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Politica Brasil
Sábado - 24 de Janeiro de 2009 às 16:11

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No país que ocupa o segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas, um procedimento em especial está em posição de destaque em jornais e revistas desde o último dia 12 deste mês. E, ao contrário do que geralmente se espera, a intervenção em questão não foi publicada em páginas destinadas a reportagens sobre beleza, saúde, ou celebridades siliconadas que se preparam para o Carnaval. Foi no noticiário político que o já famoso lifting da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhou destaque.

Tamanho alvoroço sobre as mudanças na fisionomia da autoridade política que desfruta da alta confiança do presidente Lula pode ser atribuído a diversos fatores. O principal deles gira em torno da possível candidatura de Dilma à presidência da República em 2010. A plástica sinalizaria uma tentativa da ministra, batizada pelo presidente como “mãe” do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de parecer mais “simpática” aos olhos do eleitorado.

Dilma Rousseff exibe uma fisionomia nitidamente mais amena e menos sisuda do que a anterior. “Ela perdeu a cara de professorinha má”, compara, com humor, o marqueteiro político Carlos Brickmann.

Palavra de especialista

Aos 61 anos, a ministra se submeteu a ajustes nas pálpebras, nas maçãs do rosto e no pescoço. “Ela fez as pálpebras superior e inferior, e suspensão da cauda da sobrancelha. As bochechas foram levantadas para projetar a maçã do rosto, e ela também fez uma reposição da musculatura da face, o que cria uma espécie de ‘triangulização’ do rosto. O excesso de pele do pescoço também foi retirado, assim como o acúmulo de gordura debaixo do queixo. O resultado ficou muito natural”, elogia o regente do capítulo de cirurgia estética da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves.

Todo o procedimento, narrado acima pelo especialista, teve como objetivo suavizar as linhas da face da ministra, além do rejuvenescimento, claro. E, como se a plástica não fosse o bastante para inquietar jornalistas e políticos, Dilma mudou o corte e a cor dos cabelos – os fios estão mais repicados, modernos e em tom acobreado –, e aboliu os grossos óculos, antes, companheiros inseparáveis.

Em alta

Mudança tão radical no visual fez com que ela arrancasse elogios do presidente Lula e de seu vice, José Alencar. Outro que teceu comentários sobre o assunto foi o ministro das Relações Institucionais, José Múcio. “Ela deu uma arrumada”, disse.

Na mesma semana em que Dilma exibiu um rosto mais suave e criou burburinho nos corredores de Brasília, a Câmara dos Deputados anulou o adicional de especialização para servidores públicos, o novo plano de saúde para os servidores comissionados; e o Brasil concedeu asilo ao militante político italiano Cesare Battisti. Todos esses acontecimentos dividiram os olhares do público com as fotos do “antes e depois” da plástica da ministra, exaustivamente publicadas pela mídia.

Ela, desde então, não falou publicamente sobre o assunto. A assessoria de imprensa da Casa Civil nem confirma oficialmente a plástica, que, estima-se, leva cerca de quatro horas e custa entre R$ 14 mil e R$ 15 mil. “De todo modo, isso já teve um efeito positivo, por conta do espaço que ela ganhou na mídia. Ainda mais para a Dilma, que ainda é um nome pouco conhecido. É assim que avançam os personagens políticos”, interpreta o cientista político e sociólogo Antônio Lavareda.

Uma em 600 mil

Estima-se que pelo menos 600 mil plásticas sejam feitas anualmente no Brasil. Apenas no consultório do cirurgião Luciano Chaves, 80 procedimentos idênticos ao que Dilma foi submetida foram feitos no ano passado. “Ela fez o que cada vez mais mulheres fazem na idade dela. Independente da motivação, a cirurgia certamente teve um impacto positivo sobre a auto-estima. E um candidato confiante tem desempenho melhor”, aponta Lavareda.

“Mas talvez ela fizesse a plástica mesmo se não cogitasse a candidatura em 2010. Ou talvez a campanha tenha sido apenas um bom pretexto”, analisa o cientista político.

Mas o tamanho da repercussão da plástica da ministra é interpretado de diferentes formas. “Tenho a impressão de que essa mobilização toda deve-se ao fato de que ela é mulher, e isso me incomoda”, diz o especialista em marketing político Carlos Brickmann.

Ele vai além na análise. “O Quércia, quando foi governador de São Paulo [entre 1987 e 1991], fez uma operação, tirou metade do nariz e ainda sobrou nariz para caramba. E não se falou tanto sobre isso. Não há uma só pessoa que não saiba que os cabelos do senador José Sarney são pintados. Os dele e os de outros tantos parlamentares. Ninguém fala sobre isso”, sustenta.

Para Brickmann, o impacto da mudança na imagem de mulheres que circulam no meio político é infinitamente maior em comparação com o que ocorre com os homens. “Na posse na ministra Ellen Grace foi a primeira vez que ouvi alguém elogiar as pernas do presidente do Supremo Tribunal Federal. Durante toda a gestão dela falaram de sua elegância. Nunca ouvi nada parecido sobre o Gilmar Mendes”, ironiza.

Miss simpatia

Possibilidades à parte, os especialistas são unânimes quanto à importância da adequação da imagem de um candidato. O próprio presidente Lula é um exemplo disso. Na década de 1980 se exibia com barba volumosa, cabelos desgrenhados, blusas velhas e encardidas. Falava grosso, atropelava as palavras. Aparentava ser truculento. “O Lula fez mudanças cosméticas. Aparou a barba, passou a usar roupas de grife. Tornou-se uma figura mais afável”, pontua Carlos Brickmann.

A mudança chegou ao auge na campanha presidencial para 2002. Aliando marketing político, publicidade e estética, Lula emplacou uma imagem nova: a do “Lulinha paz e amor”.”O Lula trabalhou para adquirir uma imagem mais presidenciável. As pessoas esperam que, ao conquistar um determinado posto, você tenha uma aparência à altura dele”, pontua Antônio Lavareda.

Se a análise for guiada por esse viés, pode ser que os petistas estejam tentando repetir a estratégia em 2010, investindo no rejuvenescimento de Dilma. “Não existe estudo que assevere o impacto da beleza no eleitorado. Agora, que simpatia é importante para convencer o eleitor, qualquer um sabe”, afirma Lavareda.

Não há dúvidas de que a plástica deixou a feição da ministra mais amena, resta saber se as mudanças param no campo da estética.





Fonte: Congresso em Foco

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