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Politica Brasil
Quinta - 29 de Outubro de 2009 às 08:39
Por: Kleber Lima*

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Diz o ditado que em terra de cego, quem tem olho é rei. A validade de tal ensinamento da sabedoria popular parece absolutamente atualizada quando observamos os espaços que o deputado Percival Muniz vem cavando na mídia. Fazendo o básico do elementar do trivial, Muniz está em todas, de site a televisão, ocupando espaços valiosíssimos. Ponto pra ele, por um lado.

Mas, por outro, tal fato nos remete à incrível sensação de que um deserto de sol escaldante e ventos uivantes se sobrepôs à Assembléia Legislativa, em particular, e sobre a política mato-grossense em geral. Salvo raríssimas e honrosas exceções, a pobreza de espírito domina, produzindo debates absolutamente áridos e estéreis. Deveríamos ter acreditado quando o então conselheiro do TCE Júlio Campos nos alertou desse fenômeno da política pantaneira, justificando dessa forma sua tentativa de retorno à atividade (hoje o sabemos, tentativa malograda).

Já vi de perto muitos políticos atuando. Até mesmo seus ‘defeitos’ os tornavam mais especiais e qualificados que a maioria dos de hoje em dia. Vi os irmãos José e Márcio Lacerda, o primeiro como deputado estadual e o segundo como senador e vice-governador. Vi os barra-garcenses Antonio Joaquim e Humberto Bosaipo, coincidentemente ambos no TCE hoje em dia. Vi Gilney Viana e Serys Slhessarenko (na Assembléia Legislativa). Vi Moisés Feltrin e Paulo Moura, aparentemente estranhos no ninho, mas altamente qualificados na arte do legislativo (até hoje nunca mais encontrei alguém mais especializado em Regimento Interno que o Paulo Moura, exceto Dona Nadir e Dr. Chico Monteiro, certamente). Vi Luiz Soares em seu gabinete com paredes de vidro, com seus tênis e calça jeans. Vi Carlos Brito, o mineiro mais nervoso de toda ‘as Minas Gerais’, com sua extraordinária capacidade de percepção e perspicácia. Vi Nico Baracat e Dito Pinto, adversários ideológicos renhidos, que, entretanto, se uniam como irmãos, quando o assunto era defender o seu Reino Unido da Várzea Grande.

Enfim, vi outros ainda, e claro que nenhum deles era perfeito. Mas, todos eles, sem exceção, justificavam mais sua presença na Assembléia Legislativa.

Dos de hoje, excetuando-se José Riva, conta-se nos dedos de uma mão aqueles que conseguem se sobressair. Mesmo correndo todo o risco de ser declarado persona non grata pelo plenário, eu destacaria poucos, a exemplo do simpaticíssimo Hermínio Jota Barreto, do estrondoso Roberto França, do articulado Guilherme Maluf, dos herméticos Otaviano Pivetta e Alexandre Cesar, e, claro, do esperto Percival Muniz, o rei do factóide.

Alguns são suplentes e não tiveram ainda tempo para aprender o caminho das pedras, pelo menos não como os demais, ou não têm tanta autonomia por causa dos titulares de seus mandatos. Merecem essa ressalva, a meu ver, o pastor Antonio Brito, o médico Antonio Azambuja, o radialista Nilson Santos e até mesmo a militante social Vilma Moreira. Já outros são ruins mesmo, não tem muito que explicar não.

O problema é que se for verdade que o parlamento é uma representação fiel da sociedade – e a cada dia me convenço mesmo que é verdade sim – esse artigo deixa de ser uma crítica e passa a ser uma autocrítica.

Percival Muniz se aproveita desta aridez para impor seu estilo de fazer política. Bastou o Tribunal de Contas perdir-lhe desculpas pelo erro que motivou a cassação de seu mandato, para ele sentir seguro de si, sair da casca e mostrar à opinião pública sua verdadeira capacidade política.

Aproveita-se também da omissão de muitos de seus pares para diferenciar-se. É exatamente esse o caso, por exemplo, da CPI da Saúde, criada por sua iniciativa para investigar o chamado caos do setor em Cuiabá. Nem mesmo Várzea Grande entrou no objeto da CPI, conforme reclama Maksuês Leite. E hoje, depois de ler que o governo estaria tentando tirar Percival da presidência da CPI, possivelmente porque o prefeito Wilson Santos fingiu que gostou da iniciativa, vejo que estamos todos muito cegos, e que Muniz ainda vai reinar por muito tempo.

(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br





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