Politica com tempero: Então, governador? Qual é a sua?
Passado esse momento maravilhoso, cheio de orgulho saí à rua, fui andar pela minha cidade, rever amigos e sentir o clima que domina Sinop com toda a confusão política pela cassação do prefeito Juarez Costa. E a grande pergunta que surge em cada roda de conversa é se ele será ou não mantido no cargo, após o julgamento do recurso interposto por seus advogados junto ao TSE. O que a grande maioria deseja é que ele fique. Afinal foi eleito por quase setenta por cento dos votos válidos. Mas se for pra haver nova eleição, que ela seja o quanto antes marcada. O que não pode é prevalecer a sensação de ausência de poder legitimado, que hoje começa a tomar conta da cidade.
E no transcurso de várias conversas com vários segmentos, senti lá também o que tenho sentido em Cuiabá e Brasília, quando o assunto é política e entra em cena o governado Blairo Maggi. Para muitos, a mistura de ingredientes e temperos que fervem na cozinha do Palácio Paiaguás é a formulação de uma receita jamais tentada por aquelas bandas. Sem previsão de resultado.
O que deseja Blairo, afinal? Num instante diz que entrega o governo com um ano de antecedência do final. Vai cuidar das suas empresas. Diz que não disputa nenhum cargo em 2010, mas admite disputar em 2014. Sabe que fim de governo é hora também das cobranças das coisas prometidas e não realizadas. E isso pode ser revelado em recado das urnas. Com Dante foi assim...
Que político é esse que depois de assumir a responsabilidade de um estado por dois mandatos de governador, olha-se no espelho e diz vou parar. Se der vontade, volto lá na frente. Aí tem. Há muito mais condimentos nesse caldeirão do que está sendo mostrado, pois quando um dia, lá atrás, resolveu que entraria para a vida pública, renunciou, implicitamente, à vida pessoal e já não tem mais o direito de simplesmente jogar a toalha.
Em política não há espaços vazios. A briga pela ocupação do vácuo de poder, às vezes, é sanguinária. Quando afirmou que não disputaria o Senado, a fila andou e Wellington Fagundes assumiu o posto, com todo o direito e toda a pompa. Por merecimento, inclusive, por tudo que tem feito pelo PR.
Planta-se na mídia que Blairo já teria assegurado um cargo de ministro no último ano de governo do presidente Lula. E foi só este dizer em Alta Floresta, num momento de elogio político, que Blairo tem capacidade pra ocupar qualquer cargo nesse país, homenagem semelhante de que fora alvo nas palavras do presidente Obama, quando o presidente americano disse que Lula era “o cara”. Isso, por si só não assegura ao governador o cargo sonhado. Aliás, sonhado mesmo é a vice presidência, mas, parafraseando Drumond, no meio do caminho tem uma motosserra, tem uma motosserra no meio do caminho.
A briga por um ministério, mesmo que em fim de governo, é algo que ninguém sabe como termina. As alianças para a eleição de 2010 é que formarão a composição do ministério remanescente e não apenas a vontade de um presidente que, se pudesse, teria a seu lado, até hoje, José Dirceu e alguns outros.
Assim, não se sabe qual será o papel do governador em 2010. Vai jogar pesado pelo seu vice, mesmo seu partido, o PR, dizendo que há nomes como Mauro Mendes e Adilson Sachetti que podem substituí-lo? Isso sem contar que ao bancar Silval Barbosa vai acirrar a luta pelo comando do PMDB no estado. Carlos Bezerra não sendo “o pai da criança”, não será seu mais fiel escudeiro, isso significaria abrir mão do comando partidário no estado. Duvido.
Quem é, afinal, o comandante do processo pelos lados da situação? Como montar um projeto de poder, com partidos aliados deixando de fora logo nas conversas iniciais o presidente da Assembléia Legislativa que se gostando dele ou não detém o maior poder político no estado?
E o PT? PT que tem a candidata que salvo acidente grave de percurso pela sua saúde, já está no segundo turno com José Serra. Que papel a ele está reservado nesse banquete? Vice? Senado?
Qual o gesto – e eles são fundamentais em política – feito pelo governador, para trazer de volta o DEM, parceiro de primeira hora da primeira campanha, que teve, inclusive, o saudoso Jonas Pinheiro reconhecido como seu padrinho político? Nenhum. Hoje, aparentemente, o DEM já dança agarradinho com o PSDB.
Enquanto isso, como já tratei em artigo anterior, o jogo já está sendo jogado. As peças se movem com rapidez e outras iguarias estão sendo manipuladas em outras cozinhas.
O PSDB, que tem o prefeito da capital reeleito, trabalhando dia e noite para substituir Blairo Maggi e reconquistar o governo que deixou a “a casa arrumada” com Dante de Oliveira, acredita que com a aliança já consolidada com o DEM em nível nacional, superará facilmente as dificuldades de enquadrar os deputados estaduais de ambos os partidos.
Não se pode servir a dois senhores. Ou se é oposição ou se é governo. Antero, na semana passada deu o tom: O PSDB não tem deputado estadual: muito mais um puxão de orelhas pra mostrar a Chica Nunes, Guilherme Maluf e outros que, logo ali na frente, quem não estiver enquadrado corre o risco de não ter legenda. E disso ele entende bem, desde os velhos tempos do PDT.
Afinal chegou a hora das finalizações. E qual é na verdade, no meio de tampas panelas, caldeirões, frigideiras e tantos outros instrumentos culinários, o papel efetivo do Grande Chef?
* Ricarte de Freitas é advogado e ex-parlamentar estadual e federal por Mato Grosso. ricartef@gmail.com
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