Brasil nega ‘racha’ entre países em desenvolvimento
O negociador-chefe do Brasil na reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, em Copenhague, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, afirmou nesta quarta-feira que “não vê racha” no chamado G77 – grupo que representa a maior parte dos países pobres e em desenvolvimento.
O G77 reúne países emergentes como Brasil, África do Sul e Índia, mas também alguns dos mais pobres do planeta, como Burundi, Bangladesh e Suazilândia.
"É natural que haja às vezes algumas divergências, que são democraticamente discutidas, são postas na mesa e se tenta chegar a um consenso. O grupo é de fato bastante diverso e convivemos com isso", afirmou o diplomata.
No entanto, os acontecimentos desta quarta-feira surpreenderam. Tuvalu, que não participa do G77, conseguiu tecnicamente suspender a conferência sobre o clima por algumas horas, com o apoio de diversos países do grupo.
Aliança interna
Além disso, a BBC teve acesso a um documento distribuído em novembro pelos negociadores de Lesoto, outro país africano do G77, com propostas para outros países mais pobres do grupo.
No livreto Climate Change Negotiations 2009: An LDC Perspective (Negociações sobre Mudanças Climáticas 2009: uma Perspectiva dos Países Menos Desenvolvidos), existe a proposta textual de que os países menos desenvolvidos (LDC, no jargão) "se aliem aos pequenos países-ilha em desenvolvimento (Sids) e possivelmente outros".
O objetivo da aliança interna no grupos dos 77 seria "convencer os grandes emissores entre os países em desenvolvimento a chegar a um denominador comum de negociação".
A proposta diz respeito especificamente às negociações em torno de ações obrigatórias de redução de emissões contidas nos planos nacionais sob supervisão dos países industrializados.
A proposta evidentemente toca o Brasil, que está entre os maiores poluidores do grupo. O texto, no entanto, é informal, e não foi nem será apresentado durante as negociações em Copenhague.
‘Conciliar é difícil’
Nas discussões sobre metas de emissão sob a convenção do clima da ONU, o Brasil coordena o grupo dos 77 e o negociador-chefe brasileiro admite encontrar dificuldades.
"Conciliar é uma tarefa árdua e difícil", afirmou Figueiredo.
Nesta quarta-feira, Tuvalu exigiu a suspensão dos trabalhos da conferência, como forma de pressão para ter a sua proposta de acordo analisada.
O pequeno país-ilha quer um acordo legal que seja mais restritivo do que o Protocolo de Kyoto, mas enfrenta resistências até internamente no G77.
A proposta, que visa a limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, e estabilizar as concentrações de gases que provocam o efeito estufa em 350 partes por milhão (ppm), agrada a vários países do grupo.
No entanto, a concentração de 450 ppm é melhor aceita por países industrializados e alguns em desenvolvimento.
Para países emergentes, como Brasil, China, Índia e África do Sul, o limite de 350 ppm não é bem aceito, porque pode se tornar uma barreira para o crescimento econômico.
Atualmente, a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera gira em torno de 387 ppm.
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