O candidato da chanceler Angela Merkel, Christian Wulff, foi eleito presidente da Alemanha pelo Parlamento em uma vitória constrangedoramente demorada, que levou três rodadas de votação. O resultado desta quarta-feira é um duro sinal da falta de apoio político de Merkel.

A Presidência ficou vaga após a inesperada renúncia de Horst Köhler, eleito no ano passado para um segundo mandato.

Na primeira votação, o político democrata-cristão e ainda chefe do Governo da Baixa Saxônia, Wulff teve 600 votos. Já o candidato da oposição social-democrata e verde, o independente Joachim Gauck, conseguiu 490 votos. A jornalista Lukretia Jochimsen, indicada pela Esquerda, conseguiu 123, e o candidato da extrema-direita Frank Rennicke recebeu três votos.

Na segunda consulta, Wulff conseguiu 615 votos, Gauck 490, Jochimsen 123, Rennicke 3, por sua vez um voto foi declarado nulo e 7 delegados se abstiveram. O resultado deixou Wulff com oito votos a menos do que a maioria absoluta e 29 votos a menos da somatória das cadeiras da coalizão governista.

Finalmente, na terceira e última consulta, Wulff foi eleito com 625 votos. Seu principal adversário, o ex-ativista de direitos humanos da Alemanha Oriental Joachim Gauck levou 494 votos, segundo o porta-voz do Parlamento, Norbert Lammert.

O resultado do segundo turno supõe um sério revés para a chanceler e sua aliança de democrata-cristãos (CDU), social-cristãos bávaros (CSU) e liberais (FDP), que não conseguiram impor disciplina em suas fileiras para conseguir a eleição de Wulff nas duas primeiras votações.

Entre as duas votações, Merkel apelou pessoalmente aos representantes do CDU, CSU e FDP na Assembleia Federal para que votassem de uma maneira "responsável" e evitassem uma terceira votação, que desta vez se decidirá pela maioria simples.

Apesar de tudo, a chanceler só conseguiu que o número de dissidentes nas fileiras de sua coalizão passasse de 44 para 29, insuficiente para conseguir a escolha de Wulff, que agora deverá esperar à terceira votação para ser confirmado, correndo o risco de que o voto dos candidatos sem possibilidades, dos abstencionistas e dos rebeldes beneficiem seu rival Gauck.

Os resultados das duas primeiras votações constatam o clima de crise que se vive no seio da coalizão governamental, enfrentada praticamente desde o dia de sua constituição após as eleições legislativas de setembro.

Social-democratas e verdes fizeram uma chamada à esquerda e a dissidência nas fileiras dos partidos do governo para que deem seu voto a Gauck, o candidato independente que, além disso, conta, segundo todas as pesquisas, com o maior respaldo popular.

Köhler anunciou no último dia 31 de maio sua renúncia, poucos dias após dar polêmicas declarações sobre o Afeganistão. Segundo ele, o motivo da renúncia seriam as críticas às suas declarações sobre a ação militar e os interesses comerciais da Alemanha no país.

O presidente na Alemanha tem tradicionalmente pouca influência política, mas a eleição desta quarta-feira carrega poderoso simbolismo já que muitos especulam que a derrota de Wulff pode dar o golpe final do colapso.