Bolas murchas – 2
Avaliar o desempenho político dos outros é a melhor coisa do mundo. Meu amigo e ex-sócio Geraldo Gonçalves costuma dizer, parafraseando alguém cujo nome me escapa, que “fazer crítica é tão bom que não deveria ser privilégio da oposição”. É verdade. Ainda mais quando situação e oposição disputam acirradamente quem é mais capaz de pisar na bola, cometer gafes e inspirar críticas. Neste quesito, delicia-se em particular quem tem por ofício analisar os bastidores da política. Tanto faz quem é oposição e quem está do outro lado. Nesse caso, a crítica não tem lado, ou, dito de outra forma, não tem compromisso com lado nenhum, ainda que seja sabido que nada em política é absolutamente neutro.
Veja-se esse novo caso envolvendo o prefeito Zé do Pátio. Ele parece ter orgulho de algo pelo qual deveria sentir vergonha: a infidelidade partidária. Segundo o site RDNews, Pátio, do PMDB, chegou a chorar de emoção no último sábado quando declarou apoio eleitoral ao prefeito Wilson Santos, de Cuiabá, do PSDB, durante comício tucano em Rondonópolis. Pátio sente-se devedor de Santos por causa das eleições do ano passado, quando o tucano o apoiou.
Incrível como há uma inversão de valores nessa história. Wilson Santos não fazia favor ao apoiar Pátio, uma vez que o PSDB indicou Marília Sales candidata a vice, numa chapa que era favorita. Mas, Pátio se acha devedor do lucro que proporcionou ao PSDB. Ingenuidade ou malandragem?
O choro de Pátio deveria ser de vergonha e não de júbilo. É infidelidade partidária apoiar candidato de outro partido quando o seu próprio partido possui candidato. Não tem nada de bonito nem de virtuoso na infidelidade partidária. Ao contrário, se o político trai o próprio partido, que garantias tem o povo de que não será igualmente traído?!
Para justificar sua infidelidade, Pátio se apóia no fato de não ter tido o apoio de Silval Barbosa na sua eleição a prefeito no ano passado. Silval Barbosa já disse em rodas miúdas – e não se sabe por que não o diz publicamente – que fez um acordo com o correligionário ano passado, que lhe ajudou com estrutura e que só não subiu em seu palanque a pedido do próprio Pátio, que mantinha uma guerra de ódio contra o governador Blairo Maggi. E o ódio cega, a ponto de ele achar que Silval em seu palanque seria o mesmo que Maggi, e lhe tiraria o discurso.
Em março desse ano, durante encontro do PMDB no hotel Odara, em Cuiabá, Carlos Bezerra confirmou publicamente a versão de Silval, e disse que ele próprio não subira no palanque de Zé do Pátio a pedido do mesmo, que achava que sua presença o prejudicaria eleitoralmente.
No tiroteio interno do PMDB, no entanto, a opinião pública parece não ouvir o que diz Barbosa nem Bezerra, mas apenas o que diz Zé do Pátio. Indicador de que Wilson Santos, apesar da crise do PAC e do caos na saúde, está vencendo a primeira batalha contra Silval, que é exatamente a guerra de comunicação. E por três motivos básicos: 1) Wilson Santos é melhor em factóide de que Silval; 2) o grupo político do tucano é mais orgânico e está jogando junto; e 3) a máquina do Palácio Alencastro está sendo mais efetiva na sua relação com a imprensa e influência da opinião pública do que a máquina do Palácio Paiaguás.
Por essas e outras, o troféu de bola murcha da rodada vai para Zé do Pátio, um misto de bobo útil e malandro disfarçado. Mas terá que dividi-lo com Carlos Bezerra por aquela tentativa marota de se esconder da imprensa após reunião com Maggi na última segunda, como denunciou a bela foto de Chico Ferreira no jornal ‘A Gazeta’.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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