O Brasil possui uma extensa área que pode ser usada para florestas de eucalipto, mas a entrada de novos investidores e a disputa com outros plantios está elevando os preços das terras e poderá aumentar os custos da produção de celulose no país no futuro.

O preço do hectare no Maranhão, em terras de reflorestamento, saltou de R$ 1.700 reais em 2008 para R$ 3.000 atualmente, de acordo com a analista Jacqueline Bierhals, da AgraFNP. A Suzano Papel e Celulose será a primeira do setor a instalar uma fábrica naquele Estado.

"Na nova fronteira, os preços ainda têm espaço para subir", disse ela, referindo-se ao Norte e Nordeste, regiões que passaram mais recentemente a abrigar fábricas de celulose da Suzano e, antes, da Fibria.

Matéria-prima para a maioria da celulose brasileira, o eucalipto é a principal vantagem competitiva para produtoras nacionais, já que a madeira usada para celulose no hemisfério Norte --o pinus-- demora mais que o dobro do tempo para chegar ao ponto de corte.

"Se o preço (da terra) sobe, os custos de produção de celulose também aumentam, reduzindo as margens das produtoras", disse o professor do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Alberto Labate.

As empresas brasileiras de celulose têm a maioria do eucalipto que usam de florestas próprias, mas também compram de produtores independentes. No caso da Suzano, por exemplo, 27% da madeira é adquirida de terceiros.

Fomentar o plantio por parceiros não é uma tarefa fácil. Apesar da boa rentabilidade, o eucalipto demora alguns anos para gerar receita, o que faz com que alguns proprietários de terras optem por grãos ou cana-de-açúcar --com ciclos mais curtos de cultivo.

Segundo a Associação Brasileira da Celulose e Papel (Bracelpa), o Brasil tem 1,62 milhão de hectares de florestas plantadas de eucalipto --contra 23,3 milhões de hectares da área de soja na safra 2009/10 e 8,1 milhões de hectares de cana-de-açúcar em 2010/11.

Dados do Ministério da Agricultura apontam para 90 milhões de hectares de área livre sem degradação para agricultura e 200 milhões de hectares de pastos, que podem ser usados para novas culturas. Para especialistas ouvidos pela Reuters, as pastagens --equivalentes ao tamanho do México-- são ideais para o crescimento do eucalipto no Brasil.

"O eucalipto pode ser plantado em áreas degradadas por pastagens. Não é preciso relevo plano", comentou o diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht. Para a cana-de-açúcar, o solo plano é importante, já que o plantio e a colheita são cada vez mais mecanizadas.

Fundos

Em 2009, foram produzidas quase 13,5 milhões de toneladas de celulose no Brasil. Segundo a Bracelpa, entre 2016 e 2017, a produção anual deverá ser de 21 milhões de toneladas. A expectativa de aumento de 56 por cento na produção de celulose no país nesse intervalo está atraindo investidores em florestas de eucalipto.

O fundo "Florestas do Brasil", criado em 2009 pela Claritas, têm hoje 10 mil hectares e previsão de alcançar de 20 mil a 25 mil hectares em três anos, segundo o gestor do fundo Marcelo Sales. A área representa um quarto dos 100 mil hectares plantados necessários para abastecer de eucalipto uma fábrica com capacidade de 1 milhão de toneladas de celulose.

"O aumento do interesse de investidores pela celulose brasileira vai abrir espaço para o mercado de eucalipto, com preços seguindo a lei da oferta e demanda", afirmou Sales.

O diretor florestal da Suzano, João Comério, considera as regiões Sul e Sudeste do país "saturadas". Para ele, dentro de 10 anos outras partes do Brasil ficarão em situação semelhante, o que pode fazer com que produtoras brasileiras de celulose busquem florestas em outros países, sobretudo na América do Sul.