Buraco de ozônio retém frio na Antártida, mostra relatório
O temido buraco de ozônio na atmosfera acima da Antártida funciona, paradoxalmente, como um escudo do continente gelado contra o aquecimento que assola o planeta. É só por isso que as terras antárticas ainda não esquentaram tanto quanto o resto do globo, mostra um relatório divulgado nesta terça-feira (1º).
A descoberta ajuda a entender porque, às portas do verão na Antártida, os mais de 50 ocupantes atuais da Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira no continente, passaram 48 horas confinados entre a manhã de domingo e ontem. A equipe teve de se abrigar de ventos com mais de 100 km/h e sensação térmica de 20 °C negativos.
Há, portanto, um dilema: conforme o rombo na camada de ozônio for se fechando, o que deve acontecer completamente até o fim deste século, é provável que o aumento das temperaturas finalmente atinja o coração da Antártida, dizem os cientistas do Scar (Comitê Científico de Pesquisa Antártica), responsáveis pelo novo relatório (www.scar.org).
"Nos próximos anos, o gelo marinho vai diminuir. Ele está aumentando no momento, mas não será mais assim quando o buraco de ozônio fechar --de fato, vamos perder um terço do gelo marinho", declarou o diretor-executivo do Scar, Colin Summerhayes, à agência internacional de notícias Reuters.
O relatório divulgado ontem, que reuniu dados gerados por mais de cem cientistas de oito países, chama a descoberta dessa blindagem do buraco de ozônio de "extraordinária".
Para Jefferson Simões, glaciologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o trabalho consolida os dados sobre as alterações que o aquecimento já traz para a Antártida.
"Faz todo o sentido afirmar que o buraco de ozônio está mesmo protegendo o continente antártico", diz Luciano Marani, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) responsável pelas medições da camada de ozônio na estação brasileira.
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