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Internacional
Sexta - 10 de Setembro de 2010 às 15:32

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O ex-líder cubano Fidel Castro voltou atrás a respeito de suas declarações sobre o modelo econômico de Cuba "não funcionar", dizendo que foi "mal interpretado" pela revista americana The Atlantic.

"Disse isso sem amargura, nem preocupação. Me divirto agora ao ver como ele [o jornalista que o entrevistou] interpretou ao pé da letra, e como consultou Julia Sweig, repórter que o acompanhou e elaborou a teoria exposta", disse Castro.

"A verdade é que minha resposta significava exatamente o contrário do que os dois jornalistas americanos interpretaram sobre o modelo cubano", afirmou.

ENTREVISTA

Fidel Castro disse que o modelo econômico de Cuba não funciona mais, escreveu um jornalista dos EUA ainda na quarta-feira, após entrevistar o ex-ditador cubano na semana passada. Jeffrey Goldberg, da revista "Atlantic Monthly", contou em um blog que perguntou a Fidel, 84, se ainda valeria tentar exportar o modelo comunista cubano para outros países.""O modelo cubano não funciona mais nem para nós", respondeu ele.

No blog, o jornalista conta que, no momento, chegou a duvidar do que ouvia. "Eu não tinha certeza de que escutara corretamente", escreveu.

O encontro com Fidel -- que ocorreu no Aquário Nacional de Cuba-- contou também com a presença de Adela Dworin, presidente da comunidade judaica no país. Goldberg conta que buscou Adela em uma sinagoga e ambos se encontraram com Fidel na porta do aquário. Os três seguiram então até o local onde ocorre o show dos golfinhos.

Durante a visita, Fidel beijou Dworin diante das câmeras, em uma "possível mensagem aos líderes iranianos", disse Goldberg no seu blog.

Segundo o autor, Fidel lhe pareceu "fisicamente frágil, mas mentalmente lúcido e com energia".

"Você gosta de golfinhos?", perguntou Fidel ao jornalista no início do encontro, que retrucou: "Gosto muito".

O ex-ditador teria chamado então Guillermo Garcia, diretor do aquário e disse: "Goldberg, faça perguntas a ele sobre os golfinhos"."Que tipo de perguntas?", teria dito o jornalista. "Você é jornalista, faça boas questões", respondeu Fidel. "Ele não entende muito sobre golfinhos, de qualquer forma. Ele é físico nuclear".

"Por que você cuida do aquário?", perguntou então Goldberg, segundo o blog.

"Nós o colocamos aqui para evitar que ele construísse uma bomba nuclear!", brincou Fidel.

"Em Cuba, nós só construímos armas nucleares com fins pacíficos", respondeu Garcia.

"Não pensei que estivéssemos no Irã", acrescentou Goldberg.

Fidel apontou então para um pequeno tapete que seus seguranças trazem junto com a cadeira especial que usa e disse: "Veja, é persa!", brincou.

MUDANÇAS

O comentário parece refletir a concordância de Fidel --já manifestada em uma coluna publicada em abril na imprensa estatal cubana-- com as modestas reformas econômicas que vêm sendo promovidas por seu irmão caçula Raúl Castro, atual presidente de Cuba.

Goldberg disse ainda que Julia Sweig, especialista em Cuba na entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores --que o acompanhou a Havana-- acredita que as palavras de Fidel reflitam uma admissão de que "o Estado tem um papel grande demais na vida econômica do país".

Tal sentimento ajudaria Raúl, no poder desde 2008, contra membros do Partido Comunista que são contrários às tentativas de enfraquecer o domínio econômico estatal, disse Sweig a Goldberg.

Nesta terça-feira, Goldberg escreveu que Fidel o chamou a Havana para discutir seu recente artigo sobre a possibilidade de um conflito nuclear entre Israel e Irã, com possível envolvimento dos EUA.

O jornalista disse que Fidel criticou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por fazer comentários antissemitas e negar a existência do Holocausto.

Depois de reaparecer em público, após quatro anos de afastamento por motivos de saúde, Fidel se tornou um ativista do desarmamento nuclear. Ele teme uma guerra atômica caso Israel e os EUA tentem impor o cumprimento de sanções internacionais ao programa nuclear iraniano. Washington e seus aliados acusam Teerã de tentar desenvolver armas atômicas, o que a República Islâmica nega.

Fidel também criticou suas próprias ações durante a chamada Crise dos Mísseis, em 1962, quando ele aceitou a instalação de ogivas nucleares soviéticas na ilha e tentou convencer Moscou a atacar os EUA. Na entrevista a Goldberg, ele disse que aquele impasse "não valeu nada a pena". 






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