Jurista diz que STF é conservador e não deve aceitar pedido do procurador Roberto Gurgel
Congresso vai decidir intervenção do DF
O pedido de intervenção federal no governo do Distrito Federal feito na última quinta-feira pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao STF (Supremo Tribunal Federal) pode ser decidido em uma sessão extraordinária no Congresso Nacional. Essa intervenção significa tirar todo o poder do governo eleito e entregá-lo a um interventor indicado pelo presidente da República.
Gurgel pediu para que o STF aprovasse a intervenção tanto do Poder Executivo quanto do Legislativo do Distrito Federal por considerar que o governador afastado, José Roberto Arruda (sem partido), seu vice, Paulo Octávio (DEM), e a Câmara Legislativa estão envolvidos em um esquema de pagamento de propina para que projetos de interesse do governo fossem aprovados.
O Senado e a Câmara dos Deputados podem ter de se reunir para votar a intervenção, mas isso só vai acontecer depois de outras duas etapas, de acordo com o advogado constitucionalista Cícero Botelho da Cunha.
Primeiro o pedido da Procuradoria precisará ser aceito pelo Supremo. Se a Corte disser “sim”, a decisão vai parar na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, se também aprovar, precisará elaborar um decreto e encaminhá-lo para votação no Congresso:
- Esse decreto é submetido à votação do Congresso Nacional, que tem 24 horas para aprovar ou revogar a decisão.
O jurista disse, no entanto, duvidar que o Supremo aceite o pedido do procurador-geral por considerá-lo conservador:
- Eu acho que dificilmente o STF vai conceder essa intervenção porque é uma questão política. O pedido foi feito, mas não é tradição do STF essa vanguarda. Ele é mais conservador, mais político, recatado. Ele tende a não conceder a intervenção.
Botelho da Cunha disse que, apesar das graves denúncias, uma intervenção em qualquer unidade federativa representa tirar do governo pessoas escolhidas pelos eleitores:
- A situação é grave, mas depende muito da interpretação do Supremo, que pode considerar a intervenção uma medida extrema.
Intervenção
O especialista disse que, se o pedido de Gurgel passar pelo Supremo, pelo presidente e pelo Congresso, caberá a Lula escolher o interventor, que terá a função de administrar a cidade no lugar de Arruda:
- O presidente da República nomeia uma pessoa de confiança. Pode colocar um político ou um técnico que vai fazer as vezes do governador.
Essa intervenção pode durar por tempo indeterminado porque a Constituição afirma que o governo eleito deve ficar fora do comando até que as investigações sejam concluídas. Como 2010 é ano eleitoral, essa intervenção pode durar até o início do próximo mandato, em janeiro do ano que vem.
Mas a Constituição também dá ao Supremo o direito de estipular um prazo para que a intervenção acabe. Botelho da Cunha disse que os ministros podem conversar com a Procuradoria-Geral da República e com a Polícia Federal para escolher um período para a conclusão das investigações:
- A intervenção deveria ter o mínimo de tempo possível porque é uma medida extrema.
Ele também afirma que não acredita que o pedido de licença feito por Arruda tenha sido uma manobra para evitar a intervenção em seu governo porque “se não pedisse licença, ele seria automaticamente afastado. Ele se antecipou ao que aconteceria de qualquer forma”.
O jurista concluiu afirmando que a Procuradoria fez o pedido ao Supremo por considerar que essa seria a medida mais segura para garantir as investigações:
- Com certeza o pedido tem esta intenção: afastar essa quadrilha do comando do Distrito Federal e permitir que a vida da localidade continue normalmente.
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