Teses e antíteses
Política é terreno fértil para a lucubração. Hipóteses brotam e desaparecem dos bastidores todos os dias, na mesma velocidade. O que acaba determinando a vida útil dessas hipóteses é o seu poder de alcance, o que nos remete à importância da imprensa globalizada como vetora das teses criadas em laboratório, ou simplesmente em uma conversa de bar.
Como política não é ciência exata, qualquer argumento pueril, mas inteligente, pode criar a impressão de que um raciocínio de fato é coerente e fundamentado.
Uma dessas teses (o correto mesmo é chute, porque mesmo a hipótese precisa ter fundamento, indícios, coerência, etc) é a de que Wilson Santos é o favorito ao governo do Estado em 2010, por ter ganho a reeleição em Cuiabá este ano. Seria, no dizer dos defensores de tal teoria, um candidato natural por essa única razão.
Sem dúvida estar no comando da prefeitura da maior cidade do Estado, e ainda por cima a sua capital, é uma boa razão para alguém despontar com possibilidade de disputar o governo do Estado. É o que acontece mais ou menos com o governador de São Paulo. Seja ele quem for, já passa a ser cogitado como candidato a presidente da República na eleição seguinte.
É o caso de José Serra, agora, líder absoluto nas pesquisas de intenção de voto (Datafolha de 08.12 o apontava com 41% da preferência, num cenário onde foi estimulado em confronto com Ciro Gomes, Heloísa Helena e Dilma Roussef. E 36% num outro onde se acrescentou o nome de Aécio Neves).
Mas, nem só de hipóteses vive a política. Há que se considerar também as teses e as antíteses, e sobretudo as circunstâncias.
Se Wilson goza da vantagem de ser prefeito reeleito de Cuiabá, possui algumas desvantagens também. Talvez a maior delas seja o encolhimento de seu partido, o PSDB, nas eleições deste ano. Outrora rei do pedaço, o PSDB elegeu apenas seis prefeitos e 79 vereadores em 2008 em todo o Estado. Conquistou, no geral, 304 mil votos, mais da metade em Cuiabá.
Essa atrofia tucana (não quiseram ouvir minha advertência, feita neste mesmo espaço em 10.10.07, sobre Wilson assumir a presidência regional do partido tendo pela frente uma campanha de reeleição) força o partido a buscar alianças para uma eventual disputa em 2010. Os seus aliados naturais, segundo a imprensa, seriam DEM, PPS PTB. Ora, juntos esses partidos conquistaram esse ano apenas 31 prefeitos, que representam 413 mil votos. Só o PR fez 427 mil votos. O PMDB outros 238 mil. Prevalecendo a aliança PR, PMDB, PT e PP, esses quatro partidos juntos obtiveram 950 mil votos. Uma grande vantagem comparativa também.
Há inúmeras outras. Wilson pode gozar o fato de ser referência a um governo de oito anos. No reverso, o candidato da aliança governista teria a seu favor a força dessa máquina azeitada.
Há tantos aspectos a se levar em conta que voltarei ao tema muitas vezes ainda. Por hora, no entanto, basta dizer que não há um nome francamente favorito ao governo do Estado em 2010, como tenta fazer crer a opinião simpática a Wilson Santos. O jogo está zerado. Luiz Pagot, Silval Barbosa e Carlos Abicalil, para ficar em apenas três nomes do espectro hoje governista, possuem igualmente muitos aspectos favoráveis e outros desfavoráveis.
E finalmente ainda não está determinada a circunstância em que as eleições de 2010 serão disputadas. Que partidos estarão juntos, quem será governo e quem será oposição? Blairo Maggi se desincompatibilizará para disputar o Senado? Aliás, haverá mesmo eleição em 2010?
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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