Levantamento feito pelo R7 mostra que muitos deles também faltaram mais em 2010
"Elite" da Câmara aumenta gastos com divulgação
Considerados a elite da Câmara dos Deputados, integrantes da Mesa Diretora e lideranças dos partidos na Casa aumentaram gastos com divulgação da atividade parlamentar em 2010, conforme mostra levantamento feito pelo R7. No ano em que muitos deles tentarão renovar seu mandato, é possível verificar que muitos destes deputados também passaram a faltar mais.
Comparação feita entre os primeiros meses de 2009 e os primeiros de 2010 mostra que dos 11 integrantes da Mesa Diretora – órgão que dirige a Câmara – e 16 líderes de bancada, seis deles aumentaram os gastos e passaram a faltar mais, enquanto outros nove gastaram mais e seis foram mais ausentes. Apenas seis não faltaram mais nem aumentaram os gastos.
Há casos de aumentos expressivos nos gastos, como a da deputada Vanessa Grazziotin (AM), líder do PCdoB, que gastou mais de R$ 50 mil na mesma empresa num único mês, sob o pretexto de divulgar a atividade parlamentar, ou seja, explicar para a população o que o deputado está fazendo no cargo.
O dinheiro faz parte de uma cota que os deputados ganham além do salário para gastar com despesas relacionadas ao trabalho, como contas de telefone, aluguel de escritório nos Estados e gasolina. Até setembro do ano passado, essa cota era de no máximo R$ 15 mil e não incluía gastos com passagens aéreas. A partir daí, foi unificada com as passagens e aumentou para cerca de R$ 35 mil, dependendo do Estado de origem do parlamentar. O que não for usado em um mês pode acumular para o outro. A partir de abril, entretanto, devido à lei eleitoral, os deputados não poderão mais usar a cota com divulgação.
Vanessa gastou R$ 54.700 na Gráfica Ampla somente em março deste ano. Em fevereiro, foram outros R$ 21.800 na mesma empresa. O gasto nos dois meses de 2010 com a divulgação do mandato é 2,5 vezes maior do que o que foi gasto com a mesma finalidade nos três primeiros meses de 2009. Procurada para explicar a alta nos gastos, a deputada informou, por meio de sua assessoria, que aproveitou a unificação das cotas para priorizar a área comunicação. Ela disse que publicou boletins sobre a Lei Maria da Penha e “comunicou-se com o público por meio de outdoor, televisão e rádio”.
Outro parlamentar que usou grande parte da sua cota em comunicação foi Manoel Júnior (PMDB-PB), 4º suplente da Mesa Diretora. Foram R$ 50.762 nos três primeiros meses de 2010 contra nenhum gasto nesse quesito no mesmo período de 2009. A maioria nas empresas Sanches & Fontinelle e Rick de Paula Produções. Ao R7, Manoel Júnior disse que todas as despesas foram “feitas com empresas idôneas”.
- A gente cumpre rigorosamente aquilo que dispõe o regulamento da mesa. Essa diferença pode ter a ver com dois jornais que eu fiz em dezembro para distribuir um no Estado e outro em João Pessoa. Parte do valor a gente parcelou para este ano.
Questionado se o jornal tinha finalidade eleitoral, o deputado negou.
Líder do PDT, o deputado Dagoberto (MS) também tem gastos altos com divulgação no início de 2010. Foram R$ 57.206 em três meses, a maioria deles gastos na Gráfica Nacional, contra nenhum gasto com a rubrica no mesmo período de 2009. Do mesmo partido, o 1º suplente da Mesa, Giovani Queiroz (PA), gastou em divulgação em janeiro, fevereiro e março de 2010 R$ 21.410, contra R$ 6.400 em 2009. Os pedetistas foram procurados, mas não comentaram os gastos.
Os paulistas Odair Cunha (PV), 3º secretário da Mesa, e Marcelo Ortiz, 1º suplente, também aumentaram a verba usada na divulgação do mandato. Cunha foi de um gasto de R$ 3.500 nos três primeiros meses de 2009 para R$ 26.690 em 2010, distribuídos, sobretudo para jornais e rádios. Já os gastos de Ortiz aumentaram de R$ 19.120 para R$ 27.150. A assessoria do petista informou que parte do dinheiro foi para fazer um jornal de divulgação do mandato. Já Ortiz justifica que “o gasto é normal” e que considera até “divulga mal a atividade parlamentar para não ultrapassar as despesas de cota”.
Outros integrantes da Mesa cujos gastos com comunicação aumentaram foram o 1º vice-presidente, Marco Maia (PT-RS), e o 4º secretário, Nelson Marquezelli (PTB-SP). Os gastos de Maia com divulgação, inexistentes nos primeiros meses de 2009, foram a R$ 12.420 em 2010. A assessoria dele informou que parte do dinheiro foi gasta para um informativo para a região do Alto Paraguai. Já Marquezelli, cujos gastos foram de R$ 4.800 para R$ 24.750, disse, também via assessoria, que o dinheiro foi gasto para divulgar a CPI do Banespa, que o deputado é autor.
Há ainda um grupo em que tanto as faltas quanto os gastos com divulgação aumentaram. Fazem parte dele Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Edson Duarte (PV-BA), Fernando Coruja (PPS-SC), Antônio Carlos Magalhães Neto, Hugo Leal (PSC-RJ), Sandro Mabel (PR-GO), Paulo Bornhausen (DEM-SC) e João Almeida (PSDB-BA).
Procurada, a assessoria de Alves não se manifestou. O gabinete de Duarte pediu que a reportagem falasse diretamente com o deputado, que não atendeu as ligações. A assessoria de Coruja não respondeu. A assessora de ACM Neto também indicou que somente o deputado poderia falar sobre o assunto, mas ele não atendeu o telefone na semana passada; a empresa que faz assessoria de Leal disse que o dinheiro foi destinado a jornais, discursos e atualização do site. Procurados, Mabel e Bornahusen não responderam. João Almeida disse que “sempre gasta a verba todo ano”.
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