem aposentadoria de quando era deputado?
Não.

O sr. poderia ter, pois teve 12 anos no Congresso.
Poderia, mas eu levantei meu dinheiro para minha filha comprar um carro, mas minha filha bateu o carro na semana seguinte.

E na Assembleia Legislativa?
Não. Eu vivo da Procuradoria. [Posteriormente, Aloysio telefonou para dizer que tem, sim, uma pensão da época de deputado estadual da qual ele não usufrui enquanto exerce outro cargo público. Mesmo no atual período em que ele não tem cargo a pensão está suspensa, disse]






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