Peixe carismático pode virar "sopa", diz cientista
A valorização do cascudo-zebra (Hypancistrus zebra) tem seu lado negro: de tanto ser coletado para virar bicho de estimação, o animal se tornou ameaçado antes que o projeto de Belo Monte decolasse. "Esse tipo de coleta movimenta a economia da região", diz Buckup.
Muitos outros cascudos habitam as regiões de corredeiras, os chamados pedrais, nas bacias do Xingu e do Tapajós, essa também sob risco de ser afetada por grandes empreendimentos hidrelétricos.
Buckup calcula em algumas centenas as espécies desconhecidas nesse tipo de ambiente nas duas bacias. "Áreas de corredeiras são conhecidas por apresentar uma fauna muito característica e diferente da que ocorre em ambientes mais lentos", diz Leandro Melo de Sousa, doutorando do Museu de Zoologia da USP.
Além dos cascudos, há os chamados canivetes, que gostam do fundo de pedras, peixes elétricos e bagres de hábitos noturnos. "Os animais têm adaptações para ambientes de alta energia, como órgãos adesivos, corpo achatado e nadadeiras estendidas", conta Lima.
São essas adaptações que tornam os bichos incapazes de sobreviver com a criação de uma barragem. Na parte coberta pelo lago da usina, o fundo se torna inóspito, pouco oxigenado. O lago de Belo Monte será relativamente pequeno, mas o problema, temem os ictiólogos, será a diminuição da vazão da água em certas épocas do ano.
"A água já é quente. Vai ficar ainda mais quente e muito rasa. Aquilo vai ser uma sopa de cascudo", compara Lima.
Comentários