Combate ao desmatamento é chave na luta climática da América Latina
A falta de incentivos financeiros fortes e de conscientização da sociedade civil latino-americana são obstáculos que devem ser superados para combater com êxito o desmatamento, elemento chave na luta contra o aquecimento global, defenderam nesta segunda-feira (14) especialistas em Copenhague.
"Se não ganharmos o combate contra o desmatamento, não ganharemos a luta contra o aquecimento global", afirmou o colombiano Martín von Hildebrand, especialista em povos indígenas amazônicos.
A América Latina tem 800 milhões de hectares de floresta tropical --cerca de 700 milhões só na Amazônia--, duas vezes a superfície da União Europeia, destacou Yan Speranza, da ONG Fundação Moisés Bertoni, do Paraguai.
O continente é responsável por 7,5% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa. Dois terços deste total provêm do desmatamento e da agropecuária, que estão estreitamente relacionadas, explicou.
Os países latino-americanos são grandes produtores de matérias-primas, setor de rápida expansão devido à crescente demanda mundial. Segundo Speranza, a produção de matérias-primas representa 20% do PIB destes países, e a grande dificuldade é evitar que os produtores avancem sobre áreas de proteção ambiental.
Investimentos
"É necessário mudar a lógica econômica do desmatamento, com investimentos que incentivem o desenvolvimento sustentável", explicou Mariano Cenamo, do Instituto de Preservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Brasil.
Estes investimentos são estimados entre US$ 15 e 27 bilhões por ano, e sua origem --fundos públicos ou mecanismos de mercado de créditos de carbono-- é um dos pontos mais complicados, tanto na negociação em nível mundial quanto em fóruns de países latino-americanos, disse Cenamo.
Como exemplo, o especialista brasileiro apresentou um grupo de oito projetos de combate ao desmatamento no Brasil, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru que, a um custo de US$ 1 bilhão, geraria US$ 2,5 bilhões no mercado de emissões de carbono.
"O mercado pode contribuir, mas não acredito que seja suficiente e não podemos esperar que ele sozinho salve a floresta amazônica", comentou sobre este assunto Von Hildebrand.
"Os fundos devem chegar às pessoas certas, e para eles devem ser criados mecanismos de gestão com a participação dos povos indígenas", afirmou. "Não podemos defender a floresta se não levarmos a população local em conta, integrada nas decisões e responsabilizada".
No entanto, o aquecimento global não é uma questão que tire o sono da opinião pública latino-americana --que, em uma pesquisa recente, apontou a economia e a segurança como suas principais preocupações, e não o clima.
Para a argentina María Eugenia Di Paola, da Fundação Ambiente e Recursos Naturais (FARN), "é necessário despertar a consciência política e social sobre o problema".
"Os políticos tendem a governar em função das pesquisas, e nelas o aquecimento global nem sequer figura como um problema para a sociedade latino-americana", lamentou Speranza.
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