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Copa do Mundo 2010
Segunda - 12 de Julho de 2010 às 07:43

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A palavra meio-termo não existe para Diego Armando Maradona. Como em toda a sua vida profissional e pessoal, o treinador da seleção argentina viveu com intensidade a Copa do Mundo da África do Sul. Da euforia com o início arrasador à decepção com o fracasso da eliminação nas quartas contra a Alemanha.

Na carreira, muitos gols, títulos, brigas e polêmicas. Deixou a Copa do Mundo pela porta dos fundos em 1994, depois de ser pego em um exame antidoping. Fora dos campos, amantes, bebedeiras, overdose de cocaína e até internação na UTI por consumo excessivo de croissants de doce de leite, em 2004, quando pesava 120 quilos.

Recuperou-se do momento turbulento iniciado com o fim da carreira, mas não mudou sua personalidade folclórica. Para o seu bem e alívio de seus fãs, os exageros mostrados na África do Sul em nada lembraram os que cometia quando esteve perto da morte.

Antes mesmo de chegar ao Mundial, pediu que a concentração da seleção argentina em Pretória fosse equipada com privadas de seu gosto. Em caso de título, prometeu correr pelado pelo Obelisco (monumento histórico de Buenos Aires). Atitudes que se encaixam perfeitamente na intensidade "maradoniana".

Nos treinos, assumiu o papel de protagonista. Escondia Messi e seus companheiros para brilhar no lugar. Exagerava nos gritos, palavrões, beijos e abraços nos jogadores e na apresentação de seus dotes futebolísticos em cobranças de falta. Regia a atividade ciente de que todas as câmeras estavam voltadas para ele e não se importava em acender um charuto.

Quando chegavam as entrevistas coletivas obrigatórias, nada de discurso político. Ataques, muitas vezes gratuitos, a Pelé, Platini, Jabulani, árbitros, o que pintasse pela frente em seu pensamento explosivo e original, mas muitas vezes contraditório. Dizia com ironia que Pelé o ama, mas lembra do brasileiro mesmo quando não é questionado.

Mostrou uma relação mais amigável com a imprensa. Brincou, fez piada e até cantou parabéns para um jornalista que comemorava aniversário. Atitudes opostas aos tiros de espingarda na época de jogador e insulto verbal com o famoso "que chupem todos", desferido após a classificação argentina nas Eliminatórias.

Na beira do campo, noventa minutos em pé. Reclamações pelos sarrafos em Messi, vibrações, broncas, tudo sem fugir ao seu estilo. De terno, deu até peixinho quando Palermo marcou gol contra a Grécia e via suas manias recompensadas. Superstições como usar dois relógios, sentar sempre no mesmo banco, repetir o terno e outros exageros

Para se sentir em casa, família completa. O staff de suporte emocional do treinador incluía namorada, irmão, sobrinho, filhas e dois genros convivendo na mesma concentração. Fernando Molina, espécie de assessor pessoal contratado pela Federação Argentina, e Sergio Agüero, uma de suas "23 feras", expressão que virou célebre por ser repetida à exaustão.

Viveu a euforia pela primeira fase avassaladora, com vitórias contundentes contra Nigéria, Coreia do Sul e Grécia. Falava que não queria ser favorito ao título, mas transparecia em cada palavra, gesto ou expressão que estava com expectativas exageradas em um time que, se tinha um ataque brilhante, apresentava falhas bisonhas na zaga mesmo contra seleções mais fracas.

A eliminação não poderia ser menos intensa: 4 a 0 para a Alemanha em uma partida que confirmou o tamanho dos buracos da seleção argentina. Teve discussão com alemães, choro no vestiário, abraço de mais de um minuto com a filha, abatimento comovente e declarações mais condizentes com uma tragédia.

"É o dia mais duro da minha vida. Sinto como se tivesse levado um soco de Muhammad Ali. Não tenho forças para nada". Estas foram suas últimas palavras oficiais na África do Sul. Dez horas depois, um voo arrumado às pressas para Buenos Aires levava a figura mais carismática do Mundial de volta para casa e abria espaço para excentricidades como o "polvo vidente" e a torcedora paraguaia seminua.

Se os argentinos não tiveram o (des) prazer de ver Maradona pelado, pelo menos acompanharam uma despedida dos Mundiais mais digna do eterno ídolo. Pela porta da frente, sem a vergonha de um doping. Com o exagero marcante de sua vida, é verdade. Mas desta vez como evidência de que um novo Maradona, mais humano e menos distante de seus súditos, está em construção.





Fonte: Terra

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