Cristovam: Lula indica fim de blindagem a Sarney
"A crise no Senado não é problema meu". Foi assim que o presidente Lula reagiu, nesta quinta-feira, 30, quando questionado sobre as denúncias contra o senador José Sarney (PMDB-AP). Prosseguiu o presidente, na coletiva com a chilena Michelle Bachelet, em São Paulo: "Eu não votei no Sarney. Quem tem de resolver é o Senado, não sou eu".
Nos contornos gestuais e verbais da resposta a jornalistas, sentiu-se uma mudança nada sutil do comportamento do Planalto na condução da crise no Senado. Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a ênfase de Lula mostra que "acabou a blindagem do governo" ao presidente da Casa.
- Eu encaro essa declaração de Lula como um pedido de desculpas por ter interferido no Legislativo, afirma o congressista. - É como se ele chegasse e dissesse: 'eu errei' - avalia.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) acompanhou o discurso presidencial e revela sua intuição:
- Olha, eu acho que ele tem consciência de que o presidente Sarney precisa responder sobre diversos fatos relevantes que aconteceram no Senado e que foram objetos de representações.
Suplicy transmitiu seu posicionamento a Lula. "Ele está consciente de que a maioria dos 12 senadores tem recomendado a Sarney que se licencie da presidência e tome a iniciativa de comparecer, na semana próxima, ao Conselho de Ética. Minha posição pessoal é que o faça antes mesmo de o senador Paulo Duque decidir se vai arquivar ou não", completa o senador petista.
Cristovam Buarque se mostra disposto a retirar o voto de censura a Lula, apresentado no Senado, caso o presidente mantenha a fala desta quinta-feira. "Se depender de mim, vou apresentar a ideia aos outros senadores que assinaram o voto de censura", diz. Buarque pondera:
- O problema é que Lula está indo e vindo. Quem sabe se amanhã ele não declara que é dono do Senado?
Na mesma ocasião, Lula disse que os senadores aproveitariam o recesso parlamentar para voltar ao trabalho "de cabeça fria". Não é o que pensa Cristovam, que anda medindo a temperatura diariamente em Brasília, onde passa as férias.
- A cabeça dos senadores está esquentando cada dia mais...
Ato secreto
O senador Eduardo Suplicy esclarece que pediu a anulação de um ato secreto assinado por ele quando exercia a suplência da mesa. "Um dia o secretário-geral pediu que eu assinasse um decreto que não era claro. Provia para o diretor-geral do Senado que estivesse há dois anos ou mais nessa função o direito a assistência de Saúde do Senado. Eu próprio, tomando conhecimento desse ato secreto de 2000, propus à mesa diretora que fosse anulado, e foi", explica o petista.
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