Lula defende investigação de Sarney e diz que não se pode cassar por "asfixia"
"Em vez de ficar querendo cassar as pessoas por asfixiamento, se investigue corretamente e depois pune. Porque quem puniu vai ficar satisfeito porque agiu corretamente e quem foi punido não vai ficar com raiva porque teve uma investigação correta", afirmou Lula em entrevista à rádio Itatiaia, em Belo Horizonte.
O presidente disse ainda que é o seu "senso de Justiça" que o faz defender um julgamento após uma investigação correta. "Eu não quero pra mim, eu não para o presidente Sarney eu não quero pra você e para nenhum brasileiro o julgamento precipitado sem que haja as investigações corretas", disse.
"O presidente Sarney está sendo acusado de muitas coisas [...] e dá a impressão que é apenas o presidente Sarney [o culpado]. Dá a impressão que essa é uma coisa que começou ontem, e é uma coisa histórica no Senado brasileiro", afirmou.
Apesar do apoio do presidente, cresce no Senado a pressão para que Sarney deixe o cargo. Governistas trabalham nos bastidores para convencer o peemedebista a renunciar ao cargo caso decida realmente se afastar do comando da Casa. A base aliada do governo no Senado quer evitar que, numa eventual licença temporária de Sarney, a oposição fique com a presidência da Casa por até 120 dias.
O regimento interno do Senado prevê que, se Sarney se licenciar temporariamente da presidência, o cargo será ocupado pelo primeiro vice-presidente, senador Marconi Perillo (PSDB-GO). A renúncia, ao contrário da licença, obriga a realização de uma nova eleição na Casa no prazo máximo de cinco dias --o que permite a escolha de um nome ligado ao Palácio do Planalto para o cargo máximo do Legislativo.
Nos bastidores, ganha força o nome do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) para disputar a presidência do Senado com a saída definitiva de Sarney. Dornelles tem o apoio de líderes peemedebistas que sabem das dificuldades do partido para conseguir consenso dentro da bancada. Além disso, ele é considerado um parlamentar com trânsito dentro do PT e da própria oposição.
Acusações
O Conselho de Ética do Senado já reúne 11 acusações contra Sarney. São cinco representações por quebra de decoro parlamentar --três apresentadas pelo PSDB e duas pelo PSOL-- e seis denúncias --quatro protocoladas pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) e outras duas dele com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
O partido defende que o Conselho de Ética da Casa investigue denúncia de que Sarney omitiu da Justiça Eleitoral uma propriedade de R$ 4 milhões, além da acusação de que o parlamentar teria participado do desvio de R$ 500 mil da Fundação José Sarney.
Na outra representação, o PSOL pede para o conselho investigar Sarney pela edição de atos secretos que teriam beneficiado parentes e afilhados políticos para a instituição.
As ações do PSDB tratam do suposto envolvimento do senador com os atos secretos, da suspeita de que teria interferido a favor de um neto que intermediava operações de crédito consignado para servidores do Senado e de ter usado o cargo a favor da fundação que leva seu nome e mentido sobre a responsabilidade administrativa pela fundação.
As denúncias pedem investigações sobre a acusação de que o presidente do Senado estaria envolvido em vendas de terras sem o pagamento de impostos, assim como teria recebido supostas informações privilegiadas da Polícia Federal em inquérito que investigou seu filho, Fernando Sarney.
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