Tutancâmon, o rei-menino do Egito antigo, morreu de anemia falciforme, uma doença genética, não de malária, segundo cientistas alemães.

A causa da morte de Tutancâmon tem sido motivo de especulação desde que seus restos mumificados foram encontrados em 1922. Ele morreu por volta de 1.358 a.C., aos 19 anos, após ter governado por apenas nove anos.

A primeira extensa investigação científica da múmia foi relatada no começo do ano em um artigo no periódico Jama ("Journal of the American Medical Association") pela equipe liderada pelo arqueólogo chefe do Egito, Zahi Hawass.

Com base em uma série de testes, incluindo raio-X e análise genética, o grupo de Hawass concluiu que uma doença óssea genética enfraqueceu o rei e um ataque de malária o matou.

Necrose severa nos ossos do pé esquerdo de Tutancâmon e a detecção de genes de Plasmodium falciparum, o parasita causador da malária, foram as principais evidências a favor da conclusão de Hawass.

Mas, em uma carta nesta semana para o Jama, Christian Timmann e Christian Meyer, do Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical, em Hamburgo, Alemanha, sugere que as observações do grupo egípcio podem ser mais bem explicadas por um diagnóstico de anemia falciforme.

ANEMIA

Pessoas com anemia falciforme têm uma mutação no gene de hemoglobina que faz com que as células vermelhas do sangue se tornem rígidas e assumam a forma de uma foice.

Uma única cópia do gene defeituoso aumenta a imunidade a malária, o que o torna comum em áreas onde a doença é endêmica, como no Egito antigo. Duas cópias do gene defeituoso, porém, causam anemia severa, e portadores dessas mutações morrem jovens.

Timmann e Meyer salientam que a anemia é a causa mais comum de problemas ósseos como os identificados em Tutancâmon. As células sanguíneas deformadas bloqueiam capilares, impedindo que o oxigênio chegue aos tecidos ósseos. E os pais do rei-menino era parentes próximos, aumentando as chances de que ambos possuíssem o gene defeituoso de hemoglobina.

Apesar de sua maior imunidade, pessoas com anemia falciforme podem carregar em seu sangue o parasita da malária. No caso de Tutancâmon, uma infecção poderia causar uma crise de anemia, privando os órgãos de oxigênio, diz Timmann.

COLABORAÇÃO?

Membros da equipe de Hawass consideraram a sugestão interessante e plausível e dizem que estão investigando a possibilidade. Isso envolveria testar a presença do gene defeituoso na múmia do rei.

Timmann disse que poderia realizar o teste em uma hora, mas, ao se oferecer para colaborar com a equipe egípcia, não recebeu resposta.

Outros grupos também gostariam de receber informações dos cientistas egípcios. Em uma outra carta ao Jama nesta semana, um par de pesquisadores americanos sugere que Tutancâmon e seus parentes podem ter sofrido de uma síndrome hormonal que causa, dentre outras coisas, deformação do crânio e pouco desenvolvimento do genital masculino. Eles precisam de fotos detalhadas do crânio do pai de Tutancâmon, mas a equipe egípcia, que tem acesso exclusivo às múmias, ainda não divulgou as imagens.