Paulo César Pinheiro fala sobre suas composições lítero-musicais
Três romances escritos em menos de três meses. Esse é um dos assuntos que será abordado na aula-show do cantor e compositor Paulo César Pinheiro nesta segunda-feira (14), a partir das 20h, na Sala do Professor Buchanan's, localizada no Bourbon Street, zona sul de São Paulo. Sob o comando do apresentador Daniel Daibem, a apresentação vai mesclar bate-papo literário com Pinheiro, porque o musical será apresentado no palco com Fabiana Cozza interpretando suas composições. Entre elas, "O Poder da Criação", "Canto das Três Raças", "Espelho", "Minha Missão" e "Lapinha5,005,00".
Em entrevista à Livraria da Folha, Pinheiro disse desconhecer e não conseguir explicar a dinâmica realização dos romances "Pontal do Pilar" (lançado recentemente pela LeYa no Brasil), "Matita, o Bruxo" e "Santa Meretriz" (a serem lançados pela editora portuguesa). "É uma coisa misteriosa e de dífícil entendimento. Eu prefiro não explicar, deixa pra lá", afirma.
A composição das 136 páginas de "Pontal do Pilar" deu-se em dez dias. O autor começou a escrever no dia 31 de janeiro para 1º de fevereiro de 2008, véspera de Carnaval. Acordou repentinamente às 3h da madrugada e, ainda com sono, foi para o escritório. Lá, finalizou duas páginas do romance, em um fluxo ininterrupto. Nos dias que seguiram, a obra foi tomando corpo e os cerca de 60 personagens instalaram-se nos 50 capítulos do volume.
Três por três
Pontal do Pilar é um lugarejo que o autor moldou em sua imaginação. Enquanto compunha, Pinheiro disse que os nomes dos personagens se apresentavam conforme surgiam na história. "Os nomes são estranhos, eu não li em canto algum. É como se eu tivesse estado em uma cidade por muito tempo, conhecesse todos os habitantes e tivesse ido embora sabendo que não ia mais voltar. Às vezes, eu relembro esse romance e me dá saudades dessa cidade imaginária", confidencia.
O cantor credita parte da descrição de Pontal ao seu conhecimento sobre Angra dos Reis. Ele passou a infância e parte da adolescência no lugar. Seus avós maternos são oriundos da região. O avô era pescador artesanal. A avó, índia de uma tribo guarani que ainda existe no litoral de Angra. O mapa de Pontal e a árvore genealógica, que ilustram o romance, são de Marcílio Godoi. "Peguei o mapa depois e vi que tinham nomes inventados por ele que existiam em Angra. Aí é que ficou mais misterioso ainda. Quando eu disse isso, ele se arrepiou", disse Pinheiro.
O segundo romance, "Matita, o Bruxo", foi inspirado na fusão de duas músicas --"Sagarana", de Paulo César Pinheiro, e "Matita Perê", de Pinheiro e Tom Jobim. O maestro ficou fascinado quando ouviu a canção inspirada no livro homônimo de João Guimarães Rosa. À época, ele começava a ler as obras do escritor mineiro e começou a rabiscar algumas notas de uma nova canção.
"Ele [Tom] me procurou porque tinha uma ideia musical. Senti uma ligação entre uma música e outra. Na verdade, na letra de "Matita Perê", eu continuei a história de Sagarana. Num dia, lendo as duas, vi que ali tinha um romance. O coração central já estava nessas duas músicas, o resto nasceu em consequência disso", explicou o compositor. "Matita, o Bruxo" será lançado pela LeYa durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) de 2010.
"Santa Meretriz", o terceiro dos volumes, também é baseado em uma canção. Sérgio Santos musicou o poema que Pinheiro compôs. "Esse poema foi gravado por Saulo Laranjeira, chama-se "Santa Rita da Serra"". Baseado nele, o compositor desenvolveu o romance, ainda sem previsão de publicação pela LeYa.
Histórias musicadas
Em 46 anos de produção lítero-musical, Paulo César Pinheiro compôs mais de 2 mil letras, publicou quatro livros de poesia, e tem engavetado mais seis. "A partir de agora tem muita coisa para desengavetar", confessa. Constam em sua lista também os dois romances acima citados, um livro das crônicas que escreveu no jornal "O Pasquim", duas peças de teatro, e um volume em curso que conta a história de suas músicas.
Este último tem o título provisório de "Histórias das Minhas Canções". O exemplar conta como o compositor elaborou cada música. "Já contei 55 histórias, 55 músicas diferentes. Numa lista grande dessas, talvez o livro fique massudo e caro. Eu não gosto de livro caro, eu quero que o leitor tenha condição de comprar e ler", esclarece.
Segundo o compositor, o volume será o primeiro de uma série que será publicada pela LeYa. Pascoal Soto, diretor editorial da editora portuguesa no Brasil, teve a ideia de convidar compositores brasileiros para que contassem as histórias de suas músicas. Para Pinheiro, as obras se tornarão um documento histórico.
Sala do Professor Buchanan's com Paulo César Pinheiro e Fabiana Cozza
Quando: 14 de dezembro, às 20h.
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo, (11) 5095-6100).
Ingresso: R$ 45 (couvert artístico)
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