Repórter News - reporternews.com.br
Ciência/Pesquisa
Domingo - 10 de Janeiro de 2010 às 10:31

    Imprimir


Getty Images
Hormônios liberados desde antes do nascimento e até os primeiros meses de vida de uma criança ditam os brinquedos e as b
Hormônios liberados desde antes do nascimento e até os primeiros meses de vida de uma criança ditam os brinquedos e as b

Os pais que tenham a esperança de proteger seus filhos contra a influência de estereótipos sexuais ao escolherem presentes neutros em termos de sexo talvez estejam travando uma batalha perdida, especialmente se os filhos em questão forem meninos. Ao que parece, hormônios liberados desde antes do nascimento e até os primeiros meses de vida de uma criança ditam os brinquedos e as brincadeiras que mais atraem os garotos.

Por volta dos três anos de idade, meninos e meninas já exibem diferenças claras em suas preferências lúdicas. Os meninos se sentem mais atraídos por veículos, bolas e brinquedos de montar que as meninas, e tendem a preferir brincar em grupos maiores, enquanto as meninas preferem brincar com algumas poucas crianças. Há forte controvérsia sobre a origem dessa diferença, com argumentos que a definem como resultado de programação biológica contrapostos a argumentos segundo os quais ela resultaria de pressões sociais.

Trabalhos recentes de pesquisa indicam que a exposição a níveis de hormônios diferenciados enquanto ainda estão no útero pode alterar as preferências que tanto os meninos quanto as meninas exibem por brinquedos "de menino", nos anos seguintes. Ninguém havia tentado determinar se os picos de testosterona e estrogênio que meninos e meninas experimentam nos primeiros meses de vida podem afetar também o seu comportamento. "Tendemos a pensar no desenvolvimento inicial de uma criança como um período no qual os hormônios não fazem efeito", diz Gerianne Alexandre, da Universidade Texas A&M, em College Station.

Para investigar os efeitos desses picos de atividade hormonal sobre o comportamento, Alexander e seus colegas utilizaram software que acompanha os movimentos dos olhos para medir os níveis de interesse dos participantes quanto a animações que mostram uma bola ou uma boneca, e uma figura isolada versus um grupo de figuras, em um teste envolvendo 21 meninos e 20 meninas com idade de três e quatro meses. Os pesquisadores mediram os níveis de estrogênio na saliva das meninas e de estrogênio nas dos meninos e compararam o comprimento dos dedos médios das crianças - que serve como marcador para o nível de exposição pré-natal à testosterona.

Os meninos expostos a nível mais elevado de testosterona, antes do nascimento demonstraram pronunciada preferência pela bola. O comportamento das meninas parecia inalterado com relação aos níveis de hormônio atuais ou pré-natais, enquanto as preferências dos meninos, de sua parte, pareciam influenciadas nos dois períodos, se bem que de maneiras ligeiramente diferenciadas.

Os meninos com nível mais elevado de testosterona em circulação demonstravam preferência mais forte por grupos de figuras do que por figuras individuais, enquanto aqueles cujo comprimento do dedo médio indicava exposição a mais testosterona no útero demonstravam preferência mais acentuada pela animação que mostrava uma bola, ante a animação que mostrava a boneca (Hormones and Behavior, DOI: 10.1016/j.yhbeh.2009.08.003).

As crianças que participaram da experiência na verdade eram pequenas demais para que essas preferências constatadas se traduzissem em escolhas reais sobre como preferiam brincar. No entanto, Alexander afirmou que, mesmo com apenas três meses de idade, preferências visuais inatas como essas poderiam servir como fator de definição do comportamento futuro. O próximo passo é testar para ver as preferências visuais demonstradas pelas crianças aos três meses de idade podem ser usadas para prever o comportamento posterior.

"É um estudo muito interessante, e acredito que motivará um grande volume de trabalhos adicionais de pesquisa", disse Melissa Hines, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que pesquisa sobre o papel dos hormônios no desenvolvimento pré-natal.

Caso os resultados obtidos no teste venham a ser confirmados em estudos com número maior de crianças, seria possível interpretá-los como indicação de que alguns aspectos de nosso comportamento ou até mesmo identidade sexual podem ser influenciados por produtos químicos capazes de perturbar a ação hormonal, tais como ftalatos ou pesticidas, tanto no ventre materno quanto nos primeiros meses de vida.

Tradução: Paulo Migliacci ME






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/146481/visualizar/