Estou no caminho certo?
Nessa fase de início de governo - caso da maioria dos prefeitos no momento - é muito natural a insegurança de todo o staff sobre os rumos que suas ações os estão levando, ou a seu governo. As pressões por empregos e contratos consomem a sua capacidade de elaboração. O desconhecimento sobre a real situação da máquina deixada pelo antecessor** compromete sua capacidade de gestão. O mais comum, por esses e outros aspectos, é que nos primeiros meses os novos gestores não giram de fato, mas sejam atropelados pela própria máquina, que deve continuar funcionando como aparato estatal, independente da força política que a tente dominar. O que significa criar demandas naturais que precisam ser tratadas.
Depois de viver as primeiras semanas de pressão exaustiva e extenuante, com jornadas de trabalho que passam das 20 horas por dia, inclusive aos domingos e feriados, sem, no entanto se chegar a resultados muito palpáveis, então os gestores param e se perguntam: “Estou no caminho certo?”.
Tenho respondido a essa pergunta, e de modo mais corriqueiro nesses períodos de início de novo governo (inclusive em entidades, instituições), da mesma forma. “Depende de onde você quer chegar”.
A questão de fundo sobre o rumo de um novo governo ou projeto dependerá sempre dos objetivos estratégicos que se estabeleça. Sem saber onde se quer chegar, torna-se impossível avaliar – e o mais importante, ajustar – o caminho a seguir.
O novo governante possui de pontos fortes nesse período. Acabou de vencer as eleições. Independente da proporção de votos que conquistou, chegou ao posto pela vontade da maioria da população. Goza de credibilidade e conta com a esperança do povo. Essa lua-de-mel dura entre 90 e 180 dias. Depois disso a clientela começa a ficar impaciente.
O prefeito não pode se esquecer que chegou lá fazendo compromissos públicos, contidos em geral em seu plano de governo. Plano de governo é uma proposta apresentada durante a campanha. É fatalmente afetada pela necessidade de convencer os eleitores, a partir do que eles desejam. Mas, não é uma peça de planejamento. Seu desafio no início do governo, beneficiando-se do período da lua-de-mel, é transformar os sonhos do plano de governo em realidade administrativa. E o primeiro passo para isso é um bem elaborado planejamento estratégico de seu governo. A partir não mais do desejo subjetivo dos cidadãos, apenas, mas de suas necessidades concretas cruzadas com as possibilidades objetivas da máquina administrativa e das conjunturas econômica e política.
Ou seja, o planejamento estratégico dará ao gestor o seu destino final, em que pese as intempéries e percalços dos inúmeros caminhos que terá pela frente. Sabendo onde quer chegar, pode tomar atalhos ou dar voltas, acelerar o passo ou reduzir a marcha a cada encruzilhada, ajustar as velas em função da velocidade e direção dos ventos, deixando de ficar à mercê da maré.
Isso tudo vale para a gestão como um todo, inclusive para a comunicação. É comum, nesse quesito, gestores culparem a sua comunicação pelos baixos resultados de sua gestão. Entretanto, se a gestão não sabe onde quer chegar, a sua comunicação também não o saberá, e será, como toda a administração, errática e capenga.
**PS: Essa angústia por saber se os relatórios deixados pelo antecessor sobre a mesa do prefeito correspondem, de fato, à situação dos próprios públicos nunca vai se acabar. Não há governo de transição eficiente ao ponto de resolver essa situação. Mesmo em casos em que o sucessor pertença à mesma filiação política do antecessor, a verdadeira natureza da máquina leva no mínimo seis meses para ser completamente apreendida. Mas, há casos em que o sujeito passa quatro anos na prefeitura sem dominar a máquina, que, ao contrário, o domina o tempo todo. De todo o modo, é prática comum, se ainda bem que é assim, que ao chegar se faça uma minuciosa auditoria, pelo menos de na contabilidade, folha de pessoa, contratos e patrimônio. Para conhecer e se precaver de problemas futuros.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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