Maior ocorrência foi em áreas rurais não cadastradas no Sistema de Licenciamento Ambiental (SIMLAM)
Mato Grosso em chamas: focos de calor aumentam 440%
Dados dos focos de calor dos meses de julho e início de agosto, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), confirmam e agravam a tendência de aumento das queimadas já verificada no primeiro semestre deste ano em Mato Grosso. Considerando o sensor MODIS Terra e Acqua (TM), em julho deste ano foram registrados 5.173 focos de calor, contra 954 em julho de 2009, um aumento de 440%. E a tendência de alta continua, pois apenas nos primeiros dez dias de agosto já foram registrados 3.736 focos, contra 498 no mesmo período de 2009. Com isso, Mato Grosso acumulou 8.909 focos de calor no período de 1 de julho a 10 de agosto de 2010.
Neste cenário, dez municípios contabilizam 2.742 focos. Entre eles, Peixoto de Azevedo lidera com 391, seguido por Campinápolis, 368, e Paranatinga, com 333 focos. Veja tabela abaixo.
Município |
Focos |
Peixoto de Azevedo |
391 |
Campinápolis |
368 |
Paranatinga |
333 |
Comodoro |
304 |
Cocalinho |
234 |
Tangará da Serra |
234 |
Canarana |
230 |
Colniza |
223 |
Barra do Garças |
220 |
Matupá |
205 |
Subtotal 10 municípios críticos |
2.742 |
Fonte: INPE (Modis Terra & Acqua TM), Análise ICV
A maior parte do total de focos (59%) dos meses de julho e início de agosto ocorreu em propriedades rurais, sendo 13% em áreas cadastradas no Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (SIMLAM) e 46% em propriedades não cadastradas. Também chama a atenção a concentração de focos em algumas Terras Indígenas (TI), que registraram 2.289 focos no período, o que corresponde a 25% do total. Entre elas, as que mais queimaram foram a Pimentel Barbosa, com 352, Parabubure, 349, Xingu, 216, e Paresi, com 157 focos registrados no período. Já em assentamentos rurais foram registrados 1.325 focos (15% do total). Veja tabela baixo.
Área de ocorrência |
01 a 31/07/10 |
01 a 10/08/10 |
Total |
Percentual |
Áreas cadastradas no SIMLAM |
841 |
331 |
1172 |
13% |
Áreas não cadastradas |
2314 |
1743 |
4057 |
46% |
Assentamentos |
691 |
634 |
1325 |
15% |
Terras Indígenas |
1307 |
982 |
2289 |
25% |
Unidades de Conservação |
20 |
46 |
66 |
1% |
TOTAL |
5173 |
3736 |
8909 |
100% |
Fonte: INPE (Modis Terra & Acqua TM), Análise ICV
Para Laurent Micol, coordenador executivo do Instituto Centro de Vida (ICV) a situação se agravou este ano principalmente pelas condições climáticas, com o tempo mais seco. Para ele, esse fato colocou o estado numa condição de fragilidade agravando situações que normalmente seriam mais facilmente controladas. “A situação do fogo esse ano é resultado de uma condição climática, que se repete a intervalos mais ou menos regulares. O que está acontecendo nos mostra que ainda não estamos preparados para lidar com uma seca mais acentuada”, avaliou.
Contudo, Micol também pondera que é preciso intensificar a fiscalização e a responsabilização de quem coloca fogo no período proibido, embora reconheça as dificuldades operacionais para isso, como a localização da origem do incêndio. De acordo com ele, em 2008 foi proposta a criação de um grupo de peritos para ajudar nesse trabalho, o que não aconteceu.
O coordenador do ICV ressalta que o fator principal que pode ter efeito imediato nesta situação crítica vivenciada por Mato Grosso é a conscientização da população. “Só se pode conter a incidência de fogo no estado com o empenho da população, respeitando o período de seca em que é proibida esta prática”, reforçou. “Ao governo cabe aumentar as campanhas informativas e ter uma estratégia eficiente colocando o aparato necessário para o controle nas áreas de maior risco”.
De acordo com Laurent Micol, fica difícil fazer uma avaliação mais detalhada da ação governamental já que a comissão de acompanhamento do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Estado do Mato Grosso, que prevê a participação da sociedade, até hoje não foi implementada. “A sociedade precisa ser parte do acompanhamento e das soluções”, reforça.
Micol analisa que além dos impactos locais, como perdas econômicas e problemas de saúde, o fogo em Mato Grosso gera prejuízos ambientais em escala global, com a emissão de gás carbônico (CO2). “Isso compromete o esforço de reduzir a emissão de gases do efeito estufa através do combate ao desmatamento”, exemplifica. “Nessa situação, o estado volta a contribuir fortemente no agravo das mudanças climáticas”, conclui.
Este ano, em Mato Grosso, o período que proíbe as queimadas foi decretado entre 9 de julho e 15 de setembro.
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