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Internacional
Sexta - 10 de Setembro de 2010 às 21:36

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O plano de uma igreja evangélica da Flórida (EUA, sudeste) de queimar exemplares do Alcorão --que suscitou críticas no mundo todo-- foi cancelado nesta sexta-feira, embora seu pastor não tenha obtido em troca o acordo que pedia para que fosse mudado o local da construção de uma mesquita em Nova York.

Diante de um grande número de jornalistas de todas as partes do mundo que transmitiam as últimas informações ao vivo da frente da igreja, o pastor Terry Jones e outro líder evangélico confirmaram que não haverá queima do livro sagrado muçulmano no sábado. "Quero ser claro e confirmar em 100% que não haverá Alcorões queimados amanhã (sábado) às 18h como estava previsto", declarou à imprensa o líder evangélico K.A. Paul diante da igreja de Gainsville.

O compromisso foi mantido apesar do fracasso de um ultimato de duas horas que Jones havia fixado ao imã de Nova York para que se reunissem com o objetivo de discutir o local da construção de uma mesquita que as autoridades muçulmanas americanas pretendem erguer próximo à área chamada Marco Zero, onde ocorreram os atentados em 2001.

O pastor Jones esperava a confirmação do imã de Nova York, Feisal Abdul Rauf, de que havia aceitado discutir a construção da polêmica mesquita, mas o líder muçulmano não respondeu no prazo estabelecido.

"Até agora não tive notícias do imã", disse Jones à imprensa. "Mas ainda estamos muito confiantes de que vamos encontrá-lo e continuamos convencidos, em razão das diferentes fontes de que dispomos e que não podemos mencionar no momento, de que este encontro ocorrerá amanhã", acrescentou.

Informações desencontradas sobre a queima do Alcorão foram divulgadas nas últimas horas, depois de Jones ter dito na quinta-feira que havia chegado a um acordo sobre a mudança do local da construção do centro islâmico a poucas quadras do Marco Zero.

Mas o acordo foi negado pelo líder muçulmano em Nova York. "Não sabemos de nada sobre isso", disse à AFP Daisy Khan, mulher do imã Feisal Abdul Rauf.

Rauf disse à rede de TV americana CNN que não iria "jogar com sua religião ou com qualquer outra". "Também não vamos fazer uma troca".

APELO

A crescente tensão provocada por esta igreja evangélica gerou um apelo feito pelo presidente Barack Obama pela tolerância religiosa dos americanos, em meio a controvérsias relacionadas ao lugar do islã na sociedade americana. "Temos que nos assegurar de que não nos voltaremos uns contra os outros", disse Obama em coletiva de imprensa na Casa Branca, às vésperas do nono aniversário dos ataques de 11 de setembro.

"Farei todo o que puder enquanto for presidente dos Estados Unidos para lembrar aos americanos de que somos uma nação abençoada por Deus, que podemos chamar esse Deus de diferentes maneiras, mas que continuamos sendo uma nação", ressaltou o presidente.

Líderes cristãos de Washington se reuniram de manhã com o polêmico pastor Jones para pedir que "mantenha sua posição de não queimar Alcorões".

"Não é apenas uma pequena igreja fazendo isto. Para a comunidade islâmica, esta é a cara do cristianismo americano", disse o reverendo Rob Schenck, do Conselho Nacional de Clérigos.

PROTESTOS

Nesta sexta-feira, começa para os muçulmanos o festival Eid al Fitr, quando é celebrado o final do mês de jejum do Ramadã, o que pode intensificar a polêmica.

Em vários países muçulmanos, pessoas foram às ruas para manifestar a sua ira em relação ao projeto da igreja de Gainesville, e muitos queimaram bandeiras dos Estados Unidos.

A convocação para a queima de exemplares do Alcorão desencadeou incidentes no Afeganistão, onde milhares de pessoas enfurecidas atiraram pedras contra uma base da Otan. Ao menos 11 pessoas ficaram feridas nos protestos;

O presidente afegão Hamid Karzai, em sua mensagem pelo Eid, advertiu que Jones "não deveria nem pensar" em queimar o Alcorão em um momento tão delicado, enquanto o presidente da Indonésia, país com a maior população muçulmana no mundo, disse que a paz mundial estava em jogo.

A preocupação tinha chegado a tal ponto em Washington que a Casa Branca entrou em contato na quinta-feira com o pastor. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, telefonou para Jones para que mudasse de postura, ao advertir que a queima do Alcorão geraria reações em todo o mundo e colocaria em risco os soldados americanos no Afeganistão.

TOLERÂNCIA

O presidente Obama voltou a falar do tema nesta sexta-feira e disse temer que os planos do pastor evangélico inspirem outros americanos que "acham que podem conseguir atenção". O democrata reforçou ainda suas duras críticas da véspera e alertou que o protesto de Jones não condiz com o que os Estados Unidos defendem ou os fundamentos sob os quais o país foi criado e lembrou da importância da tolerância religiosa.

"Deixe-me repetir o que disse. A ideia de que nós queimaríamos os textos sagrados de uma religião vai contra o que este país defende e foi fundado. Minha esperança é de que este indivíduo reze e desista de fazê-lo", disse, em entrevista coletiva a jornalistas na Casa Branca, em Washington.

Este tipo de comportamento, afirmou Obama, "prejudica nossos soldados e é uma grande ferramenta de propaganda da Al Qaeda. Minha preocupação [...] é que tenhamos um monte de pessoas no país achando que pode conseguir atenção".

Questionado por um repórter, Obama negou que esta reação escalada dos grandes nomes de sua administração tenha elevado a grande notícia os planos de um pastor de uma cidade de menos de 100 mil habitantes. "Isso prejudica nossos pais e filhos, pessoas que se sacrificam para nos manter seguros. Você não brinca com isso. Não acho que fomos nós que elevamos isso, mas na internet [o ato] pode causar profundos danos". 






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