A queda no número de espécies de polinizadores, como pássaros e abelhas, devido a doenças, mudanças climáticas e urbanização levou pesquisadores a perguntar o que aconteceria no processo reprodutivo de plantas que dependem desses animais.
Sarah Bodbyl-Roels, da Universidade do Kansas, estuda a Mimulus (Mimulus guttatus), pequena flor amarela que cresce em córregos na América do Norte. A transição de planta que necessita de polinizadores para planta que não precisa já foi demonstrada em várias espécies, disse a pesquisadora na conferência "Evolution 2020", em Portland, Oregon (EUA). Mas esse tipo de transição evolutiva não foi observada "em ação", disse ela, que apresentou um estudo mostrando esse processo.
Bodbyl-Roels dividiu 12 mil Mimulus em quatro grupos. Dois desses grupos foram plantados em um campo aberto, os outros dois foram plantados em uma estufa onde ficaram isolados de seu polinizador natural, abelhas do gênero Bombus. A pesquisadora deixou as plantas crescerem por cinco gerações sem serem perturbadas.
Diferentes das flores naturais, as flores que foram forçadas a se autofecundar apresentavam flores fechadas e menores, nas quais os órgãos sexuais masculinos e femininos mostravam-se mais próximos entre si, disse Bodbyl-Roels na conferência.
Mais importante, quando ela avaliou quantas sementes as flores autofecundadas produziram - uma medida da sua habilidade de reprodução e sobrevivência - ela descobriu que, embora a produção tenha caído nas três primeiras gerações, ela voltou a crescer. Ao chegar à quinta geração, a produção de sementes estava no mesmo nível das flores que não se autofecundavam.
Bodbyl-Roels identificou duas regiões de DNA que estão ligadas a essas mudanças físicas e disse que encontrou evidência de que a diversidade genética foi reduzida nos autofecundadores. Segundo ela, o fenômeno deve ocorrer também em outras espécies.
A boa notícia é que algumas flores parecem ser capazes de se recuperar, pelo menos no curto prazo, quando seus polinizadores naturais desaparecem. No entanto, Jeffrey Karron, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee adverte que, no ambiente natural, plantas que se autofecundam e vivem ao lado de Mimulus podem acabar tomando conta da área durante a primeira queda em produção de sementes.
Bodbyl-Roel lembra que, no longo prazo, autofecundação reduz a diversidade genética, gerando plantas que são menos capazes de lidar com mudanças ambientais.
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