Entra em vigor tratado que reforma União Europeia
A União Europeia (UE) celebra nesta terça-feira a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, que estabelece uma série de reformas institucionais destinadas a tornar mais democrático o processo de tomada de decisões do bloco e a fortalecer seu papel no cenário global.
Assinado em dezembro de 2007 como alternativa à falida Constituição Europeia, reprovada em referendo por franceses e holandeses dois anos antes, o novo acordo adapta as regras da UE à estrutura de um bloco que duplicou de tamanho durante a última década.
Para isso, muitas das decisões do Conselho Europeu, órgão que reúne os governos dos 27 países da UE, deixarão de ser tomadas por unanimidade e passarão a respeitar o critério de dupla maioria qualificada a partir de 2014.
Democracia
O método exige que uma proposta seja respaldada por 55% dos países europeus que juntos somem pelo menos 65% da população total do bloco para ser aprovada.
O Parlamento Europeu (PE), cujos deputados são eleitos por voto direto, terá o direito de votar sobre a aprovação de propostas legislativas em quase todas as áreas, incluindo imigração, comércio exterior, energia, agricultura e orçamento comunitário.
Para o presidente da Eurocâmara, o polonês Jerzy Buzek, essa é a principal mudança que "representa um aumento na democracia da UE".
"Trata-se de um passo histórico. Não é exagerado dizer que estamos no início de uma autêntica democracia parlamentar federal", disse o coordenador da comissão de Assuntos Constitucionais do PE, o deputado liberal britânico Andrew Duff.
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Na tentativa de fortalecer o peso europeu nos foros internacionais, o Tratado de Lisboa cria dois altos cargos: o de presidente estável do Conselho Europeu e o de Alto Representante para a Política Exterior, ambos com mandatos de dois anos e meio, renováveis apenas uma vez.
A Presidência europeia será assumida oficialmente nesta terça-feira pelo ex-primeiro-ministro belga Herman Van Rompuy. Mas ele só assume suas funções na prática a partir de 1º de janeiro, como parte de um acordo para permitir que a Suécia exerça o seu atual mandato na Presidência rotativa do bloco até a data originalmente prevista.
Economista de formação e membro do partido democrata-cristão, Van Rompuy representará os quase 500 milhões de cidadãos da UE nas cúpulas internacionais e presidirá as reuniões de chefes de Estado e de governo europeus em Bruxelas, além de informar o Parlamento Europeu sobre as conclusões dessas reuniões.
Nova diplomacia
Já a chefia da diplomacia europeia será assumida pela britânica Catherine Ashton, que deixa a carteira de Comércio na Comissão Europeia (CE, o braço Executivo da UE) para substituir o espanhol Javier Solana, quem esteve durante dez anos no cargo.
No entanto, Ashton ganha uma função com poderes ampliados pelo Tratado de Lisboa. O novo Alto Representante europeu será também comissário de Relações Exteriores e vice-presidente do Executivo, além de responsável pelo novo Serviço Europeu de Ação Exterior, um corpo diplomático dotado de um orçamento de 50 bilhões de euros e cerca de 5.000 funcionários.
Ashton toma posse nesta terça-feira, mas só assumirá plenamente suas funções depois de ser submetida ao voto do PE, previsto para a sessão plenária da semana de 11 de janeiro.
Na véspera da entrada em vigor do acordo, o deputado socialista italiano Gianni Pitella resumiu a opinião que prevalece pelos corredores de Bruxelas sobre o Tratado de Lisboa: "Não é o acordo ideal, mas contém modificações fundamentais que nos permitirão tirar a UE do limbo institucional".
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