Serys e aliados do PT enterram processos contra Sarney
A frase "Me envergonha estar no PT", dita pelo senador Flávio Arns (PR) nesta quarta, no dia em que, sob intervenção direta do Palácio do Planalto, a bancada petista deu os votos necessários para arquivar todos os processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética, traduz o sentimento popular sobre um partido que perdeu o que tanto pregava no passado: ética, decência e transparência.
Nunca petistas se mobilizaram na cúpula para salvar um aliado, inclusive a senadora mato-grossense Serys Marly, que ainda sonha em reconquistar mandato nas urnas de 2010. Serys, que faz parte da Mesa Diretora, ouviu calada as defesas pela manutenção de Sarney. A ordem para não fazer alarde e ajudar a salvar o peemedebista veio do presidente Lula, transmitida por Gilberto Carvalho. Até mesmo o diretório nacional do PT, presidido por Ricardo Berzoini, emitiu nota em defesa do sepultamento definitivo de investigações contra o presidente do Senado. Os 11 processos contra o peemedebista foram mantidos arquivados pelo placar de 9 a 6 em duas votações. Entre as acusações contra ele estava a de usar o cargo para cometer irregularidades como a nomeação e exoneração de parentes por atos secretos.
O discurso de Flávio Arns, com a frase "Me envergonha estar no PT", completou o desastre de um partido que, a exemplo dos demais, como PSDB, PP e PMDB, tomou gosto pelo poder e vive sob acordos e conchaves. Muitos senadores votaram fora do microfone, visivelmente constrangidos. Eles aproveitaram para arquivar também, em definitivo e por unanimidade, o processo contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). O PMDB foi o autor da representação contra o tucano e, mesmo assim, deu seus três votos para arquivá-la. Entre as denúncias estava a de que ele manteve funcionário fantasma no seu gabinete.
A posição dos petistas no Conselho de Ética transformou o PT em alvo das críticas e expôs publicamente o racha do partido no Senado por conta da interferência presidencial. O peemedebista Pedro Simon (RS) não perdoou: "O PT abraçou Sarney e Collor", destacou, ao lembrar que a senador Marina Silva, envergonhada, deixou a legenda petista, assim como Arns. "O PT arrebentou hoje sua história", cutucou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Alguns petistas recorrem ao argumento de que, se o partido não votasse com Sarney, haveria o risco de um rompimento com o PMDB, criando dificuldades para a governabilidade e atrapalhando a aliança para eleger a ministra Dilma Rousseff sucessora de Lula. Após a sessão, Sarney se reuniu com aliados. Do líder do PMDB, Renan Calheiros, ouviu que ele espera que a oposição entenda a votação unânime a favor de Arthur Virgílio como uma trégua. Caso contrário, a tropa de choque governista retomaria a guerra. A oposição promete recorrer no plenário do Senado da decisão do Conselho de Ética de arquivar as 11 denúncias contra Sarney. A Consultoria da Casa, no entanto, já elaborou parecer no qual informa que não cabe recurso, pois a questão se esgota no Conselho.
Apesar do arquivamento das denúncias contra Sarney no Senado, outras investigações continuam. O Ministério Público Federal do Distrito Federal apura de quem eram as ordens para que os atos administrativos não fossem publicados. Já o Ministério Público Federal no Maranhão investiga a Fundação José Sarney em razão da suspeita de que ao menos R$ 500 mil dos recursos repassados pela Petrobras à entidade tenham sido desviados para empresas fantasmas e empresas da família do senador -outro fato que o Senado optou por não investigar.
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