A operação de risco com dinheiro de pensionistas, servidores ativos e aposentados do município do Rio, será investigada pela Câmara de Vereadores. Com o argumento de que o desvio pode afetar ainda mais as combalidas contas do fundo de pensão, os vereadores Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) e Paulo Pinheiro (PPS) começam já na segunda-feira a recolher assinaturas para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
O Tribunal de Justiça do Rio negou dois pedidos, feitos pelas operadoras do empréstimo, de que as contas bloqueadas fossem liberadas. Para a vereadora Andrea Gouvêa Vieira vai ser difícil recuperar os R$ 70 milhões aplicados pela direção do Previ-Rio sem aval dos Conselhos de Administração e de Investimentos da entidade.
O vereador Paulo Pinheiro questiona se é verdade que "ninguém (na Prefeitura do Rio) sabia" da operação. "Por que o presidente tinha tanta autonomia?", pergunta.
A proposta da CPI é investigar o caso denunciado e também as movimentações financeiras do fundo que garante pensões e aposentadorias municipais. A vereadora Andrea Gouvêa Vieira lembra que a gestão do Previ-Rio teve outros problemas nos últimos anos. "Desde 2005 o Tribunal de Contas Municipal ordenou à Prefeitura do Rio que repasse ao Fundo R$ 1 bilhão e não foi feito. Um estudo do órgão apontou que, entre 2014 e 2016, vai faltar dinheiro para pagar o trabalhador", explicou.
Esse baque, de acordo com a vereadora, vai piorar ainda mais as contas do Instituto de Previdência, que já estariam "na corda bamba".
Para Paulo Pinheiro, o ato foi uma "ousadia com dinheiro dos outros". O parlamentar, funcionário público no Rio há 34 anos, disse que os mecanismos de fiscalização podem ter sido burlados e também levantou suspeitas sobre envolvimento da aplicação na licitação do espaço ocupado pelo Porcão Rio¿s, no Aterro do Flamengo. "Temo até pela minha aposentadoria. Foram dois erros graves: investir recursos sem autorização do Conselho de administração do Previ-Rio e aplicar dinheiro em empresa jovem, sem garantia", alerta.
O parlamentar criticou ontem a liberdade da entidade e defendeu a fiscalização pela Câmara Municipal, que está em recesso desde a última quinta-feira. Ele espera obter já na próxima semana as 17 assinaturas necessárias para requerer a CPI. ¿Estamos falando da garantia de uma velhice tranquila e ninguém pode brincar com isso¿, destacou.
Na última quinta-feira, o jornal O DIA revelou, com exclusividade, que o prefeito Eduardo Paes abriu sindicância para apurar uma aplicação do órgão que administra a previdência municipal. A coluna ainda informava que o dinheiro já está bloqueado pela Justiça e levou à exoneração, em 15 de março, do presidente do Previ-Rio, Marcelo Cordeiro, e seu diretor financeiro, Luciano Barbosa Filho.
A irregularidade começou em janeiro deste ano com o investimento de R$ 70 milhões dos cofres do Previ-Rio em contrato de alto risco. Operados pelas empresas BNY Mellon Distribuidora de Títulos e Aster Asset Management, os recursos foram depositados em conta do Bradesco.
Parte do dinheiro foi usado para comprar títulos da empresa Casual Dining, com prazo de regaste de 10 anos. O saque só poderia ser feito em, no mínimo, três anos e pagando multa. A movimentação chamou atenção da Casa Civil porque não usou um dos bancos oficiais, Caixa Econômica ou Banco do Brasil, como é praxe. A Casual Dining pertence ao grupo que é dono de 14 restaurantes, entre eles, o Garcia & Rodrigues, em Ipanema. O mesmo grupo venceu, em 2009, licitação para operar o restaurante onde hoje fica o Porcão Rio¿s, no Flamengo.
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