Coelho é apontado pela Polícia Federal como um dos pivôs do escândalo no Amapá. De acordo com o relatório da PF, por meio do TCE, respaldava contratos fraudulentos do governo estadual. Na casa de praia do presidente do TCE, na Paraíba, a PF apreendeu cinco carros de luxo, entre os quais uma Ferrari e uma Maserati. Também foi localizado um jato pertencente a ele, “escondido” em um aeroporto de Minas Gerais.
Além disso, o documento afirma que Coelho é dono de várias empresas por meio de “testas de ferro” e que tinha movimentação bancária incompatível com a remuneração como presidente do TCE. Segundo o inquérito, ele fez saques bancários da conta do tribunal num valor total de mais de R$ 7 milhões, sem especificar a finalidade.
O G1 telefonou às 18h58 para o celular do advogado de Coelho, Eduardo Vilhena Toledo, e deixou recado na secretária eletrônica. O escritório de advocacia onde ele trabalha informou que o advogado estava em uma reunião e não podia ser interrompido. O escritório informou ainda que a defesa do presidente do TCE ainda não obteve cópia do inquérito, que se encontrava em segredo de justiça até esta quinta.O G1 voltou a ligar outras quatro vezes para o celular do advogado, entre 19h05 e 19h32, mas não obteve resposta.
Nesta quinta (23), o ministro João Otávio de Noronha, do STJ, determinou o fim do segredo de justiça de parte do inquérito, que reúne cerca de 800 páginas. Conversas telefônicas gravadas em 26 de maio deste ano pela Polícia Federal com autorização judicial e transcritas no inquérito mostram a negociação do presidente do TCE com a mãe das menores. A mulher reclama por telefone o pagamento de R$ 500, que teria faltado no último depósito mensal feito por Coelho.
Mulher - Olhe, deixe eu te falar uma coisa: aquele dinheiro de banco que você depositava para mim e para C., né? Aí, sobrava R$ 2.500 para mim e R$ 1.500 pra C. Aí, o senhor pegou e deu R$ 2.000 pra C. e tirou os meus R$ 500. Sabe que eu pago empregado, pago energia.
Coelho - Todo mês agora eu vou depositar R$ 2.500, não se preocupe, tá? Na segunda-feira eu boto os R$ 500 que tá faltando.
A pessoa identificada como C. a que a mulher se refere é a filha dela de 17 anos, segundo o documento da PF. Até esse ponto do texto do inquérito, era possível interpretar que Coelho mantinha relações com a mãe das meninas. No entanto, o restante do diálogo, segundo demonstra a PF, deixa claro que o interesse dele é nas menores. De acordo com o relato, depois de assegurar o pagamento de R$ 500, o presidente do TCE pede à mulher para falar com a outra filha dela, J., que, segundo a PF, tem 14 anos.
Coelho - Agora, passe pro amor da minha vida, pra minha vida.
Menina de 14 anos - Oi.
Coelho - Oi, linda, tudo bem?
Menina de 14 anos - Tudo.
Coelho - Sonhei com você essa noite.
Menina de 14 anos - Foi?
Coelho - Foi. Um sonho lindo, fazendo amor contigo. Melhor ainda, porque naquele dia foi show. Naquele dia...
Menina de 14 anos - Legal, né?
No mesmo diálogo, descreve o texto, o presidente do TCE dá a entender que tirou a virgindade da menor. Ele encerra a conversa assegurando à menina que cumprirá o pedido da mãe dela de depositar mais dinheiro.
Coelho - Na última vez, foi quando você realmente virou mulher, sabia? Foi uma loucura, uma loucura. E, atendendo a seu pedido, vou botar R$ 1.000 na conta da sua mãe. Tá certo? Tá beleza?
Menina de 14 anos - Boa noite.
Coelho - Te amo, te amo, te amo. Quarta-feira te ligo para a gente sair, tá?
Menina de 14 anos - Tá.
Coelho - Te amo. Tchau, tchau.
De acordo com o inquérito, em 30 de maio deste ano, Julio Miranda Coelho passou para um funcionário dele os dados bancários da mulher e pediu que fosse efetuado um depósito de R$ 1 mil. Com os dados bancários revelados na conversa telefônica, a PF confirmou a identidade da mulher e das filhas dela. No inquérito, constam cópias de comprovantes de depósitos bancários na conta da mãe das garotas.
“Os fatos narrados mostram que o presidente do TCE/AP, Júlio Miranda, que tem 63 anos, mantém relacionamento amoroso com a menina J., de apenas 14 anos de idade, contando para isso com a aquiescência da mãe da garota [...] que, conforme ficou claro nos diálogos, tem contrapartida financeira”, diz um trecho do relatório da PF.
O presidente do TCE foi uma das 18 pessoas presas pela Polícia Federal em 10 de setembro na Operação Mãos Limpas, que investiga a formação de uma suposta quadrilha formada por membros do governo para desviar recursos estaduais e da União. Eles é um dos dois que continuam presos na PF de Brasília, por determinação do presidente do inquérito no STJ, ministro João Otávio de Noronha. O outro é o secretário de Segurança do estado, Aldo Alves Ferreira. Também foram presos o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias e o ex-governador do estado Waldez Goés, soltos no último sábado (18) junto com outros 14 presos.
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