Dessa forma, Sandra Maria Monteiro, 29, descreveu ontem como era o relacionamento com o pai, o lavrador José Agostinho Bispo Pereira, 54, preso na terça passada em um povoado de Pinheiro, no interior do Maranhão.
Segundo a polícia, os dois tiveram juntos sete filhos.
Analfabeta e abandonada pela mãe, Sandra contou à Folha que viveu desde os 12 anos sem saber que a violência sexual, o cárcere privado e os maus-tratos cometidos pelo pai eram crimes.
Disse que, quando tinha cinco anos, a mãe deixou a família. Contou que foi vítima do primeiro estupro aos 12 anos, antes de menstruar.
"Ele disse pra mim que ia fazer um serviço e que era pra não dizer pra ninguém. Fiquei com medo de dizer e ele fazer qualquer coisa."
Albani Ramos/Folhapress | ||
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No Conselho Tutelar, sete filhos que Sandra Maria diz ter tido com o pai aguardam atendimento |
Pai Desconhecido
O primeiro filho-neto nasceu quando ela tinha 15 anos. Hoje, as sete crianças têm de dois meses a 13 anos.
Os filhos têm certidão de nascimento com pai desconhecido. Sandra disse que escondeu a situação até de um irmão, único que ainda morava na mesma casa.
Apenas um dos sete partos ocorreu em um hospital.
Só o menino de 13 anos frequenta a escola, o que garante R$ 60 do programa Bolsa Família, única renda da casa.
A família vivia afastada de vizinhos em uma ilha de difícil acesso, a 340 km de São Luís. As crianças foram encontradas subnutridas, quase sem roupas, com piolhos.
A irmã Maria Sandra, 31, disse que também foi abusada sexualmente pelo lavrador e que teve um filho dele.
Efe |
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Imagem cedida pela polícia mostra o lavrador José Agostinho Bispo Pereira, 54, acusado de abuso sexual |
Sem Medo
Sandra e os filhos foram retirados de um casebre do povoado em uma ação do Ministério Público e Conselho Tutelar. Seu pai está preso.
Ela e seis filhos --o bebê de dois meses está com um parente-- estão na sede do conselho, agora alimentados, de banho tomado, cabelos cortados e roupas limpas.
Apreensiva com as entrevistas, ela falou, de cabeça baixa, que no dia do resgate tinha saído de casa para arrancar um dente com uma vizinha. E estranhou o movimento da polícia no lugar.
Consciência
Sandra diz que agora, ciente dos crimes que sofreu, não teme consequências do processo que o pai terá de enfrentar. "Sempre disse pra ele procurar mulher fora."
Na entrevista à Folha, só chorou quando falou sobre a guarda dos filhos. "Fico aqui [no conselho] até o dia que eles quiserem, mas sempre com as crianças. Até o meu bebê eu quero de volta. Se eu conseguisse, queria também voltar pra minha casa. Aqui na cidade não me agrada morar, lá me sinto melhor."
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