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Meio Ambiente
Domingo - 30 de Junho de 2013 às 22:31
Por: Karina Toledo

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A Caatinga é considerada por especialistas o bioma brasileiro mais sensível à interferência humana e às mudanças climáticas globais. Apesar disso, apenas 7,5% de seu território está protegido em Unidades de Conservação (UC) e apenas 1,4% dessas reservas são áreas de proteção integral.


 
O alerta foi feito pelo biólogo Bráulio Almeida Santos, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), durante o quinto encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, organizado pelo Programa BIOTA-FAPESP no último dia 20.


 
"A região Nordeste tem 364 reservas registradas no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação [CNUC]. Apenas 113 [ou 31%] têm como objetivo proteger a Caatinga, embora esse bioma seja predominante em todo o semiárido brasileiro. É uma contradição que precisa ser revertida", afirmou Santos.


 
Ainda segundo o levantamento feito pelo biólogo, quase metade das 113 UCs são particulares e apenas 9% delas têm plano de manejo. Na avaliação de Santos, a situação reflete a ideia errônea, porém disseminada durante muito tempo, de que a Caatinga seja um bioma pobre, homogêneo e no qual não há "quase nada a ser preservado".


 
"A Caatinga sempre foi o patinho feio dos biomas brasileiros. Em primeiro lugar, vem a preocupação com a Amazônia, a mata Atlântica e o Cerrado. A imagem da Caatinga é a do solo rachado e a do gado morrendo de sede, mas é a região semiárida com a maior biodiversidade do mundo."


 
Espécies desconhecidas


 
As espécies da Caatinga, no entanto, ainda são pouco conhecidas. Cerca de 41% do bioma nunca foi amostrado.


 
Até o momento, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, foram descritas na região 932 espécies de plantas, 241 de peixes, 79 de anfíbios, 177 de répteis, 591 de aves, 178 de mamíferos e 221 de abelhas. No caso da flora, mais de 30% das espécies descritas são endêmicas, ou seja, não ocorrem em nenhuma outra região do mundo.


 
O índice de endemismo chega a 57% no caso dos peixes, 37% no caso de lagartos, 12% dos anfíbios e 7% das aves, segundo dados apresentados por Adrian Antonio Garda, do Centro de Biociências da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), durante o evento.


 
"O número de espécies descritas pode parecer pequeno quando você compara com os outros biomas brasileiros. Quando você compara com as regiões desérticas mais bem estudadas da América, a Caatinga apresenta bem mais do que o dobro do número de espécies e com altos níveis de endemismo. Isso apesar de mais de 40% do bioma nunca ter sido inventariado", disse Garda.


 
Na avaliação de Santos, falta massa crítica dentro das universidades e de institutos de pesquisa locais para ampliar esse conhecimento e difundi-lo entre e os formuladores de políticas públicas. Também é preciso derrubar o mito de que a Caatinga esteja pouco alterada, defendeu Santos. Estima-se que tenha sobrado apenas 54% do bioma. Os Estados que mais desmataram foram Bahia, Ceará, Piauí e Pernambuco.


 
"Mas, ao contrário do que acontece no caso da mata Atlântica, não sabemos com precisão o que já se perdeu do bioma e como estão distribuídos os fragmentos restantes. Do ponto de vista da conservação, é fundamental saber se são muitos fragmentos pequenos ou poucos fragmentos grandes para pensar em como reconectar as paisagens", disse Santos.


 
Reverter a perda de hábitat na Caatinga, no entanto, não é tarefa simples, explicou o pesquisador da UFPB. A escassez de água na região dificulta a fotossíntese e faz com que o bioma apresente uma resiliência muito pequena à interferência humana.


 
Ameaças


 
O principal fator de degradação da Caatinga hoje é, segundo Santos, o desmatamento praticado para obtenção de lenha e de carvão vegetal. Cerca de um terço da lenha cortada é para uso residencial. A maior parte do carvão vai para siderúrgicas e para os polos de gesso e cerâmica do Nordeste.


 
O biólogo também citou como ameaças o uso indiscriminado de fogo em práticas agropecuárias, a introdução de frutas exóticas à região e as criações extensivas de caprinos, ovinos e bovinos. Outra importante ameaça, por mais contraditório que pareça, é o uso excessivo de água para irrigação agrícola.


 
"Na Caatinga, naturalmente, chove pouco e o solo é compacto e duro. Em vez de a água ser rapidamente absorvida e conduzida para o lençol freático, ela se acumula e traz os sais e os nutrientes existentes no solo para a superfície. Quando a água evapora, ocorre a salinização do solo, o que compromete a vegetação e a agricultura", explicou Santos.


 
De acordo com o pesquisador, já existem na região núcleos de desertificação – áreas com alto grau de degradação ambiental onde o solo está exposto e exibe alto grau de erosão, há pouca diversidade biológica e pouca cobertura vegetal.


 
"O polígono de maior risco de desertificação no Brasil está no Nordeste. Por já ser naturalmente uma região semiárida, a Caatinga é o bioma mais ameaçado pelas mudanças climáticas. À medida que o planeta esquenta, o déficit hídrico, que já é grande, tende a crescer", alertou.


 
Luciano Paganucci, do departamento de Ciências Biológicas da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), apresentou um panorama sobre a flora da Caatinga, falando sobre sua origem, evolução e as respostas adaptativas desenvolvidas para lidar com a falta d"água.





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