Vereador se esconde atrás de armário para não ser preso
O último vereador suspeito de envolvimento em um esquema que exigia dinheiro da Prefeitura de Igarapava, a 446 km de São Paulo, para facilitar a aprovação de orçamentos e projetos foi preso na manhã desta quinta-feira (19).
O vereador, que ocupa o cargo de presidente da Câmara, passou a noite escondido atrás de um armário em uma das salas da prefeitura. Ele estava foragido desde a tarde de quarta-feira (18), quando a polícia prendeu outros quatro vereadores suspeitos de envolvimento no crime. Na tarde de quarta-feira, a população se reuniu em frente à delegacia para gravar imagens dos presos e protestar.
Há quinze dias o Ministério Público vem investigando a denúncia de que os cinco vereadores pediam dinheiro para aprovar os projetos do prefeito. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram que eles pediam R$ 5 mil para cada parlamentar nos primeiros dois meses. Depois, as parcelas subiriam para R$ 7 mil.
Como a Câmara tem nove vereadores - o município tem 25 mil habitantes -, os cinco garantiriam a maioria para aprovar qualquer projeto que o prefeito enviasse para votação.
Nas casas dos vereadores, a polícia encontrou armas, munição e mais de R$ 800 mil, entre cheques e dinheiro. O delegado Clóvis Rodrigues, acredita que a quantia não é proveniente da prefeitura.
Transcrições
Nas ligações transcritas pelos promotores, os vereadores prometem aprovar também as contas da prefeitura. O documento apresentado nesta quinta-feira pelos promotores mostra como eram feitas as negociações entre o prefeito Francisco Molina e o grupo de vereadores da cidade.
Nele, estão registradas as transcrições de conversas gravadas sobre uma suposta cobrança de propina, para a aprovação das contas da prefeitura no exercício de 2006 e projetos de lei do Executivo.
Em um dos trechos da conversa, um dos vereadores afirmava que queria o dinheiro depositado na conta para não incomodar o prefeito. O valor da propina seria de R$ 16 mil no total. Em seguida, o vereador sugere que a retirada do dinheiro seja feita por ordens de serviço da prefeitura.
Em outra negociação o valor aumenta, sobe para R$ 20 mil, e o prefeito reclama do preço. O vereador explica que os R$ 16 mil eram referentes ao mês de março e que, a partir de abril o valor do pagamento seria de R$ 20 mil.
O prefeito se sente pressionado, mas o vereador diz que "a melhor opção para ele seria aceitar o acordo, para governar durante quatro anos de forma tranquila". O vereador diz também que a aprovação das contas seria imediata. Sobre esta questão, os promotores apresentaram um documento com as contas já aprovadas, antes mesmo da sessão na Câmara ser realizada.
Os promotores entenderam que o prefeito não teve participação no crime, por não ter pago o valor pedido pelos vereadores. Mesmo assim, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) vai encaminhar o caso à Procuradoria Geral para analisar a conduta de Molina, e também à Justiça, que deve apurar uma suposta improbidade administrativa.
Outro lado
O prefeito não foi encontrado nesta quinta-feira na cidade. Os advogados dos outros quatro vereadores presos entraram, ainda na quarta-feira, com o pedido de habeas corpus, mas até o início da noite desta quinta-feira ainda não havia uma decisão da Justiça.
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