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Economia
Quinta - 12 de Agosto de 2010 às 09:45

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Em artigo no influente diário britânico Financial Times, o diretor-executivo do instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, Norman Gall, alerta para o risco de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "por em risco seu legado" por conta das polêmicas envolvendo as políticas de seu governo para o petróleo.

Intitulado "Euforia com o petróleo põe em risco o legado de Lula", o texto encadeia argumentos críticos ao que o autor considera serem ambições de "escala demasiadamente grande e perfil demasiadamente alto" assumidas pela Petrobras em sintonia com os benefícios políticos para o governo.

"Lula está usando a imagem do Brasil como potência petroleira emergente como uma arma política, invocando sentimentos de triunfalismo para ajudar a levar o PT à vitória (eleitoral)", escreve Norman Gall.

Em outro trecho, o acadêmico afirma: "Da mesma forma que (na legenda) Ícaro viu suas asas de cera derreterem quando voou perto demais do sol, Lula está arriscando seu legado à medida que as polêmicas se multiplicam em relação às suas políticas petroleiras".

Polêmicas

Entre as controvérsias tratadas pelo artigo está o que o autor denomina uma "estranha política da descoberta", afirmando que a candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff, estava à frente do conselho de administração da Petrobras justamente quando o governo preparava o projeto do pré-sal, que dará mais poderes à estatal sobre as novas reservas.

A outra questão, para o autor, é a segurança. "A explosão do poço Macondo, da BP, em abril, expôs as dificuldades de exploração petroleira em águas profundas", diz.

Situadas a uma profundidade muito maior no Oceano – e bem mais distantes da costa que os poços da BP –, as reservas da Petrobras colocam para a empresa "desafios logísticos" de escala muito mais impressionante, argumenta Gall.

O artigo lembra ainda que a legislaçãco do pré-sal coloca a estatal como operadora única dos campos de petróleo descobertos na área e que os ambiciosos planos da empresa vão requerer investimentos de US$ 224 bilhões no médio prazo.

"As necessidades financeiras da companhia são tão grandes agora que fazem parecer pequena a capacidade de investimento do governo federal do Brasil, em um país que precisa desesperadamente gastar mais em infraestrutura e educação."

Para Normal Gall, isso também deve "tirar recursos de outras prioridades", como a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016, a hidrelétrica de Belo Monte e o trem-bala entre Rio e São Paulo.

"Quando Lula chegou ao poder, em 2003, teve a sabedoria de reconhecer que os brasileiros não aceitariam um retorno à inflação crônica que impediu seu bem-estar durante décadas. Os críticos agora argumentam que o aumento no gasto público, junto com as polêmicas financeiras envolvendo as descobertas de petróleo, pode significar um infeliz retorno ao passado", escreveu.

"Se o Brasil não endireitar suas prioridades, Lula pode descobrir em breve que sua reputação está afundando à mesma profundidade que as reservas de petróleo que tanto entusiasmaram seu país."






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