Bosaipo salva Lutero, mas deixa TCE manchado

A frase lançada por Humberto Bosaipo "isso (tempo) é pouco para recuperar a dignidade de uma pessoa (Lutero Ponce)", logo na primeira intervenção que sofreu durante mais de duas horas de defesa da aprovação das contas do presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, colocou em xeque a atribuição do TCE e reforçou a suspeição de que o conselheiro agiu mais politicamente do que tecnicamente.

A principal atribuição dos sete conselheiros que compõem o Pleno é de exercer o controle externo, por meio da fiscalização da gestão dos recursos do Estado e dos municípios. Em cargos vitalícios, eles são bem remunerados. Ganham hoje R$ 22 mil mensais cada, mesmo subsídio de desembargador do Tribunal de Justiça, fora uma série de outros privilégios e regalias. O Tribunal recebe duodécimo anual superior a R$ 110 milhões. Fiscaliza algo em torno de R$ 13 bilhões.

Ex-deputado por cinco mandatos, Bosaipo enfrenta um "caminhão" de processos na Justiça. É acusado até de formação de quadrilha. Ele chegou à cadeira vitalícia de conselheiro do TCE há menos de dois anos. Nos bastidores, continua agindo politicamente, comportamento vedado pela Constituição. Bosaipo tem se esforçado, por exemplo, para eleger a sua "afilhada" política Lueci Ramos (PSDB) presidente da Câmara Municipal de Cuiabá. Graças a sua interferência, a vereadora já conseguiu apoio de outros sete colegas. Um dos apoios chama atenção. Trata-se do atual presidente do Legislativo cuiabano Lutero Ponce (PMDB), que teve as contas de 2007 aprovadas nesta terça, graças ao próprio Bosaipo, que atuou como advogado de defesa.

O relator-conselheiro Valter Abano havia apontado 20 irregularidades na gestão Lutero, muitas classificadas como graves, como contratação de empresas fantasmas pela Câmara. Em mais de duas horas de oratória, Bosaipo "desmontou" todas as denúncias, fez teatro e, no final, conseguiu com que o balancete fosse aprovado por 5 a 1.

A frase-resposta de Bosaipo (isso é pouco para recuperar a dignidade de uma pessoa), diante do alerta do presidente do TCE Antonio Joaquim no sentido de que este seja objetivo, foi excluída dos anais do Tribunal, mas ficou a mancha negativa de que a instituição, muitas vezes, tem um lado, assim como na vida político-partidária.