Votos e porcos acabam se misturando em Comodoro

A simples compra de porcos no município de Comodoro (a 630 km de Cuiabá) vem gerando muita polêmica e já resultou na cassação do diploma do vereador reeleito com a maior votação na cidade, Wanderley Fernandes (PPS), o Deley. Também motivou denúncia contra o prefeito eleito Marcelo Beduschi (PT).

A aquisição de porcos feita por Deley foi feita a Roque Santana Boaventura, que afirmou, perante ao juiz José Eduardo Mariano, ter recebido R$ 400 para que sua família trocasse 4 votos com o parlamentar. A venda de votos teria ocorrido depois da negociação de porcos, que terminou na aquisição de apenas um porco por R$ 50.

A cassação do diploma de Deley se deu na quinta-feira da semana passada, dia 20. O vereador agora aguarda o julgamento de um recurso para tentar garantir o mandato a partir de janeiro. O vereador nega ter comprado votos e se diz vítima de perseguição política montada pelo prefeito eleito. Assegura ainda que entregou os R$ 400 por sete porcos. "Fui bem votado nas duas últimas eleições. Não precisava disso para me garantir mais um mandato e agora como o mais votado. Além do mais, não faço esse tipo de coisa", rebateu ontem Deley.

Durante visita à sede do Grupo Gazeta de Comunicação, o vereador do PPS, acompanhado pelo atual prefeito Aldir Bal Marques Moraes (PR), ainda ressaltou a denúncia contra o prefeito eleito Marcelo Beduschi.

A denúncia se trata de uma ação de investigação judicial protocolada na terça-feira (25) na comarca de Comodoro, sob alegação de que, no mesmo depoimento no qual acusou Deley, Roque admitiu ter recebido a promessa do prefeito eleito de "ganhar" uma linha de transporte escolar na zona rural em troca de R$ 2 mil como doação de campanha. Esse tipo de escolha só pode ocorrer através de processo licitatório. Marcelo não foi encontrado ontem para comentar o assunto.

No depoimento que foi gravado pela Justiça, Roque diz textualmente que já entregou R$ 1 mil ao prefeito eleito e admite que fez isso com interesse em ficar com a linha de transporte escolar. "Não tem nada de errado a gente querer ganhar um dinheirinho, mas ninguém me ofereceu nada", afirma.

Diante da declaração, Deley quer atingir o mandato do prefeito eleito sob argumento de que, se o depoimento do vendedor de porcos serviu para lhe cassar o diploma, também deverá ser considerado pela Justiça agora. "Prometer qualquer coisa, além do mais sendo um serviço público, é crime. Isso é compra de votos", completa. Deley frisa ainda que, ao ser ouvida em depoimento, a esposa de Roque admitiu primeiramente que não ouviu nenhuma negociação de votos entre o marido e o vereador Deley. Ao ser informada que mudança do depoimento prestado perante à autoridade policial configura falso testemunho, ela confirmou a denúncia.